O McDonald’s vende quatro milhões de quilos de batata frita por dia nos seus 40 mil restaurantes espalhados pelo planeta. Um acompanhamento fundamental para os apreciadores da marca de fast food que se tornou famosa pelos hambúrgueres.
Em abril, um tiktoker norte-americano afirmava que as batatas eram cozinhadas em óleo com um ingrediente de carne, o que lhes daria o sabor especial que os fãs adoram. A empresa negou tudo, mas o vídeo tornou-se viral. Dois grandes grupos, vegetarianos e hindus, estão particularmente indignados pela mesma razão: não consomem carne de vaca e acreditam terem sido enganados.
O vídeo já ultrapassou 15 milhões de visualizações. Jordan Howlett, de 26 anos, fala sobre “os segredos das empresas de fast food”, mas nem por isso parece crítico do McDonald’s. Aliás, confessa gostar bastante dos seus hambúrgueres e batatas fritas.
“Sabem por que é que as batatas fritas do McDonald’s são diferentes de todas as outras?”, pergunta no vídeo. “Porque eles cozinham-nas misturando um aditivo que sabe a carne de vaca no óleo vegetal. É por isso que são tão boas.”
Com os muitos milhares de partilhas que se seguiram, a mensagem parece clara: estas batatas não são totalmente vegetais. Será assim? A multinacional garante que não.
O site português é taxativo na resposta à pergunta sobre o óleo usado. “Utilizamos óleo 100 por cento vegetal de colza e girassol de alto teor oleico, que é escumado [limpo de espuma e impurezas], filtrado e controlado diariamente.”
Ainda assim, não há qualquer explicação para o sabor distintivo deste acompanhamento. Nalguns sites da marca de outros países, há outras respostas que dizem, por exemplo, que nunca recorrem a batatas geneticamente modificadas e não usam conservantes para evitar que se estraguem. Sobre a polémica do momento, há um ponto específico com a pergunta-chave a aparecer preto no branco.
“Existe carne nas batatas fritas?”, pode ler-se. “Não. As nossas batatas são fritas em óleo 100 por cento vegetal em recipientes separados. Nunca entram em contato com qualquer produto com carne.”
A afirmação não é contestada por fontes credíveis, como organismos reguladores ou associações de defesa do consumidor. Logo, o assunto podia ficar por aqui. A notícia seria tão simples como dizer que o McDonald’s tem um problema de imagem, porque não consegue controlar as mentiras que se espalham nas redes. Contudo, a simplicidade é aparente.
As coisas complicam-se quando se conhece o histórico da empresa neste tema e aquilo que já fez com as suas batatas. O sabor a carne está lá, defendem especialistas isentos, mesmo que a carne não exista. Confuso? A ciência esclarece.
Até à década de 1980, a empresa usava de facto um aditivo de origem animal que era basicamente banha de vaca, adicionada ao óleo onde se fritavam as batatas. Em 1990, após protestos continuados de grupos organizados, nos EUA, defendendo que a mistura era nociva, o McDonald’s mudou para óleo inteiramente vegetal.
Uma alteração que tinha outra vantagem: era mais barato. Só que os clientes – a massa que devora milhões de batatas por dia – odiou. Para ultrapassar o dilema, chegou-se a uma solução: o óleo vegetal teria agora “natural beef flavor”, ou seja, “gosto natural a vaca”, um aditivo sem as gorduras prejudiciais da banha antes usada.
Um final feliz que agradaria a clientes e grupos de defesa do consumidor, mas já tinha um novo problema a caminho. A empresa foi processada em 2001 por um grupo de clientes vegetarianos e hindus que se disseram enganados por acharem que as batatas não possuíam qualquer vestígio real de carne de vaca. O aditivo, argumentaram, continha carne. O McDonalds fechou o caso com um acordo em que pagou perto de 10 milhões de euros.
Desde então, surge ciclicamente a acusação de que as batatas fritas têm carne, por mais que quem as vende o continue a negar. E quando os meios de comunicação pegam no assunto, falando com engenheiros químicos do ramo alimentar, a explicação tem sido similar: avançam que o “gosto natural a vaca” é um aditivo que contém trigo e leite, que depois passam por um processo de hidrólise.
O resultado tornou possível o que era improvável: as batatas sabem a vaca sem terem qualquer carne.