Para Michael Arruda, a confeitaria é paixão de família, daquelas que atravessaram gerações com receitas e histórias. Há cerca de uma década, este licenciado em Letras viu-se na gigantesca cidade de São Paulo, longe de casa. Por lá, não encontrava na metrópole os tais bolos com o toque caseiro, que a cada dentada traziam memórias e a família estava longe para satisfazer o desejo. “Comecei a pedir receitas à minha mãe para satisfazer o meu próprio paladar”, recorda à NiT.
Cada novo bolo trazia novas lições — e Michael aprendia rapidamente. Primeiro fazia por casa, depois começou a dar aos amigos para provarem. O passa-palavra foi crescendo e de repente já fazia bolos para festas e eventos. A convite de uma amiga a coisa tornou-se negócio em 2012. E a evolução continuou em crescendo.
Nos anos seguintes os pedidos continuaram a crescer, a presença em feiras gastronómicas despertou o interesse e a dada altura chegava o convite para abrirem um espaço num shopping. Disseram que sim. “Tinha uma funcionária e, de um dia para o outro, tinha uma cozinha com cinco funcionários”, recorda à NiT.
O negócio até não corria mal, mas os anos seguintes foram vividos com um toque agridoce. Michael ia perdendo o tal carinho, o gosto por estar horas sozinho a dedicar-se à confeção de bolos. “Ia perdendo aquilo que eu entendia como a confeitaria. Eu cresci com a ideia de que é algo remete *à memória”. O cenário era agora o de “linha de produção, automático” — e ele já era mais gestor do que pasteleiro.
Com a insatisfação a crescer, decidiu mesmo afastar-se do negócio em 2016. Foi uma decisão de quem sabia o que não queria. Longe da cozinha, voltou a dar aulas de inglês. A paixão pela pastelaria, no entanto, não se perdera. Michael continuou o seu percurso, agora mais com workshops, e foi mantendo a ideia de um dia voltar a investir.
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Em 2017, conheceu Jefferson: “Hoje em dia é, não só o meu sócio, mas o meu marido”. Foram viver juntos e adaptaram um espaço junto à casa para que Michael voltasse à cozinha. Ali voltava à confeitaria e dava workshops. Chamou-lhe Comfort Cakes. Na altura ainda não se imaginava em Portugal, mas voltava a estar só, na sua cozinha, concentrado no seu amor pela confeitaria.
O Brasil convulso dos últimos anos, “o cansaço da loucura de São Paulo, a polarização política no país”, tudo à sua volta começava a pedir mudança. Em 2019, arriscaram e vieram para Portugal. “Como tenho um Instagram onde gero bastante interação, continuei a dar cursos e a trabalhar por aí”.
O primeiro ano em Portugal foi de adaptação, burocracias, lançamento de ebooks de receitas. Com a pandemia, via-se obrigado a arriscar novo negócio. A Comfort Cakes voltava, agora já no Porto. Começou a mexer-se no Instagram, enviou algumas miniaturas a influencers, “e as pessoas começaram a pedir precisamente aquilo”. As tais miniaturas para dar a conhecer tornaram-se a principal identidade da Comfort Cakes. “A aceitação foi muito rápida”.
Estávamos no primeiro lockdown e o período foi “muito intenso” para Michael. Os pedidos sucediam-se, abrindo caminho à ideia de abrir um espaço físico. Com a colaboração de uma amiga, e já com um lugar em particular na mira há bastante tempo, a Comfort Cakes abriu finalmente. Foi 2 de dezembro, no número 260, da Rua Antero de Quental.
O primeiro mês e meio foi um sucesso. Veio o segundo confinamento mas o negócio mantém-se firme. Nesta altura há atendimento por delivery ou take-away. Pelo Instagram, é fácil de abrir o apetite de mil e uma maneiras com a explosão de cores e formas que nos abrem o apetite. “Têm um visual muito bonito”, admite, sem falsas modéstias. Há mini-bolos à fartazana mas também bolos recheados, para aniversários e eventos.
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Os mini bolos afetivos (3€), como são conhecidos na ementa, têm combinações certeiras, caso da maçã e canela, ou mais criativas, como chocolate e pistáchio. Tem ainda pedaços ou fatias (dos 2€ aos 4,5€) para descobrir de brownies, brigadeiro, cheesecake, entre outras opções., E, claro, se estiver no mood para um chá e uma tosta, também se safa (pelo menos quando o confinamento terminar).
Ainda assim, Michael admite que já estão curiosos por poder voltar a ter portas abertas. O espaço novo, físico, estava a começar a destacar-se quando teve de fechar. No entretanto, pode fazer encomendas por telefone, 927 553 738, ou via Instagram.
Quando reabrir, estão lá os mesmos três espaços, com diferentes ambientes à espera na Comfort Cakes. São um total de 42 lugares. Uma das salas senta cerca de 10 pessoas. Existe ainda uma segunda sala, “com um ar mais clean” e mais lugares, que futuramente será também lugar para aulas de confeitaria. Lá fora, está um espaço acolhedor que pede uma visita em família ou casal quando o bom tempo voltar (e a pandemia o permitir).
Até lá, Michael é novamente um tipo feliz entre bolos. As saudades existem sempre, mas a confusão de São Paulo está longe e ele apaixonou-se pela cidade do Porto. “Tem estado a dar certo”, reconhece à NiT. E percebe-se o motivo. A Comfort Cakes tem aquele toque infalível: combina um look visual que garante fotografias invejáveis e em cada dentada há mil e um sabores que trazem o tal gosto caseiro.
