A história da bebida mais famosa da cidade é antiga e remonta aos séculos III e IV. No entanto, se há vinho que testemunha a persistência cultural do empenho vitivinícola é, sem dúvida, esta, atravessando gerações de famílias. Atualmente, não há casa dentro e fora do País sem uma garrafa de vinho do Porto. As mais diversas caves do Douro têm-se esforçado para manter viva a história desta referência, enquanto tentam conquistar novos públicos. Visitar uma cave no coração da cidade é uma das formas de ficar a conhecer mais sobre o legado desta bebida. Fazer provas também está entre os requisitos. Mas já pensou em ser enólogo por um dia e criar a sua própria referência de vinho do Porto?
Esta é a nova aposta exclusiva da Churchills — a única casa britânica independente produtora de vinho do Porto na cidade. A marca dá vida às Blender’s Sessions, uma experiência imersiva que transforma os visitantes em protagonistas do processo de blending com acesso a bastidores até agora desconhecidos pelo público — para os curiosos e maiores apreciadores do universo do vinho e do blending, esta é a experiência certa.
“Quando pensámos em criar esta Churchill’s Blender’s Session procurámos desenvolver uma experiência que respondesse, num panorama turístico em constante evolução, à crescente procura por experiências autênticas, personalizadas e envolventes. Quisemos propor uma abordagem imersiva e interativa, inédita no setor do Vinho do Porto, que não só educa, como desperta curiosidade e promove uma ligação emocional com a marca e com o vinho”, começa por explicar à NiP, Ana Pinho, diretora de marketing da marca.
E acrescenta: “Esta experiência é um verdadeiro convite à descoberta e à experimentação. Acreditamos que esta proposta reflete o espírito contemporâneo e ousado da Churchill’s, honrando as tradições do Douro e do Vinho do Porto. Ao trazer esta faceta técnica e criativa para o centro da experiência enoturística, aproximamos os visitantes da essência artesanal da nossa produção e do estilo da casa, que o Johnny Graham fundou em 1981”, defende.
A sessão decorre nas caves da marca com uma vista soberba sobre o rio Douro e o centro histórico do Porto e poderá conhecer ao pormenor o processo de envelhecimento e blend dos vinhos do Porto Tawny na casa, com especial destaque para o Tawny 20 Anos, uma das referências mais premiadas da Churchill’s.
Depois de conhecer a história da família, conhecer as caves e armazéns — e ainda fazer umas provas, cada participante engarrafa, arrolha e rotula manualmente uma garrafa de 20 centilitros com o seu blend personalizado e leva para casa.
Como tudo começou
Em 1881, o tetravó de Johnny Graham viria a fundar a famosa marca de vinho do Porto, Graham’s. Passado quase um século, em 1971, a marca iria ser vendida a outra família britânica e Johnny, com 29 anos, viria a fundar dez anos depois a Churchill’s — considerando que não poderia utilizar o seu último nome para a marca, utilizou o da sua companheira, Caroline Churchill. E não, não tem nada a ver com a família do antigo primeiro-ministro inglês Winston Churchill.

A ambição do jovem Johnny era trazer um “estilo pessoal, mais seco e mais fresco” ao tradicional mundo do vinho do Porto, tal como explicou à NiP, Pedro Santos, um jovem de 30 anos com mais de uma década de experiência no vinho do Porto e que acompanhou a visita as caves da Churchill.
Johnny continua no comando da empresa, com a ajuda da sua filha Zoe e o companheiro Ben. Enquanto as restantes marcas de vinho do Porto pertencem a grandes grupos e famílias, como a Sogrape ou a Symington, a Churchill mantém-se como a única (e última) casa britânica independente.
A Churchill’s é ainda a casa de vinho do Porto mais jovem que existe no mercado, somando pouco mais de 40 anos — mas conta com vinhos reconhecidos mundialmente, desde os Porto Vintage, ruby e tawny.
“Acreditamos em vinhos com personalidade, mas sem pretensão. Trabalhamos a favor da natureza, mantendo a nossa produção muito limitada e artesanal, sempre com intervenção mínima, garantindo a melhor qualidade dos nossos vinhos e a sustentabilidade da região do Douro. Só desta forma podemos ter vinhos que expressem o espírito da região e da nossa Quinta – a Quinta da Gricha”, conta Ana Pinho.
Como é fazer uma Blender’s Session na Churchill
A nova iniciativa da casa decorre diariamente entre as 12h30 e as 18 horas, com uma duração aproximada de duas horas. Está disponível em português, inglês e espanhol, por 150€ por pessoa.
As caves da Churchill’s juntam atualmente, um centro de visitas, duas salas de provas, o Armazém dos Tawny e a Cave dos Vintage. Quando chegámos, fomos recebidos pela equipa de wine educators da casa e foi Pedro o responsável por acompanhar a nossa visita. O jovem portuense formou-se em Turismo pela Escola de Hotelaria e Turismo do Porto mas não conseguiu escapar ao legado do vinho do Porto que já tinha marcado a sua família — o avô foi o primeiro funcionário da Sogrape. Com pouco mais de dez anos de experiência em vinho do Porto, Pedro já passou por casas como a Sandeman, antes de vir para a Churchill’s.
“Passar por grandes casas ajudam-nos a adquirir uma boa experiência. Mas o que gosto na Churchill’s é o facto de sermos uma empresa mais pequena — comparada com as outras grandes marcas — e podermos ter um contacto mais próximo com quem nos visita. Podemos fazer visitas mais demoradas, sem aquela pressa de despacha-las em 15 minutos. Espero que isso não se perca”, admite.
Apresentações feitas, fomos à impressionante cave dos vinhos do Porto Vintage. Por lá tivemos oportunidade de conhecer mais um pouco sobre a história da família e algumas curiosidades. A Quinta da Gricha, na qual são produzidos os vinhos do Porto da marca, está localizada no centro do Porto onde é possível ter temperaturas mais equilibradas, que vão ajudar na qualidade das uvas. A quinta também é pequena, comparada com outras, usufruindo apenas de 50 hectares.
Quanto as uvas, sabemos que no Douro é utilizada a classificação da A (a mais alta) até F (a mais baixa). Na Churchill’s trabalham apenas com uvas de classificação A. “Temos uma produção mais limitada. Assim não temos de misturar outras classificações para fazer mais vinho e conseguimos focar-nos exclusivamente na qualidade do produto final”, explica.
As uvas na Quinta da Gricha são ainda apanhadas à mão e o esmagamento continua a ser feito como antigamente, com os pés. Depois, o vinho é armazenado e produzido durante o inverno no Douro,. Só no início da primavera é viaja rio abaixo, até o Porto, para ser engarrafado para envelhecer nas icónicas caves.
A principal diferença entre o vinho normal e o vinho do Porto está no processo de fermentação, em que se transforma o açúcar em álcool. Isto é: no vinho normal, a fermentação é feita até ao fim. Para fazer vinho do Porto, a fermentação é interrompida e é adicionada aguardente líquida para manter o açúcar da uva e aumentar o nível de álcool entre os 18 e 22 por cento.
Depois da parte teórica, é tempo de conhecer mais sobre os vinhos da marca. Por aqui, pode encontrar três categorias diferentes de vinho do Porto, Ruby, Tawny e Branco. O último é o mais fácil de explicar. É feito a partir de uvas brancas e existem também diversas categorias, seco, meio seco, doce ou extra doce. A especialidade da Churchill’s são vinhos do Porto Branco secos, que são fermentados em barris pequenos, de oito a dez anos e daí apresentarem uma cor mais escura, com notas mais complexas que misturam laranja, mel e madeira.

“Como está em barris mais pequenos, o vinho tem mais espaço para contactar com a madeira e com o oxigénio, deixando de lado as suas características originais e ganhando outras notas mais complexas e também esta cor mais escura. O processo de envelhecimento também acaba por ser mais rápido. Este vinho branco é fresco e aconselhamos ser consumido antes da refeição, como aperitivo ou para cocktails”, explica o wine educator da Churchill’s.
Para fazer vinho do Porto Ruby e Tawny é utilizado o mesmo vinho, a única diferença é que o Ruby vai para barris grande dimensão, para o vinho ter mais espaço para respirar e o envelhecimento demora mais tempo. O Tawny, à semelhança do Porto Branco, envelhece em barris pequenos.
De seguida, fomos direcionados a uma sala de provas mais privada, para conhecer as categorias de Ruby produzidas na marca. O Reserva, que é o mais vendido, o LBV (Late Bottled Vintage) e o Vintage, que é conhecido como o melhor tipo de vinho do Porto. Este último é sempre feito a partir das melhores colheitas da marca — mas a escolha recai no Instituto de Vinhos do Douro e do Porto.
“Os Vintage da casa são sempre associados a declarações gerais, ou seja, só se produzem em anos excecionais, e que sejam anos excecionais em toda a região. Por isso, por tradição, uma casa só lança três ou quatro Vintages numa década. Recentemente, há Single Quinta Vintages que são a melhor qualidade de cada quinta, e que já se encontram mais frequentemente”, admite.
Depois de uma prova dos Ruby da marca, passamos ao Armazém dos Tawny onde também envelhecem os Porto Branco. Por cá, tivemos oportunidade de provar três categorias desta referência, antes de passarmos a criar o nosso próprio vinho do Porto Tawny 20 Anos.
O processo é simples, basta misturar as percentagens das três categorias de Tawny (W, Reserva e Master Blend) até obter um Porto do seu agrado, seja mais doce ou mais complexo.
“Como expliquei, nós não escolhemos o ano em que fazemos um Vintage. E é o que digo a quem nos visita. Se querem saber como foi um ano de colheita, aconselhamos sempre a provar um Vintage. Pelo contrário, se quer saber como a casa trabalha e do que é feita, escolha um Tawny. Neste tipo de vinho é onde os enólogos criam. É toda uma ciência É misturar 10 por cento deste, cinco por cento daquele, 0,2 por cento do outro, até criar o Tawny 20, 30 ou 40 Anos, ideal e que melhor represente a casa”, explica Pedro.
Misturas e provas feitas, basta engarrafar e rotular o vinho do Porto personalizado e levá-lo para casa. Ou então, fique pela Ribeira, aproveite o pôr do sol e deguste o seu Tawny 20 Anos.
Para fazer esta experiência é sempre necessário realizar uma reserva prévia online.