Não foi só Natasha Marques que viu a sua vida parada por causa da pandemia, mas a verdade é que uma viagem ao Brasil prendeu-a na casa dos pais durante cinco meses. Sem viagens de regresso ao País que decidiu adotar como nova casa, teve que pôr em pausa todo o projeto de lançamento do seu negócio de chocolate.
“Foram cinco meses em que consegui colocar a cabeça no lugar, criar coisas novas e preparar tudo para o regresso.” Voltou e o Ar começou a vender como nunca, sobretudo os bombons, a arte de criar pequenas, complexas e saborosas esculturas de chocolate com recheios de fazer perder a cabeça.
O objetivo sempre foi o de abrir uma loja com foco na arte de trabalhar o chocolate. A pandemia não ajudou e esse passo está adiado, mas espera conseguir cumprir a promessa até ao final do ano com um espaço físico no Porto. Até lá, o negócio continua a florescer na Internet, onde aceita encomendas que entrega ela própria no Porto, envia pelos correios para todo o País e recebe até encomendas para Nova Iorque, para onde envia caixas recheadas de bombons de três em três meses.
Tudo começou na cozinha dos avós e depois de um curso de gastronomia no Brasil, deixou São Paulo rumo ao resto do mundo. Estudou na Suíça, onde se formou em cozinha e pastelaria europeia; trabalhou durante um ano na Disney World em Orlando, nos Estados Unidos; e mudou-se para França para se focar a 100 por cento na pastelaria.
Foi durante esse curso que Portugal se atravessou no caminho, ela que é também descendente de portugueses. “Tínhamos férias de três meses no verão e então decidi que gostava de ir a Portugal. Consegui um estágio no Ocean, o restaurante com duas estrelas Michelin”, conta à NiT a brasileira de 30 anos.

Foi a primeira num restaurante de fine dining, não seria a última. Passou por Espanha antes de regressar novamente a Portugal, à cozinha do chef Rui Paula no Casa de Chá da Boa Nova, onde assistiu a conquista da estrela Michelin. Saltou para o Vogue Café, onde fez a abertura, e ainda trabalhou ao lado do chef Ricardo Costa, no The Yeatman, também com duas estrelas. Passou ainda pelo Ammar, em Leça da Palmeira, onde confessa ter conseguido focar-se mais na sua paixão pelo chocolate.
Ainda não era suficiente. Queria mesmo começar o seu projeto por conta própria e em 2019 despediu-se e começou a estudar e a preparar-se para “o lado mais empreendedor”.
Rapidamente colocou em pausa a ideia de abrir um espaço. A ambição era grande. “Quero ter um espaço onde as pessoas possam ter contacto com toda a arte do chocolate, ter uma cozinha aberta para que possam ver o processo da pintura, o trabalho com o chocolate. E esse ainda é o meu objetivo”, explica, antes de confessar que ainda espera ver o sonho realizado em 2021.
Até lá, felizmente há forma de provar as criações de Natasha Marques. As estrelas são os bombons e, quando não o são, há outra certeza: “Diria que 99 por cento dos meus produtos tem algo de chocolate.”
Existem de todas as formas e feitios, quase sempre pintados com cores garridas. No interior escondem quase sempre duas ou três camadas, um dos segredos de Natasha para que se sintam “todas as texturas na boca” e para uma “experiência mais completa.”
Atualmente, vendem-se em caixas de seis (8,9€) e 12 unidades (16,10€), com sabores muito distintos: creme de avelã, caramelo de framboesa, crocante de framboesa, líchia, hibisco, massa folhada, café e nata.
Mas há mais. Disponíveis na loja online estão também “bolos caseirinhos”, como o de cenoura (8,9€ a 15€), o bolo gelado de coco (9,98€ a 14,88€) e o bolo vegan de cacau (9,5€ a 17€). Há também biscoitos, crocantes e barras artísticas, ou seja, barras de chocolate pintadas à mão, com toppings e chocolate belga.
É, porém, no lado mais criativo e personalizado que se sente feliz. A criar bombons especiais para ocasiões especiais, como um casamento em que desenhou a forma e os sabores de um bombom feito com ingredientes dados pelos noivos.

“Ele era produtor de vinho e mel. Ela era de Castelo Branco e trouxe queijo. Acabei por criar um bombom que representava as raízes deles”, recorda. Não são só os sabores que importam. O look e as cores de cada bombom podem ser adaptados à decoração do evento.
E também nos bolos sobressai a técnica, naqueles que são provavelmente os elementos mais fotogénicos do catálogo: os bolos espelhados com uma mistura de chocolate e outros ingredientes que formam uma cobertura brilhante e colorida.
Por enquanto, os doces de Natasha Marques são para comer com os olhos no Instagram, devorar no sofá e, espera-se que para breve, para ver como se fazem na primeira loja da Ar.