A Casa das Lérias herdou a localização da histórica Confeitaria de Amarante com o mesmo nome, na altura, propriedade de Alcino dos Reis. Alcino nasceu em janeiro de 1885, no Porto e manteve sempre uma estreita ligação a Trás-os-Montes, sobretudo Chaves, de onde os seus pais Inácio António e Clementina eram naturais.
Com apenas 14 anos, mudou-se para Amarante em 1899 e, anos mais tarde, em 1914 casou-se com Júlia Martins, que desde então o ajudou a desenvolver os vários negócios. Até à abertura das primeiras confeitarias em Amarante, os doces conventuais mais delicados eram comercializados apenas (e discretamente) pelas freiras do Convento de Santa Clara para consumo das famílias mais ricas.
A outra variedade de doces, mais simples, era comercializada nas festas locais de São Gonçalo. Tempo depois, os doces passariam a ser vendidos porta a porta e, posteriormente, a partir de confeitarias e pastelarias. Durante um determinado período, após o encerramento do convento das Clarissas de Amarante, muitas receitas perderam-se e outras extinguiram-se.
Quase um século depois, Alcino dos Reis recuperou as ditas receitas e reintroduziu-as na confeção da doçaria amarantina. Considerado um visionário para o seu tempo, conseguiu reinventar os doces conventuais e foi responsável pelo desenvolvimento da doçaria comum em termos de forma, conteúdo e apresentação como aconteceu com as lérias, que dão nome à casa.
A primeira Casa das Lérias de Alcino dos Reis, designação atribuída em maio de 1928, inserida onde hoje se encontra um edifício antigo dos correios na Rua Cândido dos Reis, abriu em novembro de 1910 com o nome Confeitaria Flaviense. Aqui, Alcino comercializava solas e cabedais, doçaria regional e produtos de Chaves.
A denominação seguinte foi Confeitaria Amarantina e, por fim, na década de 30, Casa das Lérias — Confeitaria Amarantina, localizada no edifício atual com traços de arte déco, onde Alcino construiu ainda uma pensão residencial e viveu com a família até à sua morte, em 1967.
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Foi com a sua Casa das Lérias e os seus doces regionais que Alcino dos Reis se tornou um verdadeiro embaixador de Amarante pelo mundo. Recentemente, em 2020, o edifício histórico de 1930 foi renovado para dar a conhecer e a saborear o melhor que a cidade, localizada a menos de 40 minutos do Porto, tem para oferecer.
Com uma esplanada com vista para o rio Tâmega, é na cafetaria que desde o passado dia 3 de junho, é possível provar cinco novos doces inspirados nas tradicionais Lérias, assinados pelos chefs Miguel Rocha e Ricardo Tiago.
“Respeitando a tradição da doçaria conventual portuguesa, tão rica e completa, desenvolvemos com imaginação e criatividade cinco novas propostas capazes de agradar a vários perfis, do mais intenso ao mais aromático”, explica o chef Miguel Rocha Vieira, responsável pela gestão de F&B dos hotéis geridos pela AHM — Ace Hospitality Management, entre eles a Casa das Lérias Hotel & Cafetaria.

“O nosso principal desafio foi conseguir opções leves, equilibradas e com a mesma textura, humidade e cremosidade das lérias clássicas, que todos já conhecem”, completa o chef pasteleiro, Ricardo Tiago, natural do Porto e que dirige a doce cozinha do Renaissance Porto Lapa Hotel.
Após seis meses de testes e experiências, a dupla de chefs apostou na introdução de ingredientes maioritariamente nacionais, enaltecendo a identidade portuguesa, tanto na massa do recheio como na cobertura do doce que, na sua receita original, é feito apenas com ovo, calda de açúcar e amêndoas.
A léria com vinho do Porto surge de uma forma subtil, através de uma redução que substitui a água. Já a de maçã de Alcobaça e canela protagoniza, segundo chef pasteleiro Ricardo, a combinação mais desafiante de todas”.
“Chegar à textura perfeita não foi fácil. Aqui a maçã é trabalhada numa calda, onde os níveis de açúcar têm de ser muito equilibrados e finalizamos com a fruta desidratada no topo”, explica.
Para os apreciadores de sabores mais frescos e cítricos, o doce que junta a laranja de Algarve e o limão será a melhor opção. Já o cacau 100 por cento puro é o protagonista da proposta menos doce de toda a oferta. A sua aspereza e robustez confere-lhe um aroma forte e intenso, finalizado com uma semente de cacau tostada e triturada na cobertura. A quinta e última versão é uma homenagem à expansão marítima portuguesa e mistura especiarias como a canela, a erva doce e a noz-moscada, resultando num doce aromático e perfumado.
Historicamente servidas como sobremesa apenas em dias de festas ou refeições importantes, as lérias tradicionais estão também disponíveis numa receita da autoria dos dois chefs na Cafetaria da Casa das Lérias. Cada unidade das Lérias e dos cinco doces exclusivos tem o valor de 1,50€, existindo ainda uma caixa de 12 unidades (15€) para levar para casa e partilhar.
A Cafetaria da Casa das Lérias funciona todos os dias, entre as 11 e as 20 horas. As reservas podem ser feitas através do email info@nullcasadaslerias.com ou do contacto 255 245 660. A rota mais fácil e rápida para chegar ao local, desde o Porto, será tomar a A4 durante 50 quilómetros e seguir pela saída 15 para N210 em direção à Amarante Oeste. De seguida deverá seguir para a N314/N412 até dar com o número 21 da Rua Cândido dos Reis.
Carregue na galeria para conhecer as novas propostas deste tradicional doce amarantino, agora reinventado.