A tendência do consumo de vinhos tem vindo a mudar ao longo dos últimos anos. Apesar de ainda existirem consumidores mais conservadores que não dispensam as tradições, o mercado tem demonstrado que há quem procure um menor conteúdo alcoólico e, consequentemente, vinhos leves e encorpados, mais elegantes. Esta é a proposta da centenária produtora de vinhos, Casa da Passarella, que com os seus vinhos de montanha quer aquecer as noites mais frias da estação.
Mas, afinal, o que são vinhos de montanhas? A NiP falou com Paulo Nunos, enólogo com 20 anos de casa nesta produtora inserida na região do Dão, sub-região da Serra da Estrela e localizada a pouco mais de uma hora do Porto. “Os vinhos de montanha são vinhos com uma condição muito diferente quando comparada com outras referências. Primeiro porque não nos encontramos numa planície e isto submete a própria fruta a condições climatéricas, entre outras, mais extremas”, começa por explicar o especialista.
E acrescenta: “Em termos calóricos, nos dias de hoje temos uma dieta muito mais balanceada. Costumo brincar e dizer que já não comemos um cozido à portuguesa ou feijoadas três vezes por semana como antigamente. Vivemos num ciclo de consumo diferente e dentro dessa linha de pensamento, queremos vinhos menos alcoólicos e mais elegantes. A montanha traz precisamente isso”.
As referências feitas nesta zona e neste tipo de solo resultam em propostas mais elegantes e com um teor de açúcar muito abaixo da média ou do que se vê noutras regiões vitivinícolas. E essa acaba por ser a grande aposta de Paulo e da equipa da Casa da Passarella.
Aqui, a produção de vinhos é muito livre: arrisca-se a apostar em castas mais ou menos esquecidas, recuperam-se antigas e não se tem medo de dar tempo ao vinho até ele se mostrar em grande forma, como é o caso dos Casa da Passarella Vindima 2009 e 2011, grandes referências da região. Outro fator diferenciador são as castas centenárias, também chamadas de “sete magníficas”.

“Instaladas no sopé da montanha e a centenas de metros de altitude, as novas colheitas que chegam agora ao mercado querem, acima de tudo, perpetuar a linha identitária da Casa da Passarella, que não é mais do que transmitir através de um gole, a sensação de se estar no meio deste património construído ao longo dos séculos”, defende o enólogo.
Este novo lançamento envolve o regresso da gama Villa Oliveira, a primeira marca a ser criada há mais de 130 anos pela produtora. A Casa da Passarella dá a conhecer três novas colheitas, de edição limitada e que se assumem como “um legado que perpetua o saber-fazer vinho”. A primeira é o Villa Oliveira Vinha das Pedras Altas 2017, que nasce de uma vinha com mais de 90 anos, onde constam várias castas autóctones como a Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Alvarelhão, todas elas colhidas à mão.
Após uma fermentação espontânea em cuba de cimento com maceração pré e pós fermentativa, passou 36 meses em estágio em madeira, permitindo a estabilização natural do vinho. Esta referência destaca-se por ter uma tonalidade de vermelho opaco. Na boca é um vinho encorpado, fresco e elegante, com um final persistente. No nariz, denota aromas a frutos vermelhos.
A segunda é o Villa Oliveira Vinha Centenária Pai D’Aviz 2018, fruto de castas nativas provenientes de uma vinha centenária como o nome indica, entre elas a Baga, o Jaen, a Tinta Amarela e Tinha Pinheira, também colhidas manualmente. À fermentação espontânea em lagar de granito seguiu-se um estágio também de 36 meses, sem existir algum processo de filtração. Este vinho tem uma cor mais aberta. As notas aromáticas remetem para as frutas silvestres, florais e terrosas. “Relembra os grandes vinhos do Dão da décadas de 1960”, admite o especialista.
Por fim, o Villa Oliveira Touriga Nacional 2018 “expressa a vontade de fazer um monocasta de uma única vinha com mais de 80 anos”. Trata-se de um Touriga Nacional clássico, isto é, encorpado, fresco e elegante. No nariz mistura frutos vermelhos e tem um final de boca longo.
Pela sugestão do enólogo, a primeira referência “casa” muito bem com um borrego no forno, por se tratar de um vinho com mais estrutura. Já as outras duas harmonizam muito bem com um bacalhau no forno regado com bastante azeite. “A elegância destes vinhos limpa-nos a boca e o palato e prepara-nos, de facto, para apreciarmos o bacalhau”, conclui.
As primeiras duas referências têm um custo de 54,50€. Já o Touriga Nacional custa 49€. Estes novos lançamentos já se encontram à venda online e em garrafeiras de especialidade.