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EZO trouxe as especialidades da Geórgia para o Porto — e o khinkali é a estrela da casa

O novo restaurante da chef Maia celebra as tradições georgianas com receitas de família, vinhos autênticos e muita hospitalidade.

Conta-se que o khinkali, o prato mais emblemático da Geórgia, nasceu nas montanhas do Cáucaso, entre guerreiros e trabalhadores da construção. As mãos estavam sujas, o tempo era curto, e era preciso uma refeição quente que pudesse ser comida sem talheres. Assim surgiram estes pastéis (semelhantes a dumplings) robustos, recheados com carne e especiarias, moldados à mão como pequenas bolsas de sabor. Seguravam-se pelo topo — uma dobra de massa espessa —, comiam-se de cabeça para baixo, e o caldo quente no interior aquecia até os dias mais frios. Curiosamente, a parte da massa usada para segurar o khinkali não se comia. Era o gesto que distinguia o local do visitante. É com essa história — e essa alma — que chega ao Porto o EZO, o novo restaurante de cozinha georgiana que abriu no coração da cidade.

O espaço, acolhedor e cheio de detalhes, é o projeto da chef Maia, natural de Senaki, na região de Samegrelo, que trouxe para Portugal as receitas, as memórias e o espírito de partilha do seu país. “Nasci e cresci numa casa onde cada refeição era uma celebração da vida e do convívio. É isso que quero recriar aqui: não só o sabor, mas também a alma da Geórgia”, explica.

A ideia nasceu de forma orgânica. Maia começou por cozinhar em casa para amigos — pratos de família que rapidamente se tornaram jantares concorridos. “As pessoas começaram a trazer mais amigos, e percebi que havia curiosidade genuína pela nossa comida e pela nossa cultura. O EZO nasceu desse desejo de partilhar”, conta.

O nome do restaurante, inaugurado a 10 de outubro, EZO, significa “quintal” em georgiano — um espaço de convívio, de comida feita com tempo e de mesas partilhadas. A escolha do Porto foi imediata: “Senti uma ligação profunda à cidade. As pessoas aqui partilham a mesa com a mesma alegria que nós. O Porto é curioso, aberto à diversidade e apaixonado pela boa mesa”, descreve a chef.

A carta é uma viagem pela cozinha tradicional da Geórgia, onde cada prato conta uma história. Entre as entradas frias, há beringela com pasta de nozes (10€) e o pkhali (22€), uma seleção colorida de pastas de legumes com nozes e ervas, símbolo das festas familiares. Já nas entradas quentes, o lobio (10€), feijão-vermelho servido com cebola e especiarias, e o ajapsandali (12€), um ensopado de beringela e tomate, são opções de conforto.

Entre os pratos principais, o destaque vai para o khachapuri megrelian (15€), pão tradicional recheado com queijo derretido, e para o kharcho megreliano (18€), carne de vaca cozinhada lentamente com molho de nozes e especiarias. “É uma das receitas da minha avó, feita exatamente como ela ensinou”, partilha Maia. Outro favorito é o frango tapaca em molho de alho e coentros (17€), grelhado e servido com batatas rústicas — perfeito para acompanhar com um copo de vinho tinto georgiano.

O protagonista, porém, é o khinkali, servido em porções de quatro unidades (a partir dos 15€). Há versões de vitela (17€), porco e vitela (16€), borrego (18€) e até uma opção vegetariana, com queijo (15€). Comer um destes pastéis é, aliás, uma pequena arte: segura-se pelo topo, dá-se uma dentada lateral e bebe-se o caldo quente antes de saborear o recheio.

Para quem gosta de explorar sabores intensos, há ainda os grelhados na brasa — como o lyulya kebab de borrego (19€)ou o peixe esturjão (20€) — e as sopas tradicionais, como a chikhirtma, de galinha (7€), ou a chakapuli, de borrego com ervas (9€). As sobremesas são simples e reconfortantes: as sugestões do dia (8€) variam entre mousse de mel, bolos húmidos com nozes e compotas de fruta caseiras.

A carta de bebidas é outro dos destaques. Há vinhos georgianos, limonadas artesanais, compotes (8€) e águas minerais do Cáucaso, como a Borjomi (5€) e a Nabeglavi (5€). “A autenticidade está, não só nos ingredientes, mas também na forma como cozinhamos: com dedicação e respeito pelas tradições”, garante Maia.

O espaço, situado na Boavista, combina tradição e modernidade. Fotografias antigas, pratos pintados à mão e tapetes com padrões típicos criam uma atmosfera acolhedora, entre o familiar e o exótico. “Queremos que quem entra no EZO se sinta em casa, mesmo que seja noutro continente”, diz a chef.

O ambiente é intimista, pensado para pequenos grupos e jantares demorados. Há música suave, o aroma a pão quente no ar e uma equipa que recebe cada cliente como se fosse família. “Não queremos que seja apenas uma refeição, mas uma experiência sensorial completa — uma viagem à Geórgia sem sair do Porto”, resume.

Desde a inauguração, o EZO tem atraído curiosos e apaixonados pela gastronomia internacional. “O primeiro khachapuri que fizemos no forno português foi um momento emocionante. Quando o cheiro se espalhou, percebemos que o sonho se tinha tornado real”, recorda Maia.

No fim, é difícil sair sem sentir que se participou de um pequeno ritual: pão quente na mesa, vinho a circular e histórias contadas em cada prato. O EZO não é apenas um restaurante — “é um pedaço da Geórgia plantado no Porto”, onde a comida, a amizade e a curiosidade se encontram à mesa.

Carregue na galeria para ver mais imagens do restaurante e dos pratos que pode provar por lá.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua da Meditação, 39
    4100-360 Massarelos
  • HORÁRIO
  • Segunda a sexta-feira das 18h às 23h30
  • Sábado e domingo das 12h às 23h30
PREÇO MÉDIO
?
TIPO DE COMIDA
Arménia-georgiania

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