Fazem parte da mesa de Páscoa — e não só — dos portugueses há várias gerações e continuam a fazer sucesso mesmo ao fim de tanto tempo. A tradição foi passando de avós para netos, pais para filhos e prevê-se que continuará. Há quem prefira os legumes, rebusque a taça à procura de um cantil ou fique feliz ao encontrar um bebé. Falamos, claro, das drageias de licor Bonjour da Arcádia.
Esta especialidade da marca portuense — criada há 90 anos — foi trazida de França pelo seu fundador, Manuel Pereira Bastos, pouco tempo depois do início do negócio, nos anos 40. Passadas tantas décadas, continua a ser um dos produtos mais vendidos e dos que mais caracterizam a empresa familiar.
“Temos muitos clientes que nos procuram e vêm com os filhos ou com os netos e nós vemos essas gerações a crescer e continuarem a procurar este produto, que acaba por ser muito marcante na história da Arcádia”, conta à New in Porto a diretora de marketing, Rute Pinheiro.
Alheia à revolução tecnológica, esta especialidade é uma verdadeira arte e continua a ser feita totalmente à mão, drageia a drageia, de forma artesanal. Os responsáveis da marca defendem que é uma qualidade única no País.
A minuciosidade deste trabalho faz com que seja um processo longo e que é feito durante todo o ano para que a produção não falhe. São cerca de 20 as toneladas vendidas todos os anos e, naturalmente, é necessário tempo para tudo isso.
As mulheres que manualmente decoram e pintam itens tão pequeninos como os bebés, as ervilhas, os feijões, os cantis ou as flores designam-se de bordadeiras. É um trabalho de precisão, que exige concentração, prática, alguma técnica e, sobretudo, muita paciência.
Feitas apenas na fábrica original da Arcádia, na Rua do Almada, é possível observar parte deste trabalho quando se passa pela loja. Ao fundo, numa zona envidraçada, é onde a magia acontece.
É aí que encontramos Patrícia Leite, a responsável pelo grupo que atualmente é constituído por cerca de oito bordadeiras. Com 41 anos, a artesã chegou à Arcádia com apenas 16 anos, quando tinha deixado a escola e precisava de trabalhar. Era para ter ficado apenas três meses, mas já lá vão 24 anos de casa.
“Primeiro, comecei pelo processo [de embalar] das caixinhas da Páscoa para saírem para os hipermercados, depois fiquei na secção, mas não passamos logo a bordadeiras. Primeiro, passamos pelo processo de pôr a amêndoa no açúcar e só com o tempo é que vamos aprendendo a decorar”, explica à New in Porto a bordadeira.
Levou dois anos até passar a fazer desta arte o seu trabalho diário. A preparação da época seguinte exige que sejam constantes e por isso são capazes de passar dias ou até uma semana a fazer a mesma variedade antes de passar à seguinte. Tudo isto depois de a base já ter sido feita, num processo que exige tempo e várias camadas de açúcar.
Um tabuleiro de drageias de bebés pode levar 400 unidades e chegam a fazer 21 por dia, por exemplo. Os cantis são mais trabalhosos e por isso ficam-se pelos cerca de cinco tabuleiros diários. Tudo depende da referência que estejam a fazer e do trabalho que cada uma exige — até porque nem todas são feitas apenas com um cartucho, os desenhos exigem mesmo um apontador igual ao das canetas antigas.
“Gosto mais de fazer bebés e cantis”, conta Patrícia. Curiosamente, são também as referências favoritas do público, que nem sempre imagina o que está por detrás das drageias que lhes chegam à mesa. “Às vezes não pensam no trabalho que dá a fazer, só depois de nos verem é que associam que dá trabalho.”
Como este é um trabalho feito por humanos e que requer perícia, nem tudo sai perfeito, naturalmente. Não há uma drageia igual a outra e é até possível perceber quem as fez só pelo desenho. Por vezes, também há tabuleiros que escorregam das mãos e deitam ao chão o trabalho de horas. “Acontece a qualquer uma de nós”, diz Patrícia, acrescentando: “Dói, especialmente depois de estar feito”.
Este trabalho, que no início era feito por muitos em part-time, continua a atrair alguns curiosos que querem experimentá-lo, mas nem todos ficam. Nem todos são capazes de manter a calma e concentração que é necessário. Ainda assim, a bordadeira quer acreditar que a tradição não morrerá e haverá novas gerações a interessar-se por ela.
“As pessoas que trabalham aqui têm muito gosto pelo que fazem, muito brio, para que fiquem bem”, diz a administradora e neta do fundador, Margarida Bastos, rematando ainda: “Vamos tentar preservar isto o mais possível, não temos notado quebra de vendas de uma maneira geral, já há uns anos que mantemos esta produção e conseguimos escoar praticamente tudo, acho que é uma pena perder esta arte porque é uma coisa única”.
Além das drageias de licor Bonjour, que podem ser compradas avulso, em embalagens de sortido ou até por cada referência (desde 7€), a Arcádia é conhecida pelos seus diferentes tipos de amêndoas de Páscoa e mantém até os olhos no futuro, inovando nos sabores a cada novo ano. Para esta Páscoa, encontra ainda clássicos (desde 7€) como as amêndoas torradas ou caramelizadas mas também novidades como o coco, o nougat crocante ou até o matcha.
Para quem procura outras opções de presentes, há uma linha retro de latas (11,50€) com amêndoas de sabores como chocolate de leite, chocolate negro, lilás, nougat crocante ou caramelo salgado. Tudo isto sem esquecer os ovos decor (desde 9,50€), que são recheados com amêndoas de chocolate de leite ou negro.
Carregue na galeria para ver os detalhes do fabrico das drageias.