Quando pensamos em comida de qualidade, alta cozinha e pratos de autor é normal que pensemos imediatamente em restaurantes de luxo, muitas vezes com vários prémios e, acima de tudo, com preços proibitivos para a maioria das pessoas. É uma ideia válida e que não foge muito da realidade, mas há quem queira mudá-la.
Uma dessas pessoas é a chef Rafaela Louzada, que em parceria com o marido, João Ricardo Moraes, acaba de abrir o Gruta, o novo restaurante da Rua de Santa Catarina que vai mesmo querer experimentar.
O melhor é começar por entender a história que deu origem a este projeto. O casal vivia no Brasil, de onde é oriundo — apesar de o pai de Rafaela ser português —, e onde arrancou a experiência de quase duas décadas ligadas à restauração. Em 2018, visitaram o Porto pela altura do São João e ficaram rendidos à cidade. Devido a algumas circunstâncias pessoais, resolveram vir morar para Portugal no ano seguinte e o local foi uma escolha óbvia.
Pouco depois de cá chegarem, Rafaela — que conta no currículo com passagens por grandes cadeias de hotéis ou restaurantes como o Le Chalet de la Forêt, em Bruxelas, que ganhou duas Estrelas Michelin —, foi convidada para trabalhar no The Yeatman. A proposta era irrecusável. Foi aí que reatou o seu amor pela cozinha e por estar rodeada de tachos e panelas.
“Eu estava ainda a tentar perceber o que iria fazer no Porto, a tomar conta da família, quando um dia ia a passar e vi o sítio. Fiquei encantado pela localização, descobri que o dono ia reformar-se e aí surgiu a ideia”, conta à New in Porto, João Ricardo Moraes.
Discutiram a ideia, Rafaela gostou e fecharam o contrato em março de 2020, uns dias antes de o mundo todo parar por causa da pandemia. Nessa altura acharam que seria melhor repensar o projeto inicial, que seria abrir nesse mesmo verão. Reformularam as ideias, olharam para tudo com mais calma: como um projeto a longo prazo e não como uma prova de velocidade.
“Reformulámos tudo, foi tudo mais pensado, os arquitetos, a obra, tudo foi feito com mais cuidado.”
Assim, o Gruta abriu agora a 4 de agosto, com um estilo elegante e vontade de se destacar da concorrência. Desde logo fá-lo através dos seus produtos, que são fornecidos por pequenos produtores locais, sobretudo do norte do País. O peixe vem da lota de Matosinhos e chega o mais fresco possível. Não se importam de esperar um ou dois dias por mariscos cujo tamanho ou estado não sejam os ideais para o consumo. As ostras da Neptune Pearl são as únicas que vêm de mais longe, apenas porque a empresa do Sado reproduz uma espécie endémica portuguesa e tem também esse lado da preservação das espécies.
O resultado de tudo isto é uma carta que se quer “com muito sabor, natural e autêntica”. Percebe-se, sobretudo se nos focarmos no facto de Rafaela ter herdado do pai o gosto pela cozinha e pelo peixe fresco. Em pequena, era com ele que ia ao Mercado de São Pedro, em Niterói, para comprar peixe.
“Foi aí que me encontrei. Aprendi a limpar peixes e conchas e a dar valor a este produto”, conta a chef.
No Gruta vai então encontrar pratos que se destacam pelo sabor e pela frescura sobretudo dos peixes. As ideias foram construídas com base nas diversas experiências de Rafaela ao longo da sua carreira. Não pode perder entradas como a nuvem de bacalhau (3,50€), as gambas rosas com salsa verde (12€), a bisque de lagostim (7€) ou a dupla de ostras portuguesas (5€).
Os pratos principais contam sempre com um peixe do dia (18€), que vai variando conforme a sazonalidade ou o que foi pescado, a mini moqueca de peixe (17€), o arroz do mar (18€) ou o lobster roll (20€). E nem pense em ir embora sem provar uma sobremesa como o bolo de chocolate Gruta (6€), a torta francesa de maçã com gelado de Porto Tawny (5€) ou a bola de gelado premium da Gelataria Portuense (4€).
No campo das bebidas, mantém-se a escolha quase total de rótulos portugueses, cuidadosamente selecionados por João para casarem na perfeição com os pratos da chef. Como curiosidade, aproveite para não deixar de provar os pães servidos, que são feitos mesmo aqui.
Outro detalhe importante de referir é que a cozinha deste restaurante — que tenta tornar acessível a todos a gastronomia de qualidade mantendo um ambiente relaxado — é constituída apenas por mulheres. São quatro e não foram escolhidas com esse propósito, mas foi “um feliz acaso” porque Rafaela acredita que as mulheres têm uma “sensibilidade diferente” e gosta de trabalhar dessa forma.
“As mulheres são muito fortes, têm potencial, força laboral e talento. O mundo da gastronomia ainda é muito dominado por homens, se puder contribuir para isso mudar, é incrível.”
Neste momento, os 30 lugares no interior e os 20 da esplanada reservada do Gruta abrem apenas ao jantar e ao fim de semana, mas é possível que isso mude. A carta será atualizada também a cada um ou dois meses, com novos pratos e de forma a aproveitar a sazonalidade dos produtos. Outra ideia que não está completamente descartada é de passar a existir um menu de degustação para provar os vários pratos.
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