Às vezes, os nossos hobbies estão destinados a transformarem-se em grandes projetos. Mónica Cardoso, farmacêutica especializada em análises clínicas, é um exemplo disso mesmo. Como tinha um gosto especial por fazer chocolate, durante anos idealizou, sozinha, com amigos e familiares, como seria o seu laboratório de chocolates. O sonho concretizou-se no dia 24 de novembro do ano passado, com a abertura do Oporto Oficina.
A empreendedora de 52 anos, natural de Santarém, teve o seu primeiro contacto com o chocolate artesanal há cerca de 11 anos, quando visitou uma amiga neerlandesa e provou um chocolate negro com gengibre feito pela mesma. Nessa altura, questionou-se se ela própria seria capaz de fazer algo semelhante.
“O primeiro desafio foi saber produzir um chocolate que eu, enquanto consumidora, comprasse. A partir daí, ainda em simultâneo com o meu trabalho, comecei a fazer todos os cursos e workshops que iam surgindo, incluindo online. Comprei todo o tipo de aparelhos, equipamentos e instrumentos e adaptei a cozinha de casa para aperfeiçoar as técnicas. Muitas pessoas não têm noção, mas o chocolate é muito difícil de trabalhar. É a temperatura que define se, nesse dia, podemos trabalhá-lo ou não. É preciso muito rigor, paciência e carinho”, começa por contar à NiP.
Os anos passaram e o gosto foi crescendo. Pelo meio, ainda fez dois cursos especializados em chocolateria em Inglaterra. Sempre que podia, nos tempos livres, fazia chocolates de todos os tipos e sabores e oferecia a amigos, familiares, vizinhos e colegas de trabalho. O feedback era interessante — o que só despertava ainda mais a sua vontade de ter o seu próprio negócio. Esta ideia viria apenas a ficar em segundo plano e, apenas aconteceria, se perdesse o seu emprego como farmacêutica.
“Em 2023, esse dia chegou. Fui despedida. Quem me conhece sabe que fazer chocolates e pensar sobre o meu negócio começou a ser o meu foco diário. Uma amiga até disse ‘seres despedida foi o empurrão que precisava para ter o laboratório de chocolates’“, revela.
E assim foi. A ela, juntou-se o seu amigo de longa data e compadre, Miguel Ramos, 53. Formado em Engenharia de Eletrónica e Telecomunicações, Miguel apoiou desde o primeiro dia este ‘bichinho’ da amiga e decidiu investir no negócio dela como gestor — e porque também gostava de ter um negócio próprio.
A determinada altura, Mónica decidiu ampliar o seu conceito de negócio e juntar o gelado ao chocolate. “Nós, portugueses, não somos consumidores de chocolate como outras cidades no norte da Europa e o gelado acaba por ser algo geracional, que agrada a todos. Também me inspirei noutras cidades europeias que fundem ambos os conceitos num só espaço”, defende.
Foi assim que rumou a Itália, onde inicialmente iria estar um mês a fazer um curso para se especializar em gelado artesanal. Acabou por ficar mais dois meses, pois fez estágio numa gelataria em Turim, o que lhe deu algumas bases, não só na produção de gelado, mas na gestão de uma loja.
De volta a Portugal, decidiu largar tudo na sua cidade natal, Santarém e, rumou ao norte em busca do lugar ideal para construir o seu próprio laboratório. Pelo meio, ainda fez mais um curso de gelados, na Escola do Gelado, em Gaia. No final do ano viria a abrir o Oporto Oficina, um espaço multifacetado e onde todos podem aprender o arte de fazer — e comer — chocolates, gelados e pastelaria artesanal.
A loja é inspirada no design nórdico, isto é, minimalista, simples, prático e sem grandes preocupações. Todavia, a grande exposição solar cria um ambiente acolhedor e agradável para se estar.
Ao todo, divide-se em três espaços, com uma forte aposta no conceito de produção à vista. Por detrás do balcão, vai encontrar o primeiro laboratório, o de produção de gelados e pastelaria. Na cave, está o laboratório de chocolate, onde Mónica passa a maioria do tempo. Há ainda um terceiro espaço, que estará em funcionamento em breve, destinado à realização de cursos e workshops de chocolate e gelado para miúdos e adultos.
“Queremos muito envolver os mais novos neste espaço e as famílias. Tencionamos ainda fazer degustações de chocolate com outros parceiros de food pairing com vinho, cerveja e queijo. Há uma série de produtos que casam bem com o chocolate e, muitos deles, são igualmente fermentados, pelo que o casamento do próprio processo de produção dos produtos ajuda a que combinem muito bem”, acrescenta.
Na montra de gelados, encontra, pelo menos, 14 variedades de sabores. Entre eles, estão o fior di latte, fior de vanilla, straciatella, variegato, pistácio, avelã, iogurte, morango, tangerina, ananás com gengibre, caramelo salgado, café, amendoim salgado e chocolate. O preço dos gelados, por bola, começa nos 2,80€.
Já nos chocolates, a variedade também é ampla, incluindo bombons, tabletes, de chocolate branco, de leite, e negro. O preço vai depender do produto, mas ronda os 6€ por 100 gramas.
Na pastelaria há bolos feitos no dia e também brownie, crumble de maçã, mil folhas, entre outras propostas, desde 2,50€. O espaço pretende ainda, em breve, ter o conceito de bean to bar, isto é, transformar o grão de cacau diretamente em chocolate, nas suas mais diversas formas, como chocolate quente.
“O nosso objetivo é tornar todos os processos de produção o mais artesanal possível. Consideramos que temos um produto premium, em que a relação qualidade e preço é razoável. O preço do cacau tem vindo a subir nos mercados cada vez mais. E também se ouve falar no aumento dos preços do café. Todavia, não queremos aumentar os preços e vamos tentar praticar os valores com que iniciámos”, garante.
O Oporto Oficina insere-se numa zona privilegiada e, que segundo a responsável, “abrange todo o tipo de públicos possível”. Fica numa zona residencial, o que atrai muitos vizinhos e famílias com miúdos, bem como escolas e faculdades nas proximidades. É também um spot ideal para quem não dispensa um café e um doce na pausa do almoço do trabalho. A sua proximidade com o Palácio de Cristal também atrai turistas.