Há restaurantes no Porto que são um verdadeiro convite para apreciar os verdadeiros prazeres da vida. É o caso do L’Égoïste Bar & Restaurante, que fá-lo com arrojo e originalidade. Apesar de o Renaissance Porto Lapa Hotel já ter chegado à cidade em abril de 2023, foi só em setembro do ano passado que o restaurante da unidade assumiu um conceito que estava muito assente nos momentos de partilha à mesa. No início do ano, o espaço deste icónico hotel portuense tomou um novo rumo, com o chef Miguel Pinto a tomar as rédeas do restaurante — e as novidades e mudanças já dão que falar.
Com 29 anos, o cozinheiro natural de Lamego tem um currículo cheio de experiências. Cresceu a fazer pastéis de nata nas seis pastelarias que os pais detêm na sua terra natal — doce típico português que, para ele, ainda é um desafio dominar. Aos 18 anos, rumou para o Porto com o objetivo de se formar em pastelaria na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto. Acabou por se especializar em Gestão e Produção de Cozinha. Em 2017, no fim do curso, decidiu viajar pelo mundo.
Passou por trabalhar em cozinhas famosas, onde foi crescendo de junior chef, a sous chef, até chef executivo. Le Méridien, em Barcelona, o Café Royal e o The Dorchester, em Londres, o Mandarin Oriental em Suíça, Doha e Dubai e a Tasca do Avillez, na mesma cidade, e o Vila Vita, em Porches, são apenas alguns exemplos. Aprendeu a fazer pratos italianos, mediterrâneos, propostas asiáticas e arábicas e foi apurando técnicas em grandes equipas, para agora seguir um sonho antigo: liderar sozinho uma cozinha.
“Acabei por regressar a Portugal porque tinha acabado de ser pai na Suíça, e o meu filho nasceu sem um rim. Os custos médicos especializados estavam a aumentar por lá, por isso decidimos regressar para cá e também para ter mais estabilidade e suporte familiar”, começa por contar à NiP.
O convite para liderar a cozinha do L’Égoïste surgiu de uma forma “natural”, considerando toda a experiência do jovem cozinheiro que está desde janeiro a fazer as adaptações da equipa e só apresentou na passada quarta-feira, 21, uma nova carta com a sua assinatura.
Quem conhece o L’Égoïste desde a sua abertura sabe que contava com um conceito que de egoísta tem apenas o nome, porque o objetivo é oferecer uma experiência sensorial para ser partilhada à mesa. O protagonista da carta era o receituário tradicional português, que era desafiado por novas técnicas onde a criatividade e a originalidade eram o prato do dia.
Na nova carta mantém-se esta aposta na criatividade que sempre caracterizou o espaço, mas agora a experiência é mais individual, digamos. Apesar de por enquanto, o chef Miguel Pinto não ambicionar uma estrela Michelin, define o conceito do restaurante como de fine dining, com técnicas utilizadas de alta gastronomia, destacando um empratamento mais minimalista, cuidado e elegante, ao contrário da antiga apresentação, que se assimilava as travessas cheias de comida como se estivéssemos em casa da avó.
“O que nós queremos com este menu é uma gastronomia muito consensual para todos os nossos hóspedes mas também para os portuenses que nos visitam. Tentamos combinar pratos individuais mas também entradas e alguns pratos que dão a opção de servirem como pratos de partilha. Queremos acima de tudo dar uma experiência um pouco diferente e única do que possam experimentar na cidade. Não estamos aqui para lutar por estrelas ou guias, mas para dar uma boa experiência a quem está à mesa e que saia com um sorriso na cara”, defende.
De Espanha a Marrocos, de França a Itália, a renovada proposta gastronómica propõe uma cozinha de fusão com uma base mediterrânea, baseada em ingredientes nobres e técnicas contemporâneas.
A viagem pela visão e identidade do chef começa com propostas que prometem surpreender todos. A “Rosa” (20€) dá logo nas vistas pela espetacularidade em que é apresentada. O empratamento é composto por salmão curado durante 45 minutos, acompanhado com pickle de nabo, molho sudachi, puré de limão e ovas de salmão. Uma opção cítrica e fresca.
Entre as propostas de partilha, destaca-se o croquete de boi com chouriço de Trás-os-Montes, açafrão e molho barbecue (18€), o polvo frito com molho romesco, batata cerejada e chouriço ibérico (24€) ou “Mistura da Terra” que junta quinoa, edamame, cebolete, espargos e amêndoa lamianda (20€).
O robalo vindo diretamente da costa de Matosinhos destaca-se entre os pratos principais, acompanhado com um pure de aipo, bimis salteadas, couve kale crocante e molho de champagne (26€). Em homenagem aos sabores do mar e às aprendizagens do chef Miguel Pinto com Gilad Peled, o ravioli recheado de lavagante com caviar oscietra e flor de gelo (36€) é uma das propostas mais ousadas da carta.
Já para os carnívoros, cozinhado durante 24 horas e de pele estaladiça, apresenta-se o leitão finalizado com cogolho grelhado e maionese de pimentas, regado com molho de laranja e servido com as obrigatórias batatas fritas (28€), numa ode à portugalidade e à tradição da Bairrada. Na opção vegetariana, reina o “Mil Folhas e uma Cevada”, composto por beringela, cevadinha, alga nori e cogumelo-ostra (18€), combinando crocância e suavidade.
No universo dos doces, onde a tentação reina, o chef pasteleiro Ricardo Tiago mantém a irreverência que o caracteriza e apresenta algumas novidades. Inspirado na sobremesa italiana que lhe dá nome, o tiramisu do L’Égoïste surge reinterpretado sob a forma de um falso caviar (13€). O chocolate ganha protagonismo através de uma namelaka aveludada, conjugada com um cremoso de mascarpone, queijo creme e crème fraîche. A sobremesa é servida numa lata metálica, acompanhada por tostas de brioche, permitindo ser degustada à colher ou barrada, ao gosto de cada um.
A famosa Tarte Tatin (10€) é apresentada de forma surpreendente. “Diz Que É Uma Espécie de Tatin!” é o nome da criação que surge desconstruída: uma terrina de maçã com baunilha e pimenta Sichuan, caramelizada na hora, acompanhada por uma placa de massa folhada e um gelado guloso de manteiga queimada, com crumble de manteiga. Na mesa, é finalizada com um aromático custard de tomilho, que acrescenta frescura ao prato.
As novidades estendem-se até o bar do espaço com uma renovada carta de cocktails de assinatura. “Alquimia da Terra” é da autoria de Fábio Miranda, bar manager da unidade.
“O objetivo da carta é explorar diferentes perfis — do terroso ao frutado, passando pelo floral e herbáceo. Queremos evocar sabores reconhecíveis mas sem recorrer diretamente aos ingredientes que dão nome as bebidas”, explica.
Neste exercício de provocação sensorial, cada cocktail é construído a partir de camadas de sabor que remetem para um ingrediente específico, mesmo que este nunca entre na composição, convidando o paladar a adivinhar, redescobrir e reinterpretar. O cocktail Tomate (16€), por exemplo, conjuga cogumelos, damasco, tamarilho, aipo, paprika e clorofila, recriando o sabor do fruto sem o utilizar. Já o Beterraba (15€), com perfil terroso, mistura gin, pinot noir, cacau, cassis, batata, baunilha e umeboshi, resultando num cocktail denso, salgado e subtilmente ácido.
Outras criações percorrem os registos cítricos e florais, como o Calamansi (18€), com tequila, yuzu, chá verde, gengibre, erva príncipe e malvásia; ou o Hibisco (19€), que combina mezcal, coco, rosas, arando, tangerina e flor de laranjeira num conjunto leve e aromático. Para quem prefere experiências sem álcool, opções como o Endro (12€), feito com pepino, maçã verde, mel, salsa e coentros, mantêm a complexidade e carácter das restantes propostas.
No bar também estão disponíveis petiscos como o brioche de lavagante com cebola roxa e maionese picante (16€), o tártaro de novilho com trufa e gema curada (14€) ou os spring rolls de pato com água de rosa (12€).
Carregue na galeria para conhecer as novas propostas do espaço. A estação de metro da Lapa fica a poucos passos da unidade hoteleira.