Numa tradução livre para português, a palavra galega morriña é o sentimento de saudade dos galegos pela sua terra. Para os portuenses, é também o nome de um dos mais recentes espaços para comer tapas tipicamente galegas.
O conceito do Morriña é o de uma taberna galega com as suas tábuas de madeira e as cascas deixadas nas mesas. O objetivo aqui é que este seja um espaço de tapas e não um restaurante onde se vai fazer uma refeição completa, mas a verdade é que muitos clientes pedem vários dos pratos disponíveis e acabam sem fome. Ainda assim, o principal foco do espaço é que a comida seja apenas um complemento à bebida. Mas antes vamos conhecer a história desta taberna tão especial.
A ideia surgiu há cerca de duas décadas. Xulio Santinos, o dono, de 51 anos, trocou a Coruña pelo Porto há 23 anos. Estava a trabalhar num projeto numa empresa que o levou até Madrid mas não se adaptou. Faltava-lhe o mar. Quando surgiu a oportunidade de a empresa abrir uma sede no Porto, não hesitou.
“Cheguei aqui há 23 anos e há mais ou menos 20 anos foi a primeira vez que conheci este largo e apaixonei-me”, conta à New in Porto. O amor à primeira vista levou a um namoro complicado, mas Xulio não desistiu. Na altura em que conheceu o largo, a Baixa do Porto ainda não tinha o movimento atual e esta era uma zona quase sem vida.
“Um largo como este, na Coruña, estaria cheio de gente, de bares, de tabernas, de esplanadas. Como é possível estar assim?”, foram os pensamentos do galego na época, que já começava a sentir a tal saudade da terra, a morriña.
Ficou com a ideia na cabeça e deixou-a em repouso. Ligado à área do investimento imobiliário, compra, reforma e arrenda edifícios, em conjunto com três sócios. Quando deram conta da mudança na Baixa e de que a zona das Galerias de Paris estava a ter maior movimento, Xulio lembrou-se daquele que vê como o seu largo, mas já não sabia exatamente onde ficava.
Em 2017 começou a estar mais atento às movimentações no largo e esteve para comprar um edifício, mas não chegou a tempo. A vontade, essa, ficou. Em agosto de 2021, quando o espaço voltou a ficar livre, não pensou duas vezes e decidiu comprá-lo para avançar com esse sonho antigo, como conta emocionado.
Depois de algumas obras, o Morriña abriu a 4 de julho e tem feito sucesso com o seu conceito de taberna. Já para não falar da esplanada e da música ao vivo com espetáculos quase diários.
Dividido por dois andares, o espaço remete mesmo para a típica taberna, com o seu grande depósito de cerveja — orgulhosamente Estrella Galicia, que chega ainda por fermentar e fica pronta apenas no local — e os armários superiores repletos de vinhos — 131 rótulos diferentes, para sermos precisos, 85 por cento portugueses, todos eles vendidos a copo ou à garrafa.
No piso superior, há ainda uma parede dedicada aos artistas locais que não tenham hipótese de expor em grandes galerias e que têm aqui um espaço para divulgar o seu trabalho.
“Queremos que o tripeiro que venha aqui possa beber um vinho diferente a cada dia que vem.” Quanto à comida, as grandes especialidades são a tortilha e o raxo — um prato típico da Coruña feito com carne e muito alho. Para quem não dispensa, há ainda pimentos de Padrón.
“A receita da minha tortilha é uma receita um bocadinho especial, tem um toque que eu adoro e que os meus amigos todos gostam, por isso pensei que se tenho um grupo de cerca de 50 amigos que gostam, deve funcionar”, diz Xulio, acrescentando: “Os pimentos vêm mesmo da cooperativa de Padrón, somos os únicos em Portugal”.
Os preços são outro dos grandes atrativos do Morriña. Estão pensados para os portuenses e não para os estrangeiros, já que a cerveja (3€) é vendida em canecas de 45 centilitros e os vinhos a copo estão disponíveis com diferentes preços a partir de 3€. Nos petiscos há tortilha (2,50€), raxo (5,50€), pimentos de Padrón (2,50€) e até tábuas de queijos e enchidos (12€).
Quanto a Xulio, já não pensa voltar à sua Galiza e defende que o Morriña é um modelo de taberna único e que não vai ser repetido nem expandido. “Sou apaixonado pelo Porto e pela Coruña, mas já não penso deixar esta cidade”, remata.
Quem manda nisto tudo?
Nome: Xulio Santinos
Idade: 51
Prato favorito: Raxo
Guilty pleasure: Callos galegos e tripas à moda do Porto
Convença-nos a visitar o espaço: “O tripeiro que venha cá, não tenha nenhuma dúvida de que vai gostar.”
Carregue na galeria para descobrir mais detalhes do Morriña.