Uma ida ao teatro tem qualquer coisa de mágico, mas ficar num camarote privado, com vista privilegiada, eleva a experiência a outro nível. Pedro Lemos, mestre da cozinha, inspirou-se nesta ideia para criar o Único — um camarote dentro da cozinha do seu novo restaurante, inaugurado em setembro, onde os clientes podem observar de perto toda a dinâmica da equipa.
O espaço, que recebeu o nome de Único precisamente pela singularidade do conceito, começa a funcionar em maio. Tem capacidade para oito pessoas e fica dentro do restaurante Pedro Lemos, na Rua do Ouro, no Porto.
À mesa chegam propostas idealizadas pelo chef portuense de 45 anos e pela sua equipa, sem qualquer indicação prévia do que será servido. O mesmo se aplica às bebidas. Pedro Lemos guarda uma garrafeira privada com rótulos raros, já indisponíveis no mercado, e são essas referências que fará questão de servir aos convidados.
“Os clientes não sabem o que vão comer, mas podem contar com produto fresco, do dia, comprado no mercado”, explica o chef à NiT. “A única coisa que podemos garantir é que será especial, porque escolho os pratos para este local com base em produtos que não chegariam para servir todos os clientes do restaurante.”
O serviço é feito diretamente por Pedro Lemos e pela sua equipa — tanto a comida como os vinhos. “Sou um apaixonado por vinhos e gosto de manter uma seleção privada, que vou guardando. Atualmente tenho rótulos que já não se encontram à venda e são esses que vão fazer parte desta experiência”, acrescenta.
As reservas para o Único podem ser feitas através do site do restaurante. O valor da experiência pode chegar aos 500€ por pessoa, consoante a seleção de vinhos escolhida. “Acredito que uma experiência só fica completa com um bom vinho. E aqui, além da raridade dos mesmos, podem ainda contar com uma seleção especial dos pratos, com uma interação direta com a equipa, a observação de todo o frenesim e encenação da cozinha.”
Quem não conseguir vaga, ou não procurar uma experiência tão exclusiva, pode reservar uma das mesas na sala principal, com capacidade para 30 pessoas. Aí, o chef serve o menu de degustação (160€, com opção de pairing por 115€), com sete a oito momentos, ajustados à estação. Há também a possibilidade de pedir à carta, uma opção que regressou após o chef perceber a necessidade dos clientes.
Com o objetivo de garantir uma experiência mais intimista, o novo espaço conta ainda com uma sala privada para grupos, com 13 lugares. “Ali os clientes podem escolher a música e sentem-se como se estivessem em casa, com a nossa equipa a servir.” Entre os pratos que têm suscitado maior curiosidade estão o lavagante e a terrina de foie gras nas entradas. O chef quis ainda recuperar pratos da cozinha tradicional portuguesa, como o rancho.
“Quando fizemos a mudança para a Rua do Ouro, em setembro, percebemos que temos uma maior assiduidade e que estamos mais perto dos nossos clientes. Decidimos então dar-lhes maior liberdade de escolha”, refere.
O novo Pedro Lemos
O primeiro Pedro Lemos abriu na Foz Velha do Porto em outubro de 2009. Era, segundo o chef, um espaço “muito particular”, que “contrariava tudo o que eram as boas práticas de como abrir um restaurante”. “Sempre gostei das zonas antigas da cidade, sobretudo a Foz Velha”, explica. A atmosfera de bairro, a história e a intemporalidade da zona levaram-no a escolher este local para o seu primeiro projeto.
Em 2014, o restaurante conquistou a primeira estrela Michelin do Porto — distinção que tem mantido há dez anos. “Passámos por várias fases e conseguimos desde cedo definir a nossa identidade e como iríamos abordar a gastronomia e o receituário português. Mas no ano passado percebemos que tínhamos mesmo de mudar de local, para que fosse possível continuar a evoluir. Por mais reorganizações que fizéssemos, não conseguíamos ter as condições de que precisávamos”, explica.
A única exigência era manter-se na zona antiga. “A Joana [esposa do chef] encontrou um armazém espetacular na Rua do Ouro. A nossa prioridade era mantermo-nos na Foz, porque gostamos do ritmo, estamos próximos do mercado e do rio, e das nossas gentes. Não queríamos, de todo, criar transtornos às equipas e aos clientes.”
A Rua do Ouro, onde em tempos funcionou um estaleiro naval e foram preparadas várias naus para as descobertas, foi o local escolhido. Pedro Lemos deixou a pequena casa e avançou para um espaço mais amplo, com luz natural e maior visibilidade. A cozinha ganhou outra dimensão, tal como as salas, sem perder o lado intimista da experiência.
A visita começa no bar, onde os clientes são convidados a escolher, com o chef, os menus e os vinhos sugeridos pelos sommeliers Diogo Maciel e Hugo Santos. Aí, tomam um aperitivo e experimentam os primeiros snacks antes de seguirem para a mesa. “Quem cá vem, diz que sabemos receber — e é verdade. Adoro receber pessoas em casa e tornar a experiência diferente”, partilha Pedro Lemos.
Estas características valeram-lhe a revalidação da estrela Michelin em fevereiro deste ano, mesmo com a mudança de morada. “O nosso objetivo é continuar no topo e ser um convite para conhecer a maravilhosa Invicta”, conclui. “Não quisemos comunicar logo a abertura, para que a equipa tivesse tempo de se adaptar. Gostamos de deixar fluir.”