Os supper clubs nasceram da vontade de transformar o jantar em casa numa experiência partilhada — e secreta. A tradição começou discretamente em Nova Iorque e Londres, nos anos 2000, quando cozinheiros amadores decidiram abrir as portas dos seus apartamentos para servir menus temáticos a desconhecidos. Eram encontros quase clandestinos, reservados a quem recebia o convite certo, e rapidamente se tornaram tendência. A ideia espalhou-se: transformar o ato de comer em algo social, descontraído e inesperado, onde cada refeição é uma história e cada desconhecido um novo amigo.
É essa filosofia que chega agora ao Porto com o 15|16 Supper Club, criado por Fernanda Rossi e Paulo Visani. Casados há mais de 30 anos e radicados em Portugal há uma década, decidiram recuperar um velho hábito da vida em São Paulo: reunir pessoas à volta da mesa. “Durante anos organizámos jantares e festas. Percebemos que estávamos sempre mais felizes quando a casa estava cheia”, conta Fernanda, tradutora e cozinheira de mão cheia. Paulo, advogado, acrescenta entre risos: “Dizem que tenho o dom de deixar as pessoas à vontade, o que ajuda quando se tem 10 desconhecidos à mesa.”
A dupla já tinha experimentado esta fórmula no Brasil, com o Clube de Babette, uma confraria que, durante seis anos, juntava amigos e amigos de amigos em jantares que rapidamente se tornaram semanais. “Chegámos a ter 40 pessoas numa noite. Era um caos delicioso”, recorda Fernanda. Agora, o casal quis recriar a experiência no Porto, num formato mais íntimo e temático. “Depois de tantos anos, sentíamos falta dessa energia, e o Porto tem o espírito certo para isso: gente curiosa, aberta e calorosa”, diz.
A inspiração para o nome veio de uma descoberta improvável: uma velha edição da revista “Gourmet — The Magazine of Good Living”, encontrada numa loja de velharias. “A revista lembrava-nos da elegância da vida à mesa, e foi o empurrão que faltava para tirarmos o projeto do papel”, conta Fernanda. O número 15|16 tem uma origem pessoal. “Em criança, o meu avô dizia que ‘à mesa não se envelhece’, mas que nós, crianças, tínhamos de esperar uns 15 ou 16 anos para perceber o que ele queria dizer. E é isso: comemos, conversamos e esquecemos o tempo.”
O 15|16 Supper Club acontece duas vezes por mês, sempre no apartamento do casal, no coração do Porto, e recebe apenas 10 pessoas por edição. As reservas são feitas por mensagem direta no Instagram do projeto e a morada é partilhada apenas com quem confirma presença — um toque de mistério que faz parte da experiência. O jantar custa 43€ por pessoa e inclui cinco momentos: cocktail e aperitivo, entrada, dois pratos principais e sobremesa, acompanhados por vinho, café e digestivos.

Cada edição é dedicada a um tema e a um ingrediente, com menus criados por Fernanda a partir de produtos locais e sazonais. “Quero mostrar que cozinhar não é um bicho de sete cabeças. É possível comer bem, de forma simples e saudável, com ingredientes naturais e feitos à mão”, explica. A cozinha é uma fusão de influências: das raízes rurais do interior de São Paulo às massas e pães artesanais italianos, herança da família de Paulo, passando pelas especiarias asiáticas e o conforto dos pratos de casa.
O primeiro jantar, em outubro, teve como tema a abóbora. A mesa estava cuidadosamente decorada em tons de laranja e os convidados — entre amigos e desconhecidos — partilharam histórias enquanto provavam pão naan com hummus de abóbora, kibe com recheio de espinafre, ravioli di Mantova e gelado de semente de abóbora com brigadeiro. “Queríamos resgatar o prazer de comer devagar e conversar sem ecrãs à volta”, diz Paulo.
Em novembro, o tema será “Com quantas azeitonas se faz uma garrafa de azeite?”, com jantares nos dias 8 e 21, e um menu dedicado ao azeite e aos sabores do outono. As edições seguintes já estão traçadas: em dezembro, “O Natal também pode ser tropical”; em janeiro, “Receitas infalíveis para ter um ano bom”; em fevereiro, “Não me leve a mal, hoje é Carnaval” e em março, “Não se esqueça de cheirar as flores”. A programação continua até setembro de 2026, totalizando 12 jantares temáticos, sempre com o mote “à mesa não se envelhece.”
Além das refeições presenciais, o casal criou uma extensão do projeto para casa: a cada edição, um dos pratos do menu poderá ser encomendado separadamente, por tempo limitado. “Queríamos que as pessoas pudessem prolongar a experiência. Às vezes, os convidados pedem para repetir um prato — agora podem fazê-lo em casa”, diz Fernanda.
A decoração das mesas é outro ponto de destaque. Cada jantar tem loiças, toalhas e detalhes pensados ao pormenor, graças a parcerias com marcas portuguesas como a Egg Back Home, Campante Tablewear, Rumo Vinhos e Quinta Mourisca do Alendouro. “Queremos mostrar o que de melhor se faz em Portugal, e apoiar quem acredita na beleza das coisas bem feitas”, sublinha Paulo.
Mas mais do que comida ou decoração, o 15|16 é sobre pessoas. “Queremos que cada jantar junte pessoas que talvez nunca se cruzassem na vida”, explica Fernanda. “Vivemos num mundo em que todos estão sempre com pressa, presos ao digital. À mesa, queremos o oposto: tempo, conversa e presença.”
O ambiente no supper club é descontraído e caloroso. Não há lugares marcados e os copos de vinho ajudam a quebrar o gelo. No final da noite, muitos trocam contatos e promessas de reencontros. “Cada pessoa tem uma história mais interessante do que a do outro. E é esse encontro que faz tudo valer a pena”, resume Paulo.
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Com apenas uma edição realizada, o projeto já está a ganhar seguidores fiéis e curiosos. Há quem repita a experiência, há quem ofereça o jantar como presente e há até quem venha sozinho — e saia com novos amigos. “À mesa, ninguém fica de fora”, diz Fernanda, sorrindo.
No fundo, o 15|16 Supper Club é um lembrete de que comer pode ser muito mais do que alimentar o corpo. É uma forma de celebrar o tempo, o sabor e a partilha. E, como diria o avô de Fernanda, um antídoto infalível contra o envelhecer — pelo menos, enquanto houver conversa e vinho na mesa.

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