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O Patusco mudou, mas pouco. Ainda tem pratos típicos e menu de almoço a 8€

O restaurante reabriu a 22 de março, com novos donos. A aposta no receituário tradicional e nos preços acessíveis, mantém-se.
Para quem não recusa um bom polvo.

Quando se reúnem várias gerações de naturais do Porto, sobretudo os mais velhos, chega-se facilmente a um consenso: a cidade atravessou, nos últimos anos, uma transformação profunda e acelerada. As opiniões dividem-se quanto ao impacto dessas mudanças. Para alguns, trata-se de uma evolução positiva; para outros, há uma certa nostalgia pelo que se perdeu. O turismo crescente e a chegada de novos residentes trouxeram consigo diferentes hábitos e influências, levando muitos a sentir que o Porto foi, gradualmente, deixando para trás parte da sua identidade — especialmente no que respeita a estabelecimentos e restaurantes com preços acessíveis para quem cá vive.

Precisamente com este cenário em mente, Filipe e Ricardo Carvalho decidiram unir esforços para apostar num espaço genuinamente português. O nome poderá soar familiar, afinal O Patusco foi fundado há mais de três décadas por um casal portuense. Ricardo, com formação em Marketing e morador a escassos 700 metros do restaurante, era cliente habitual aos almoços e, um dia, percebeu que os proprietários estavam prestes a passar o negócio. Filipe, por sua vez, estudou Produção Alimentar em Restauração na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e procurava um novo desafio ligado à cozinha. Ao saber da oportunidade, lançou o convite ao irmão para juntos revitalizarem o restaurante.

“Desde o primeiro momento quisemos construir uma casa da cidade para a cidade. Respeitar as tradições da comida tradicional portuguesa, mas com uma nova roupagem, e também com alternativas vegetarianas e veganas, para conseguirmos juntar um público diversificado e com propostas que agradem a todos”, começam por contar os empreendedores, ambos com 30 anos, à NiP.

A experiência de Filipe na cozinha é tão eclética como os pratos e o público que quer trazer para O Patusco. Passou por cozinhas de renome como a do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, ou a do Belcanto, do grupo José Avillez. Ainda passou por Sintra, onde participou no projeto Food and Farming, uma mercearia com restaurante, com foco nos alimentos orgânicos. “A bagagem que eu trago ajuda-me a adaptar-me, ser mais flexível e conseguir ter a liberdade na cozinha para dar um twist a pratos do receituário tradicional português e criar adaptações que conquistem até aquele que não gosta de opções vegetarianas ou legumes no geral”, explica o cozinheiro.

Se entrar n’O Patusco e se conhecia o anterior, vai ver que não mudou muita coisa. Os azulejos decoram as paredes em contraste com a madeira das mesas, criando um ambiente acolhedor e a típica casa portuguesa onde mal entras, sabes que vais comer bem. Desde o início, a dupla fez questão em manter na génese do conceito do restaurante a comida tradicional portuguesa e a escolha começou pelos pratos que os irmãos mais gostam de comer, como arroz de pato, uma mariscada, carne de porco alentejana ou até uns simples filetes panados.

“A ideia aqui é tentar tornar os pratos mais interessantes. Por exemplo, as batatas fritas já levam algumas especiarias, a carne fica a marinar durante dois dias. O tofu panado ou o tofu à Lagareiro surgem como alternativas aos filetes de peixe panados e ao polvo à Lagareiro e as beringelas recheadas causaram sucesso até em quem não é vegetariano”, acrescentam.

Algo que caracteriza a esta casa à portuguesa — e que parece quase inacreditável — são os preços praticados. E é que por cá os pratos de carne não custam mais do que 8€, os de peixe ficam pelos 7€ e as propostas vegetarianas oscilam entre os 6€ e 8€. Diariamente, existe o menu de almoço, onde por 8€ tem direito a sopa, prato principal e bebida. Em alternativa pode alterar a sopa por café. 

Apesar de ainda não estar definido, a ideia é que cada dia da semana, entre terça e sexta-feira, o espaço passe a ter um prato do dia fixo, assim os clientes sabem quando podem comer a suculenta carne de porco alentejana ou as beringelas recheadas, ou o frango assado — tal como uma tradicional casa portuguesa.

Uma casa onde todos são uma família.

“As pessoas pensam que estes preços baixos são uma mera estratégia de marketing. Não digo que não seja, mas é também uma questão ideológica, social. O Porto ainda tem muito essa cultura de diárias e queremos que as pessoas possam comer à vontade. Que saiam daqui e sintam-se satisfeitos porque por 8€ tiveram uma refeição bem servida”, defende Ricardo, o marketeer e analista do negócio, e acrescenta: “Mesmo nas propostas vegetarianas. No nosso grupo de amigos reparamos que existe muito esta lacuna, são poucas as opções disponíveis e quando há, é com preços inflacionados porque é um mercado que está inflacionado”, admite.

Em resumo, o objetivo dos irmãos é com pratos de conforto e preços mais acessíveis fazer com que este restaurante que tem capacidade para cerca de 40 pessoas, sirva como ponto de encontro e para criar comunidade para as pessoas que de facto vivem a cidade. É normal existirem turistas de passagem, que queiram conhecer a essência da gastronomia portuguesa, mas é uma casa feita a pensar nos portuenses que querem um jantar com amigos não acima de 15€ ou para aquele casal que quer gastar 60€ em boas doses de comida. 

Esta aposta tem feito com que o espaço receba uma clientela diversificada, desde pessoas com mais idade que já eram clientes assíduos da antiga gerência, bem como malta mais nova que tem curiosidade em conhecer O Patusco. “É engraçado, porque temos reparado que temos mais mulheres e clientes LGBT. É giro ver essa adaptação, essa mistura de idades, personalidades, estilos, pessoas. Entram aqui cada um para o seu lado e saem com novas amizades. É o mais gratificante, além de saber que gostaram do que comeram, claro”, defendem.

Pelo menos uma vez por mês, o restaurante promove diversas dinâmicas, seja um dia dedicado apenas à francesinha, sejas petiscos à discrição por 5€ ou um mercado de troca de roupa com happy hour. O espaço conta ainda com um pequeno terraço interior ainda em fase de construção de modo a estar pronto para as noites quentes de verão, bem como um piso inferior que vai estar destinado para música ao vivo, open mic, entre outras atividades que ajudem a promover a agenda cultural da cidade.

Entre as propostas do espaço encontra sugestões como rissol (com opção vegetariana, 1,50€), coxinha (1,50€), alheira grelhada com pão (4€), moelas (5€), frango assado (6€), frango recheado com alheira (7€), arroz de pato (8€), massa de marisco (7€), tofu à lagareiro (8€).

A vontade de construir um negócio familiar faz com que até as sobremesas sejam caseiras, feitas por amigos dos irmãos, pelos pais ou até pelos próprios. Há opções como salame vegan, mousse de limão, bolo de bolacha ou chocolate, com preços entre 1,50€ e 2,20€.

Carregue na galeria para conhecer as proostas do espaço.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. de Faria Guimarães, 169
    4000-206 Bonfim
  • HORÁRIO
  • Terça e quinta-feira das 12h às 18h
  • Quinta-feira a sábado das 12h às 22h
PREÇO MÉDIO
?
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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