comida

O português que fez uma garrafa com filigrana de 24 quilates para a Louis Vuitton

Joaquim Granja aceitou o desafio e encantou a marca de luxo. A peça está exposta na Our, a nova loja de provas do Porto.
Joaquim é um homem dos sete ofícios.

Carteiras, casacos, sapatos. A oferta da Louis Vuitton é grande, mas poucos sabem que inclui conhaque. Há um português, porém, que o conhece — e bem. Afinal, pode mesmo ser uma garrafa da sua autoria a embalar a bebida alcoólica. Mas esta não é uma qualquer.

“É de cristal da Vista Alegre, com filigrana de 24 quilates. Depois, é isenta de chumbo, e tem um rótulo diferente dos habituais que se veem no mercado. Toda ela é uma coisa fora do normal”, começa por dizer Joaquim Granja, de 62 anos. Mas como surgiu esta oportunidade?

O empreendedor conta que tudo começou pelo contacto com um colocador de diamantes da marca de luxo. “É um português. Conheci-o em Portugal e ele sugeriu fazer uma apresentação de uma garrafa para o conhaque deles. E claro que aceitei. Até porque é uma marca de prestígio.” Depois da apresentação, que aconteceu “há cerca de dois meses”, o feedback não podia ser melhor. “O número dois da empresa gostou muito. Não conhecia esta adaptação e ficou encantado”.

Agora Joaquim está a aguardar a confirmação. No discurso, porém, há sinais de esperança. “Creio que eles devem ter muitas solicitações e muitos designers internacionais. Poderá ser só mais uma — ou não. Afinal, uma coisa é fazer um produto em papel ou metal, outra é o uso da filigrana, algo que é completamente diferente e distinto.”

Enquanto espera para saber se o projeto é aprovado, todos podem vê-la exposta na nova loja do Porto. Sim, porque Joaquim é um homem dos sete ofícios. Cria garrafas com filigrana, produz gin e tem negócios na área dos bares e da restauração. A 20 de abril juntou mais um nome ao portefólio.

Chama-se Our e é um novo espaço de degustação e provas de Vinho do Porto (e não só), na Baixa da cidade. Situada no emblemático edifício do Ateneu Comercial do Porto, a Our apresenta aquele que é, para o fundador do projeto, um ex-libris muito rico da região: vinho, gin e filigrana. “Cada qual dentro do seu tempo. O vinho do Porto, se calhar, tão antigo como o filigrana, e o gin como um novo produto. Achei que era o sítio ideal e a sala perfeita para criar esta mixologia dos três conceitos”, acrescenta.

Entrar no Ateneu Comercial do Porto significa voltar atrás no tempo. Os dourados e os vermelhos imperam e a decoração quase majestosa faz-nos parecer que estamos em 1869, data de nascimento da instituição. O Ateneu continua ser, de facto, um espaço onde o passado se funde com a inovação.

O Our divide-se em várias vertentes. Por um lado, tem o vinho do Porto, através da Messias, empresa fundada em 1926 que produz e comercializa espumantes e vinhos de reconhecida qualidade das principais regiões demarcadas. Por outro, tem o gin, graças à Our, marca de Joaquim Granja. Ao som de música calma, ali pode experimentar desde o gin mais comum à garrafa “mais luxuosa do mundo”, de seu nome Filigree. Esta é uma das que apresenta algo novo: a união da bebida à arte da filigrana.

A junção destes dois universos foi uma ideia que surgiu quase do nada. O empresário revela que se aborrecia com o facto de aquela arte, que diz ser fantástica, só estar ligada aos famosos corações. “Sendo tão antiga e importante, sentia a necessidade de combinar as duas coisas”.

Quando o produtor reparou que no universo dos gins não existiam garrafas de luxo concebeu a ideia que o trouxe até aqui. “Tinha de criar uma. Comecei por pegar numa garrafa de cerâmica, para ser diferente. Depois dei-lhe um banho de ouro onde a Louis Vuitton faz os da marca. Por fim, só faltava colocar a filigrana e dar um toque único. Foi o meu primeiro design. Toda a gente adorou.”

Depois, faltava um gin a condizer. “Não bastava só a garrafa. Coloquei mãos à obra e fiz um com estágio de barricas de mais de 100 anos, o que não foi fácil. Mas, no final, valeu a pena. Resultou um gin de edição pequena, que a maioria não conhece, mas que, todos os que o puderam provar, adoraram. Posso dizer-lhe que está quase esgotado. O último a ficar com um foi o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa”.

Parece que deixou todos encantados. Até mesmo o júri do London Spirits Competition, que premiou a referência com uma medalha de prata entre milhares de concorrentes. Na Our poderá conhecê-lo.

A arte, contudo, não se fica pela bebida ou pelas garrafas. Estende-se também a outras áreas, como a música. Num canto da sala estão expostos uma viola, uma guitarra e um cavaquinho, todos eles revestidos pelo mesmo material — a filigrana, obviamente.

Embora a Our esteja aberta há pouco tempo, é já um sucesso na cidade. “Há curiosidade em ver a filigrana aplicada desta maneira, e isso orgulha-nos, porque somos portugueses e isto é algo muito nosso. É por aí que quero crescer e tornar-me um êxito. Mostrar aquilo que ela pode fazer junto do mundo das garrafas premium”.

Ali, na Rua de Passos Manuel, a dois passos da Rua de Santa Catarina, poderá, ainda, fazer provas — tanto de vinho como de gin. “A Our é essencialmente uma mostra das garrafas como se fosse uma loja, é verdade. Mas quis criar um momento de relax, onde se pudesse provar um vinho da companhia Messias. É como se fosse uma cave de vinho do Porto dentro da cidade. Temos toda a companhia, que tem quase 100 anos, lá dentro. Inclusive as garrafas mais raras.

A Our tem capacidade para receber dez clientes sentados de cada vez.. Qualquer peça pode ser comprada — desde as garrafas decoradas, às bebidas. E se quiser só provar alguns exemplares da carta, também pode fazê-lo a partir dos 6€.

A seguir, carregue na galeria para conhecer o novo espaço e as garrafas que por lá pode encontrar.

MAIS HISTÓRIAS DO PORTO

AGENDA