Criar uma carta de cocktails de autor do zero é um verdadeiro desafio, uma vez que as propostas acabam por refletir a própria identidade do bar, o público a quem se dirige, mas sobretudo a experiência que quer transmitir. Apresentar novidades é quase tão importante como a escolha de ingredientes e produtos de qualidade combinado com um atendimento digno de uma review cinco estrelas.
O Mind The Glass é conhecido por receber várias dinâmicas relacionadas com o mundo vitivinícola e não só. Contudo, não só de vinho se faz este bar e a prova disso é a nova carta de cocktails de inverno, lançada no passado sábado, 25 de janeiro.
“Esta proposta segue a trajetória do nosso primeiro menu de cocktails de assinatura apresentado no verão. Isto é, tentámos fazer uma homenagem ao País e às mais diversas regiões onde se fazem bons vinhos, para criar uma ligação ao próprio wine bar”, começa por explicar à NiP, Miguel Morais, um dos bartenders do espaço que esteve envolvido no processo de renovação da ementa.
Como a primeira carta oficial de bebidas de autor se inspirava nas regiões vitivinícolas, onde se celebrava a portugalidade e o que de único oferecemos ao mundo em formato de vinhos, o desafio foi dar continuidade a este tributo. Assim, o Mind The Glass encontrou algo muito comum do nosso dia a dia, a linguagem. Ainda assim, foram mais além, pegando nas expressões populares portuguesas. O resultado foi uma “homenagem líquida” ao que de mais típico Portugal tem para dar: palavras.
“O nosso objetivo é despertar o interesse dos turistas em conhecer um pouco mais da nossa essência, local e nacional. Mas também é um convite que lançamos ao português, ao portuense, para voltar a entrar em contacto com a nossa essência, as nossas raízes”, defende o jovem.
A melhor forma de fazê-lo, segundo estes especialistas em bebidas de autor, é através dos provérbios. Por nascerem da experiência do passado e presente, é muito comum que, pela sua utilidade, sejam traduzidos para outros idiomas. Mas não é a mesma coisa e este wine bar portuense sabe disso. Por isso, pensaram em transformá-los numa forma líquida para “facilitar a compreensão”.
A carta inclui dez propostas, sete com álcool e três mocktails. O “Hive” é, segundo explicou a equipa do bar, o mais apreciado entre os clientes, provavelmente pelo seu sabor herbal e a mel. É composto por rum 3 anos, ODK de pêssego, licor do Mosteiro de Singeverga e mel. A cada cocktail é associado um provérbio que “combina” com ele.
Neste caso é “água de agosto, açafrão mel e mosto”. Isto é, a bebida é “doce como o mel e quente como agosto” e o ditado popular é alusivo ao período de transição no campo, onde a chuva (a água de agosto) é benéfica para as colheitas. O provérbio faz referência a produtos valiosos associados à abundância e a uma boa colheita.
O “Slava Pumpking” é outra das propostas. É composto por vodka de mel e pimenta, medronho melosa, vecchio amaro del Capo Licor. É uma bebida complexa e com notas de especiarias, daí a associação ao provérbio “Lua cheia, abóbora como areia”. Parece ser um ditado popular que faz uma relação entre as fases da lua e a abundância das colheitas, especificamente das abóboras. A “lua cheia” seria um símbolo de prosperidade ou plenitude e a comparação “como areia” sugere uma grande quantidade, indicando que a época da lua cheia é particularmente favorável para uma boa colheita de abóboras ou que elas crescem em abundância neste período.
Entre as propostas há notas frutadas, como o “Plum It” (“Quem se queixa larga ameixa”), fumados como o “What’s Up DOC” (“Quem não arrisca, não petisca”) ou tropical como o “Red Victoria” (Nem tudo o que reluz é ouro”). Entre as versões sem álcool há sabores refrescantes, frutados e cítricos. Os preços variam entre os 9€ e os 13€.
Pode sempre optar por cocktails clássicos — que nunca falham, como o Old Fashioned ou White Lady. Estas propostas custam entre 9€ e 11€.
Carregue na galeria para (re)visitar este bar portuense e conhecer as suas propostas. A estação de metro dos Aliados fica a poucos passos do local.