Em 1987, nasceu aquele que é hoje considerado o mais antigo bar de poesia do Porto e, até agora, o único com o estatuto de “Loja Histórica” ao abrigo do programa municipal “Porto de Tradição”. Um ano depois da sua abertura, o Pinguim Café tornou-se famoso pelas “Segundas de Poesia”, inauguradas pelo seu fundador Joaquim Castro Caldas.
As mesmas foram reavivadas em 2002 quando o ator e encenador Rui Spranger assumiu o comando daquelas noites. Em março, assume a gestão do espaço que, nos últimos 25 anos, esteve nas mãos do “carismático” Paulo Pires, como era conhecido. Talvez seja este o motivo por detrás da imortalidade do Pinguim que, apesar da mudança de protagonistas na sua gestão, se tem mantido fiel a si próprio, tendo sido possível garantir-se uma ligação afetiva e uma natural evolução na continuidade, não deixando cair esse legado que fez deste espaço, um ícone dos bares culturais do Porto.
Durante anos, estas noites de poesia animaram, através de fumo, álcool e pilhas de livros, a cave do bar que semana após semana enchia sempre — sendo na altura, das poucas estirpes deste género aberta às segundas-feiras. Estas noites poéticas contaram com todo o tipo de públicos. Uns mais atrevidos, outros mais participativos, outros mais tímidos. E viu nascer grandes estrelas, como é o caso de Valter Hugo Mãe, que foi lá onde começou a escrever e, dizer, alguns poemas curtos.
As “Segundas de Poesia” estiveram em risco de morrer, junto do seu fundador, Joaquim. Em 2008, quando o mesmo deixou este plano, Rui Spranger e Paulo Pires, antecessor de Rui, reabriram o Pinguim Bar na segunda-feira do velório de Joaquim, de forma a homenageá-lo. Desde então, não houve como deixar para atrás estes momentos que continuam a marcar a agenda cultural portuense.

“Temos tudo, menos comparação”. O mote é antigo mas assenta como uma luva nesta nova vida do Pinguim, agora sob a gerência do ator de 53 anos. O horário do espaço foi alargado, funcionando todos os dias da semana, com Happy Hour diária, entre as 17 e as 20 horas. A par, foi reaberta a esplanada do espaço no passado sábado, 8 de março, com um reforço na programação cultural na cave.
Além das míticas segundas-feiras de poesia que acontecem religiosa e ininterruptamente há 35 anos, há uma aposta nas quintas-feiras com o ciclo de performances “À Margem”, com a curadoria da performer Sílvia Pêra. Tratam-se de noites dedicadas à performance artística com dança e música experimental, pensadas para serem “disruptivas”.
As sextas-feiras são repartidas entre as “Noites de Quiz”, sempre na primeira sexta-feira de cada mês e o imprevisível “A Cave É Minha” na segunda e terças sextas-feiras do mês, formato em que se dá carta branca a algum artista ou personalidade associada à casa, uma espécie de VIP — Very Important Pinguim, portanto.
Na quarta sexta-feira do mês, a cave fica reservada para o regresso, 37 anos depois, do evento “Soul Shake Down Party”, momento dedicado ao soul, reggae e dub, sob o comando do DJ Bob Figurante. O cartaz da programação regular fica completo com os sábados de stand-up comedy. Já no piso da entrada, as paredes continuam a receber exposições regulares de artes plásticas, sobretudo de pintura e fotografia.
“A par desta programação regular, o Pinguim faz questão de continuar a ser um espaço de acolhimento de concertos e projetos pontuais, como aconteceu com a sessão de leitura de poesia feminista, que recebemos no passado Dia da Mulher ou o concerto de Marie Païenda, no dia seguinte”, avança Rui.

E acrescenta: “O que se pretende é que o Pinguim continue a ser um bar cultural e reforce o seu propósito de dar espaço aos artistas, contribuindo para dinamizar novos movimentos culturais na cidade. É nesse sentido que a programação é ancorada em artistas do Porto, entendidos como todos os artistas, de todos os lugares, que vivam ou estejam em trânsito pela cidade”, defende.
Em resumo, esta é a grande essência distintiva do Pinguim Café — ser assente numa dinâmica de multiculturalismo da qual beneficiam não só aqueles clientes locais que estejam interessados num espaço com mundo, como também para aqueles turistas que estejam interessados em imergir no movimento cultural da cidade e do País.
“Nem só de gin vive o Pinguim”
Esta frase, que começou por ser o título de uma micro-coleção de poesia editada pelo Pinguim Café e que rapidamente ficou no ouvido, por ilustrar na perfeição o espírito da casa. É que este sempre foi um bar conhecido por ter uma carta com inúmeras referências de gins servidos a preceito, agora por Pedro Martins, antigo chefe de bar, entre outros, do Maus Hábitos. O bar conta ainda com uma excelente garrafeira especializada em todo tipo de destilados, cocktails ou cervejas artesanais, sem esquecer o famoso chocolate quente.
Para completar, o renovado Pinguim tem agora um menu de petiscos assente em produtos regionais de grande qualidade, sobretudo queijo e fumeiro, fruto de uma parceria com a quase centenária Queijaria Amaral, uma das mais reputadas lojas tradicionais do Porto. Por lá encontra tábuas, moelas, bifanas, rissóis e outras propostas para encher a barriga enquanto bebe um copo com os amigos. O preço por pessoa varia entre os 5€ e os 10€.
Espreite na lista abaixo a programação do espaço para o resto do mês. A estação de metro de São Bento fica próxima do Pinguim Cafe.
Domingo, 16, 20 horas — Listening party com os Marquise.
Segunda-feira, 17, 22h30 — Segundas de poesia — A poesia é para comer todos os dias, com Joaquim Castro Caldas.
Quinta-feira, 20, 22 horas — Ciclo de performances “À Margem”.
Sexta-feira, 21, 22 horas — “A Cave É Minha” com atuação de Fermento.
Sábado, 22, 21 horas — Noite de stand-up comedy.
Segunda-feira, 24, 22h30 — Segundas de poesia — A poesia é para comer todos os dias, com Joaquim Castro Caldas.
Quinta-feira, 27, 22 horas — Ciclo de performances “À Margem”.
Sábado, 29, 21 horas — Noite de stand-up comedy.
Segunda-feira, 31, 22h30 — Segundas de poesia — A poesia é para comer todos os dias, com Joaquim Castro Caldas.