Nasceu em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e andou num colégio católico só para raparigas entre a primária e a faculdade, onde foi obrigada a passar grande parte da sua vida de uniforme. Mas, em miúda, Lyn Slater já era uma rebelde com uma atitude que desafiava convenções.
“Não nos deixavam usar qualquer ornamento ou qualquer coisa que nos tornasse únicas”, conta à revista “W” sobre os tempos de escola. “A única coisa que podíamos usar eram medalhas e rosários religiosos. Por isso, eu tinha uma coleção de 200 medalhas de todos os santos e criava com eles padrões na minha farda e pendurava vários terços no cinto. Eles não me podiam dizer nada”, recorda com um sorriso atrevido.
Agora, aos 68 anos, é avó, tem um cabelo grisalho que se recusa a pintar e são mais de 750 mil as pessoas que a seguem no Instagram. Mas tudo aconteceu meio por acaso, em 2014, quando resolveu começar o seu próprio blogue — e lhe chamou “Accidental Icon“, ou “ícone acidental”, em português.
Na altura, tinha 61 anos e estava insatisfeita com a forma como as revistas mainstream comunicavam com o público mais velho. Fez a sua pesquisa e percebeu que havia mercado para alguém com uma voz diferente. Passados seis meses, já era convidada para fazer editoriais de revistas.
A moda sempre esteve presente na sua vida, mas nunca, até então, a um nível profissional. Na faculdade, era obcecada por música e descrevia-se como “hippie”. Gostava de usar calças à boca de sino, sapatos de plataforma e chapéus de feltro em concertos dos Allman Brothers. Ao mesmo tempo, estava a tirar um mestrado em justiça criminal e trabalhava com traumas de mulheres e meninas. Mais tarde, fez um doutoramento em assistência social.
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Hoje, divide o seu tempo entre ensinar na Universidade de Fordham e os posts na sua página de moda, mas acredita que tudo o que faz está conectado. “O trauma fica nos corpos das mulheres”, explica. “E, por causa disso, sempre compreendi a importância da roupa, mesmo para mulheres que a sociedade pensa que não se interessam por roupas”. Em audiências no tribunal, aconselha sempre as clientes sobre os looks que devem usar, muito além de um advogado normal.
Ainda que a sua idade a distinga da esmagadora maioria das influencers, não quer que a mesma a defina. Desde os primórdios do blogue, recusa-se a aceitar trabalhos específicos para mulheres mais velhas. “Prefiro pressionar a MAC Cosmetics a ver-me como uma consumidora do que ajudar a promover uma marca separada para maiores de 50 anos”, declarou.
“Este projeto sou eu a dizer: não tenho 20 anos e não quero ter 20 anos. Mas sou bastante fixe e aqui estou eu.” A seu lado costuma estar o companheiro há mais de duas décadas, Calvin Lom, um cientista que acabou por se tornar no seu fotógrafo.
Sobre o seu público, diz que quer atrair “pessoas de todas as idades que querem pensar e conversar sobre moda, e não apenas consumi-la.” A audiência internacional do seu blogue vai dos 35 aos 65 anos. No Instagram, varia entre os 18 e os 35 anos — e muitos dos seus fãs são asiáticos.
“A parte mais excitante para mim é contactar com jovens criativos”, revela. “O que descobri ao falar com jovens por todo o mundo é que a minha geração foi deturpada sobre o avançar da idade e a geração mais nova não é assim. Eles sentem-se mais empoderados, não querem pessoas a dizerem-lhes o que vestir, querem estar bem a serem eles próprios, e não querem ser contra as coisas. Eles não querem ser anti-envelhecer, querem criar qualquer coisa nova.”
Para a criadora do “Accidental Icon”, estas trocas com os seguidores mais novos são benéficas para ambos os lados. Aprendeu muito com eles sobre a indústria e para onde a mesma se está a encaminhar, mas também sobre criar conteúdo e interações. “Eu uso as capacidades que ganhei como professora e no meu trabalho antes de fazer este blogue — onde tinha de interagir com jovens que não queriam ou com políticos sobre uma lei — e pus tudo isso nas redes sociais”, conta.
“A melhor coisa que vos posso dizer é: não se apeguem a nada. Corram um risco, ponham-se num espaço e vejam o que acontece.”
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