Andar descalço é uma daquelas sensações que nos transporta para a infância, para a liberdade e para um conforto que, na maior parte das vezes, não sentimos enquanto adultos. Sobretudo se tivermos que usar sapatos apertados ou saltos incómodos. Replicar essa sensação de estar descalço mas num par de sapatos é o objetivo da Mukishoes, que agora apresenta uma nova coleção.
Os dias mais frios e chuvosos pedem botas, por isso, na nova coleção não podiam faltar Chelsea boots com um revestimento interior mais quente ou opções de exterior em cortiça, tanto para adultos como para os miúdos. Pela primeira vez, esta coleção traz também exteriores feitos de bombazina, um material reaproveitado e que liga bem com os dias frios.
Para perceber bem todo o conceito e o porquê da utilização destes materiais, o melhor é conhecer a marca e a origem de tudo. A ideia partiu de duas amigas, Madlen Pinto e Marta Dias, e começou a tomar forma em 2018. “Nós já éramos amigas, tínhamos sido mães há pouco tempo e a Madlen já estava familiarizada com os sapatos barefoot porque na Alemanha já há muito tempo que se usa”, começa por contar à New in Porto Marta Dias.
A conversa surgiu naturalmente entre as duas porque procuravam sapatos para os filhos que fossem confortáveis, leves e simulassem a sensação de andar descalço, até pelos vários benefícios que isso traz para o corpo. Não encontraram no mercado tradicional o produto que queriam e, por isso, decidiram criar os seus próprios modelos.
Curiosamente, nenhuma das duas amigas estava ligada ao calçado. Marta tinha sido bailarina, formou-se em Som e Imagem e estava a trabalhar com Design Têxtil. Madlen, por sua vez, vem da área do teatro e da encenação. Ainda assim, esse passado também as ajudou a entender melhor os benefícios dos produtos que estavam a criar.
“Eu era bailarina, tive imensos problemas nos joelhos. Aprendi que andei a vida inteira a tentar resguardar o meu corpo, a protegê-lo, e estava a fazer o oposto, não estava a fortalecê-lo para enfrentar depois os problemas que surgem de postura e de tudo”, aponta Marta.
Esses motivos também fizeram com que estudassem mais tudo aquilo que queriam criar, como seriam os sapatos e todo o projeto. No fundo, ajudou a alavancar as ideias que tinham.
“Inicialmente, nos primeiros um ou dois meses não levámos assim muito a sério, mas acho que as duas íamos dormir à noite a pensar que talvez fosse uma boa ideia”, diz Madlen, acrescentando: “Tivemos umas ideias que vimos que não havia no mercado português nem assim muito no mercado mundial, que é um sapato que é extremamente flexível, raso, que simula o andar descalço. Na altura, quando começámos, havia uma ou duas marcas que já exploravam o conceito e testámos mas o que a nós sempre nos fez confusão é que eram sempre feitos de materiais de plástico ou feitos na Ásia, que não estava ao encontro do que queríamos”.
Até ao primeiro lançamento, em 2018, decorreu um longo processo de cerca de dois anos em que tentaram conciliar tudo aquilo que queriam que os seus sapatos tivessem. Ou seja, era preciso desenhar uns sapatos que fossem esteticamente bonitos, com um design apelativo, com o formato do pé, que fosse flexível e simulasse o andar descalço, que fosse feito em Portugal e tivesse o menor impacto possível a nível ambiental.
Ao princípio não foi fácil encontrar a forma de fabricar, garantir que tudo era feito dentro dos padrões que queriam ou até convencer os fornecedores a embarcar nesta aventura de criar uns sapatos tão diferentes a tudo aquilo a que nos habituámos. Hoje em dia sentem-se orgulhosas por serem “duas mulheres, duas mães, a gerir o próprio trabalho e a criar condições para trabalhar a partir de casa, mesmo antes da pandemia”.
Sim, porque como frisa Marta: ”Já éramos pioneiras do teletrabalho”. Ao contrário até do que se possa pensar, no último ano conseguiram crescer e agora contam com uma equipa de sete pessoas, vendem para todo o mundo e começam a ser cada vez mais reconhecidas.
A sustentabilidade é uma meta que a Mukishoes tem, mas não gostam de definir-se por aí por ser um termo muito ouvido hoje em dia. Na prática, preferem controlar todos os processos para garantir que os materiais que usam são produzidos de forma a respeitar o ambiente e que os trabalhadores têm condições de trabalho justas e bem remuneradas.
Os sapatos — e sapatilhas e botas — são feitos em Felgueiras e a maior parte dos materiais vem também de Portugal, mas de vários pontos. A lã e o burel, por exemplo, vêm da Serra da Estrela, mas o linho vem de França. O que é garantido é que são sempre materiais naturais, quer seja a borracha natural, o couro ou a cortiça.
Mais do que trabalhar com materiais, focam-se nos projetos. É por isso que colaboram muito com pequenas empresas, produtores locais e projetos nos quais confiam e se revêem.
Apesar de estes sapatos trazerem vários benefícios para a saúde e ajudarem a melhorar questões da coluna e de postura, é preciso fazer uma certa adaptação ao início. A primeira sensação será de estranheza para quem sempre andou com sapatos convencionais, por isso é melhor não passar usá-los logo diariamente e ir fazendo a habituação aos poucos.
Antes da pandemia, até tinham ideia de possivelmente abrir uma loja mas, de momento, esse é um passo que não está pensado para breve. Por isso, para comprar os sapatos da Mukishoes — cujos preços variam entre os 69€ e os 150€ conforme os modelos —, basta ir ao site da marca. Os portes são gratuitos para Portugal, tal como as devoluções.
Carregue na galeria para ficar a conhecer melhor a marca portuense Mukishoes.