A água está em todo o lado e sem ela não conseguimos sobreviver. Por exemplo, sabia que em 2030 se prevê que haja um défice de 40 por cento de água em relação à procura? Neste sentido, esta edição da Porto Design Biennale apresenta um programa de exposições e outras dinâmicas, que atuará em simultâneo nos espectros visível e invisível, orgânico, inorgânico e efémero da água. Além de projetar melhores e mais eficientes usos da água, a ideia é conceber modelos de coabitação alternativa, simbiótica, entre humanos e mais que humanos, numa relacionalidade vantajosa e sustentável para todos.
A Porto Design Biennale decorre entre os dias 19 de outubro e 3 de dezembro em vários locais da cidade e tem como foco central o papel da água no design e na emergente sobrevivência ambiental. Sob a curadoria de Fernando Brízio, o programa principal desta edição apresenta um conjunto de exposições, instalações e conversas que pretendem criar uma plataforma transdisciplinar para pensar as várias dimensões e as vivências em torno dos recursos hídricos.
O programa reúne também vozes nacionais e internacionais num diálogo que procura dar forma a futuros mais sustentáveis, equitativos e livres. “Petrichor, O cheiro da chuva” é a exposição principal da proposta problemática deste ano. Desenhada por Brízio e instalada na Casa de Design, é sublinhada a ubiquidade da água, a sua presença e circulação enquanto elemento fulcral de ligação entre todas as coisas.
Já no terceiro piso do Palácio dos Correios, com curadoria de Miguel Vieira Baptista, a exposição “Ligações” foi pensada como uma coleção de objetos de produção sobretudo nacional, tendo como ponto de partida um simples copo de água. No piso sete, Margarida Mendes apresenta “Catharsis”, uma exposição que expõe o trabalho de coletivos de pesquisa transdisciplinares, movimentos solidários e ativistas, que reportam a partir de diferentes copos d’água. Do rio Bogotá ao baixo rio Mississipi, dos palmários de Marraquexe às terras desertificadas do Golfo ou ao Channelsea.
Joana e Mariana Pestana propõem a instalação EdenX2.0 no Reservatório de Água Nova Sintra. Trata-se de uma plataforma digital, que ensaia modos de diálogo entre humanos e não humanos acerca dos rios, dos seus constituintes e respetivos direitos. Ao longo do evento, cerca de 15 pessoas irão juntar-se em formato online para falar em nome próprio ou representando outras entidades.
Por sua vez, duas salas da Galeria da Biodiversidade vão ser transformadas num “Gabinete de Curiosidades”, no âmbito da exposição The WaterSchool Classroom, desenvolvida pelo Studio Makkink & Bey de Roterdão, e composta por ficções especulativas sobre o modo como o design cria formas sustentáveis de uso de água e de vida em comunidade.
No Palacete Viscondes de Balsemão — Gabinete Triplex, será possível visitar a exposição “Apagar a Linha: Entre a Terra e a água”, com curadoria de Ivo Poças Martins. A zona do Cabedelo do Douro é o território escolhido para levantar questões sobre as fronteiras e linhas que separam (ou unem) os diferentes elementos que compõem a vida na terra.
Tal como aconteceu em edições anteriores, a Porto Design Biennale integra a perspetiva de outros territórios e países na programação. Nesta edição é a Galiza (Espanha) o território em destaque. Para o curador David Barro, responsável pelo programa do país convidado, o futuro dever ser “pensado em relação com a água e o oceano”, acrescentando que “estes são o espelho daquilo que se passa no mundo e ainda mais se considerarmos a posição atlântica da Galiza e de Portugal, daí que a relação com a água e o mar protagonizem o ponto de partida e o ponto de chegada deste programa”.
À New in Porto, a organização da Porto Design Biennale ainda revela que a iniciativa engloba um programa alargado de conversas com aqueles que encontram e guardam a água. Antropólogos, designers, geólogos, arquitetos, artistas, ativistas, entre outros, fomentam diálogos e encontros plurais com a água. Da mesma forma, é ainda integrado um programa de atividades satélites, através de uma Open Call para projetos selecionados se juntarem à reflexão em torno da água.