Muitos dos concorrentes que participam em concursos de música fazem-no para ganhar experiência a atuar ao vivo e perder o medo de estar à frente de tantos espectadores. Para Ana Amorim, de 23 anos, concorrente do “The Voice Portugal”, isso não era um problema. A cantora natural de Rio Tinto já tinha passado centenas de horas a tocar ao vivo, nas ruas da cidade, para outros tantos desconhecidos.
Apesar de ter sido eliminada do programa da RTP1, no passado domingo, 5 de novembro, Ana Amorim tem motivos para estar especialmente feliz. Quatro dias depois da saída do “The Voice”, a organização internacional da competição destacou-a pela sua performance de “Jolene”, durante o casting em Portugal.
A vida da jovem tem sido uma luta permanente em busca do sonho. É por isso mesmo que costuma escolher os sítios mais turísticos do Porto, como a zona da Ribeira ou a Rua de Santa Catarina, para cantar — e ser vista. Ela gosta especialmente de interpretar covers de canções famosas, como “Let It Be”, “Hotel California” e “Hallelujah”, segundo diz à NiT. Ainda assim, faz questão de acrescentar que tem alguns originais em fase de composição.
Ana revela-nos que passou precisamente a fazer música na rua para combater a inibição e a timidez. “Sentia que tinha muito dentro de mim que queria partilhar com as pessoas, e nunca o consegui fazer devido à timidez que sentia”.
E acrescenta: “Cheguei a um ponto em que decidi que não precisava de uma arena para partilhar os meus pensamentos, basta um espaço onde possa usar a minha voz e onde a minha voz possa ser ouvida. Foi assim que surgiu a ideia de cantar na rua”.
Esta situação foi uma forma de se colocar à prova e perceber se tinha, efetivamente, a capacidade para cantar em público — e lidar com os imprevistos que podem acontecer durante uma atuação. “Todos os dias são um desafio mistério quando se canta na rua. Nunca sabemos o que cada dia nos reserva. Mas cresci imenso e finalmente consigo criar o casulo que me permite cantar em público”.
A paixão pela música surgiu bastante cedo e sempre foi uma bengala para se expressar. No entanto, isso deixou também a cantora na defensiva. Sentia-se reservada e tímida porque esta arte era o seu refúgio.
“Sentia-me despida emocionalmente a cantar. Tinha medo de mostrar esta vulnerabilidade. Consegui ultrapassar esta barreira quando percebi que sou feliz a fazer isto. Não é uma fraqueza, é uma força”.
É inspirada por artistas como Bruce Springsteen ou Amy Winehouse, tanto artisticamente como pela força que lhe dão para concretizar um sonho que às vezes parece inalcançável. “Venho de uma família bastante modesta. Na minha cabeça foi sempre um sonho inatingível porque nunca tivemos dinheiro para aulas de canto, conservatórios e estamos longe da capital”.
De forma a transformar este sonho numa realidade, inscreveu-se no “The Voice Portugal”. Era uma forma de ganhar experiência ao lado de músicos famosos e de garantir mais visibilidade para o seu trabalho.
A primeira vez que despertou a atenção para os seus talentos foi com uma interpretação de “Jolene”, escrita e cantada, originalmente, por Dolly Parton. A sua versão foi tão bem recebida que fez os quatro júris virarem a cadeira. Sónia Tavares e Sara Correia demoraram apenas dez segundos até carregarem no botão e aprovarem a sua atuação. Mas não foi apenas em Portugal que essa atuação foi elogiada. Também mereceu um destaque especial por parte da organização internacional do concurso. É impressionante como a maior exposição mediática de Ana aconteceu com uma cover que criou para interpretar nas ruas do Porto.
“Fiz esta versão para cantar na rua. Quanto mais vezes a cantava, ficava mais atenta ao significado e ao sentimento que invocava. Quando chegou a altura dos castings pensei ‘tem de ser esta’. Conseguir pegar numa música icónica e conferir-lhe um toque novo foi arriscado, mas senti que iria conseguir e que seguir o meu coração”.
A distinção foi um motivo de grande orgulho e felicidade para a cantora. “É complicado descrever o que senti. Foi uma mistura de orgulho, euforia, amor, era algo inimaginavel. Comecei a gritar e a chorar e confirmei umas 30 vezes se o que eu estava a ver. no YouTube [no canal oficial do “The Voice”] era real”, confessou.
Esta alegria contrastou com os sentimentos de domingo passado, quando foi escolhida para abandonar a versão portuguesa do programa em direto na RTP. “Foi uma sensação agridoce. Fiquei muito satisfeita com a minha prestaçao, isso deixou-me orgulhosa. Mas sinto que tinha muito mais para dar e fiquei abalada com o facto de nao poder ter essa oportunidade. No dia seguinte, confesso que fiquei bastante em baixo, mas todo o carinho e apoio que recebi ajudaram-me a levantar a cabeça e a querer continuar a tentar”.
“Continuar a tentar” é mesmo a palavra-chave. Esta expulsão não a desmotivou. Agora, mais do que nunca, a cantora quer correr atrás dos seus grandes objetivos de vida.
“Nunca vou desistir do sonho de conseguir criar uma carreira. Se não conseguir atingir uma escala de artista conceituada, vou continuar a usar as ruas da minha cidade como palco. E, um dia, se a produção do ‘The Voice’ permitir, irei voltar ao programa, ainda mais confiante”.