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AP’ARTE recebe uma retrospetiva da artista portuense Cristina Rodrigues

“Blossom” está inserida nas Inaugurações Simultâneas de Miguel Bombarda e chega no dia 23 de setembro.
A inauguração é já este sábado.

Desde o seu início, que o trabalho de Cristina Rodrigues se destaca pelo uso de fitas de cetim como material de produção artística. Centrada sempre em abordar a sua jornada pessoal enquanto mulher portuguesa num contexto global para um “fantástico mundo de simbolismos”, desvia agora a sua atenção em atos primitivos como polinizar, florescer e desabrochar, valendo-se de meios como pintura em acrílico sobre papel de algodão e linho.

Com curadoria do arquiteto Ricardo Camacho, “Blossom” na AP’ARTE Galeria marca a primeira exposição individual de Cristina Rodrigues na sua cidade natal, Porto, para além de se tratar da sua primeira retrospetiva, com obras de diferentes momentos da sua carreira. O conjunto diversificado de obras desta exposição é a maior apresentada numa galeria portuguesa, até à data.

“A exposição desenhada para a AP’ARTE tem obras de todas as fases do meu percurso artístico e a visita da galeria ao atelier foi fundamental porque o meu olhar é demasiado próximo do meu trabalho. Estava a considerar apenas obras recentes e a seleção feita por parte da equipa acabou por congregar grupos de obras que ilustram o meu percurso de forma alargada e coerente”, admite a Cristina.

“Blossom” inclui obras da artista em todos os suportes e produzidas ao longo dos últimos seis anos, marcadas, como se lê em comunicado, pela “presença do florescimento, do desabrochar, e em última análise, da natureza”. As obras vão desde o acrílico e têxteis sobre linho, passando pelo desenho digital imprenso em papel de algodão e pintado à mão com acrílico e variam nos seus tamanhos, desde formatos mais pequenos, como 40 por 40 centímetros em telas simples, até duplas e trípticos de 120 por 170 centímetros, à obras escultóricas, tapeçarias de parede em lã com 240 por 240 centímetros e ainda um tríptico têxtil sobre linho com 300 centímetros de largura.

Inspirada pelas plantas que florescem num “ritual de hipnose, encantamento e atração”, nas paisagems campestres de Portugal e nos retalhos coloridos das fitas de cetim, editadas numa variedade de curvas, dobras e torções, Rodrigues chama a atenção para o lado vulnerável da natureza e para as múltiplas relações entre plantas, abelhas, pássaros e o próprio vento. Através destas obras, a artista não só explora uma narrativa pessoal, como estimula ainda uma série de espaços auditivos que resistem a novas apropriações e produtos culturais.

Forest Line (2019), acrílico e têxteis sobre linho.

Ricardo Camacho, curador da exposição ainda revela que, “a compreensão da artista sobre as operações territoriais e naturais como processuais, instáveis e de diferentes escalas, e as suas reflexões sobre a produção vernáculo e o estatuto do género como um ato cultural, como uma condição social e, muitas vezes, como qualidades efémeras, são dignos de reconhecimento como um contributo para os novos campos de ativismo na intersecção da arte, da cultura vernáculo, da tradição rural e da paisagem”.

Desta forma, a exposição encontra-se organizada através de séries, enumeradas pelos desenhos, desenhos digitais, pinturas, têxteis e escultura e abrange desde o rés do chão da galeria, com a produção têxtil da artista. A primeira sala do piso -1 é dedicada à série de tapeçarias em lãs e numa sala maior ainda neste piso, será possível encontrar as mais recentes obras da artista, composta por desenhos digitais posteriormente trabalhados em acrílico e acrílico sobre linho.

A artista de 43 anos, natural do Porto, viveu durante vários anos na cidade de Manchester, Reino Unido, onde foi docente e investigadora na Manchester School of Art. Nos últimos dez anos, Cristina expôs diversas vezes em Inglaterra, Portugal, Espanha, Alemanha, China, Japão, Sri Lanka e no Brasil. As suas obras integram também diversas coleções públicas e privadas e estão em permanência em vários espaços públicos nacionais e estrangeiros.

Doutorada em Arte Contemporânea, mestre em História Medieval e do Renascimento e licenciada em Arquitetura, o trajeto de Cristina é tal, que já é por muitos, uma das artistas portuguesas mais relevantes e influentes dos últimos anos, no cruzamento entre a arte, a cultura vernáculo, a tradição rural e a paisagem.

A inauguração de “Blossom” acontece na galeria AP’ARTE, no Quarteirão artístico da cidade, na Rua Miguel Bombarda, pelas 16 horas. Poderá facilmente formar parte desta celebração da artista, pois a estação de metro dos Aliados fica a escassos metros do espaço. A mostra estará patente até ao próximo dia 4 de novembro.

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