Cada vez é mais comum vermos espaços físicos publicitários transformarem-se numa espécie de “museu ao ar livre”. O objetivo é dar a oportunidade a artistas para expressarem a sua reflexão sobre questões sociais, políticas e emocionais, enquanto compartilham perspetivas com o público e provocam um debate. A pensar nisso, a BIGoutdoors e a Dreammedia juntaram-se à Liter para democratizar o acesso à arte.
Tiago Magueta, 29 anos, e Guilherme Rebola, 30, são dois amigos de longa data que decidiram meter “mãos à obra” e criar algo que levasse a cultura para as ruas. Na pandemia e, motivados pela luta do setor cultural para sobreviver, os dois criaram a Liter, uma plataforma que procura dar uma nova perspetiva às obras de arte.
“A Liter tem como principal missão a democratização da cultura, fomentando a igualdade, a liberdade e a partilha de experiências culturais. Pretendemos também fornecer ferramentas que permitam aos artistas promover a sua arte. Nunca é demais referir que Portugal tem excelentes e talentosos artistas que, muitas vezes, não são enaltecidos e valorizados”, explica à NiP Guilherme, gestor, consultor e co-fundador da plataforma.
Este ano, os dois amigos promovem a terceira edição do festival RECLAM’ARTE, mas numa dimensão mais alargada. Pronta para levar os maiores nomes da arte urbana e digital para junto da comunidade, esta iniciativa visa enriquecer significativamente o ambiente cultural do espaço público. Arte na rua, tão perto, e de forma gratuita é o mote para esta edição.
O conceito é simples: convidar artistas plásticos a romperem com o ambiente virtual das redes sociais, oferecendo-lhes uma plataforma que esteja acessível ao grande público, através da exposição das suas obras de arte em monopostes e suportes digitais localizados nas principais vias das auto-estradas, estradas nacionais e em locais de passagem, espalhados de norte a sul do País.
“O festival surge da vontade de querer fazer algo novo, queríamos democratizar a cultura sem olhar a raças, credos, idades, géneros ou classes. Desejávamos levar os artistas e a cultura para a rua e nada melhor que as estradas que são vias de comunicação que a maioria dos portugueses percorre todos os dias. Sendo os outdoors um mobiliário urbano tão presente nas nossas vidas e nas nossas estradas como um excelente meio de publicidade, por que não usá-los também como telas”, acrescenta Tiago, co-fundador da Liter.
Vasco Gargalo, Clara Não, Another Angelo, ±MAISMENOS±, Sara Tarita, Hugo Van Der Ding, by castro, Luísa Azevedo, Daniel Garcia, Juan Domingues e Nuno Viegas são os artistas convidados sendo que Daniel Garcia e Juan Domingues são novidades neste painel artístico, assim como a dimensão geográfica do projeto, como já mencionado: os outdoors vão estender-se de norte a sul do País e, pela primeira vez, com reprodução de obras em vídeo.
“O apoio à arte contribui para uma sociedade culturalmente rica, criativa e socialmente envolvida, com inúmeros benefícios, que vão desde o desenvolvimento económico até ao bem-estar pessoal e cultural. A arte embeleza o ambiente e enriquece a experiência estética das pessoas, tornando a vida mais vibrante e significativa”, admite Pedro Bastos, CEO da BIGoutdoors, parceiro da plataforma cultural nesta edição do festival.
No Porto, poderá encontrar as obras de Clara Não na A20 Gaia/Porto. A arte de Nuno Viegas também está na direção Gaia/Porto mas, desta vez, na A1. Em Matosinhos, o destaque vai para a arte de by castro. As restantes localizações ao longo do País passam por Lisboa, Sacavém, Cantanhede, Coimbra, Maia, Lisboa/Loures, Santa Maria da Feira e Moscavide/Loures.
A obra da Clara Não é aquela que vem ganhar um maior destaque, que vai para além de questões políticas e sociais e baseia-se mais numa reflexão pessoal que quer refletir e promover no público. A frase “Tudo o que quero é estar bem comigo mesma” pode ser encontrada na A20 e é uma alteração de uma frase previamente criada pela ilustradora de 30 anos e que faz parte da sua nova agenda para 2024, intitulada “Vai ser desta”.
“O que realmente quero, e acredito que muita gente também, é sentir-me bem comigo mesma: fazer o melhor que posso, nas circunstâncias que tenho e desistir da culpa para não desistir de mim”, afirma à NiP, acrescentando: “Participar no RECLAM’ARTE é uma excelente oportunidade para chegar a outro público, que de outra forma poderia não conhecer o meu trabalho e de, esperançosamente e acima de tudo, fazer alguém esboçar um sorriso e de promover essa luta por nós mesmos pelo nosso bem-estar, ninguém o pode fazer totalmente por nós. Tem de começar cá dentro”.
Guilherme e Tiago, amigos e fundadores da Liter, apelam ainda para a importância de investir em novas formas de divulgar a arte em Portugal sendo, por vezes, necessárias tomar medidas ousadas para apoiar os artistas e fortalecer o setor cultural no País. Embora o emprego na área cultural tenha registado um incremento de 5,4 por cento em relação a 2021 e corresponda a 4 por cento do emprego total, o Orçamento de Estado para 2023 ainda deixa a Cultura aquém da meta de 1 por cento, representando apenas 0,43 por cento da despesa total.
De seguida, carregue na galeria para conhecer as obras que poderá encontrar nas estradas do Porto e até ao sul do País.