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Bezegol: “Tomar conta do Coliseu por uma noite e ser o mestre de cerimónias é uma grande honra”

O músico portuense sobe ao palco a 22 de fevereiro com a sua banda e convidados como Rui Veloso e Deau.
Vai ser uma noite que vai marcar a cidade do Porto.

O músico portuense, conhecido por explorar sonoridades tão distantes como o rap, reggae e até fado, celebra 25 anos de carreira no dia 22 de fevereiro, sábado, no Coliseu Porto Ageas. O concerto vai contar com convidados especiais, com destaque para Rui Veloso, Mundo Segundo e Deau, acompanhado pela Rude Bwoy Banda, com a qual Bezegol tem percorrido palcos de norte a sul do País.

Aos 52 anos, Bezegol tem uma carreira com quase duas décadas, vários fãs, três álbuns, dois EP em nome próprio e dezenas de colaborações. O artista é, sem dúvida, uma referência, fruto de um timbre inconfundível e único na música que se faz no Porto e no País, claro.

Cresceu ao ouvir fado, porque o seu pai já cantava. Assume-se como um dos grandes “poetas urbanos” do panorama musical nacional, tendo sido, durante anos, presença na noite da cidade do norte até que se mudou para o estrangeiro, em 1995. Depois de um interregno de quase cinco anos, regressou a Portugal e fez nascer o seu primeiro registo oficial em colaboração com Wolfgang Schlögl, editado no álbum de IWolf, “Sincerly Yours”.

Em 2003 compôs o seu primeiro single, “Fire”, para a primeira compilação da Matarroa. A persistência levou-o a trilhar um novo rumo por sonoridades pouco exploradas na altura em Portugal, do reggae ao hip hop até à guitarra portuguesa, acompanhado por uma voz crua de homem rude. Em 2007, chegou ao top da Antena 3 e do iTunes com o tema “Forever Love”, dedicado ao seu primeiro filho, que veio a ser o seu primeiro álbum de originais, “Rude Bwoy Stand”.

Passados dois anos, Bezegol parte para Colónia como convidado, entre 19 artistas de outras nacionalidades, para a criação do projeto “Koalas Desperados”. Gravou sete temas, entre os quais “Tempu” e partiu em tour por terras germânicas com a banda. Consciente de que “o tempo não volta atrás” produziu, no mesmo ano, o EP “Rude” a convite de Henrique Aamaro, “uma produção fugaz que ficou na história” e que contou com a colaboração de Tó Trips no tema “Rude Sentido”.

A ascensão do músico prosseguiu com “Monstro”, seres transversais que vivem em todo o lado, seja na cabeça do artista, nas ruas, no Parlamento, nos gestos e até na música. “Fugir à norma” sem escapar da realidade é um dos lemas de Bezegol, que incita à luta, à criação artística sem conformismos com uma forte mensagem. Exemplo disso mesmo é o tema “Fora da Lei”, no primeiro registo da Rude Records.

Em 2013 edita “S.A.C.A.N.A.” e cimenta a posição de músico interventivo mas versátil, seja pelas diferentes sonoridades como pelas temáticas líricas, umas em português e outras em inglês. Sem discriminação, porque a música não tem donos, cor ou nacionalidade, saíram temas distintos como “Rainha sem Coroa”, “Beat on the Brat” ou “Era tão bom”. No final de 2017 lança “Maria” com a participação de Rui Veloso. O tema já conta com mais de dez milhões de visualizações no YouTube.

Em 2024, lança os singles “A Palavra” e “Acorda ó Zé”, em preparação dos 25 anos de carreira. No dia 22 de fevereiro, o artista promete revisitar alguns dos temas mais marcantes destes últimos anos bem como os mais recentes lançamentos.

Bezegol recusa-se a revelar o seu verdadeiro nome. Contudo, a história da sua alcunha artística tem por base o calão antigo. Nos bairros do Porto, de onde é natural, “bezegol” era uma calão para haxixe e funcionava como um código, isto é, “oh pá, tens bezegol?”.

Desde miúdo, o artista ouvia a expressão e, mesmo depois de saber o que significava, em tom de brincadeira, começou a chamar “bezegol” a toda a gente. Tinha cerca de 12 anos e sempre que andava na rua, as pessoas diziam: “Olha, vem aí o Bezegol”, que era o rapaz que chamava assim a toda a gente. A partir daí, tornou-se conhecido por este calão. O resto é história.

A New in Porto falou com Bezegol a propósito destes 25 anos de carreira e em jeito de antevisão do concerto no Porto. Os bilhetes já se encontram à venda online por 25€. Para adquirir ingressos de Mobilidade Condicionada, contacte as bilheteiras do Coliseu Porto Ageas através do número 223 394 940 ou pelo email bilheteira@nullcoliseu.pt. A estação de metro dos Aliados fica próxima da sala de espetáculos.

Leia a entrevista na íntegra que Bezegol deu à New in Porto.

O que podem esperar os portuenses (e não só) deste concerto de celebração?
Podem esperar cerca de duas horas e meia de concerto, onde vamos revisitar os temas destes últimos 25 anos. Vamos ter o Rui Veloso, o Mundo Segundo, o Deau, como convidados. Também vamos levar temas novos que fizemos durante o ano passado, incluindo um que vamos lançar ainda este mês, com o Deau e o Mundo Segundo, acompanhado com a Rude Bwoy Band. Estamos a preparar tudo para celebrar com o nosso público, que é o que nos tem mantido aqui estes anos todos e que tem ajudado o projeto a manter-se vivo. Por essa razão é que estamos a fazer esta celebração no Coliseu, para podermos acolher toda a gente da melhor forma possível. Vai ser mesmo uma noite de festa.

Fazendo uma retrospetiva da sua carreira, o que é que mais o marcou ao longo destes 25 anos?
Sei lá, há tanta coisa que podia estar a apontar, mas acho que uma delas é mesmo sentir a evolução que tenho conseguido fazer do projeto, que começou com um DJ e um MC e hoje é uma banda enorme e com três álbuns e dois EP’s, uma série de participações que fizemos no decorrer deste tempo. Então, acho que o que posso destacar é o que se tem conseguido atingir com isso, sendo um projeto não comercial, é muito bom chegar ao fim dos 25 anos e podermos levar ao Coliseu o projeto e apresentá-lo da melhor forma possível.

Olhando para trás, o que diria ao Bezegol mais jovem e aos artistas emergentes que querem construir uma carreira sólida?
Acho que a única coisa que devem mesmo fazer é serem persistentes, porque nem sempre é fácil. Há muitos altos e baixos, alturas em que temos trabalhos mais concertos, outras em que temos muito poucos. Acreditem no trabalho que estão a fazer, sejam persistentes e nunca descurem a qualidade que passam cá para fora. Se não descurarem isso, com certeza que, a seu tempo, o público aparecerá e o reconhecimento também virá a partir daí, do empenho que eles puserem nisso e da seriedade com a qual levarem o projeto. Portugal é um País muito pequeno, não podemos querer tudo de forma imediata. Então, o melhor é mesmo fazer tudo com calma, levar as coisas com seriedade, sermos fiéis ao que estamos a fazer. O resto vem com o tempo.

Tem algum tema ou música que gosta mais de tocar em palco?
A pergunta é muito ingrata, porque cada tema leva o seu tempo e o empenho que a gente põe neles é quase sempre igual, porque passa sempre pelo processo da ideia ser posta no estúdio, de ser tocada pelos músicos. Depois de traduzidos ao vivo, é claro que há temas que dão mais prazer em tocar do que outros, até porque se tornam mais fluídos quando vamos para o palco ou porque a formação que temos agora neste momento consegue pôr mais brilho, há temas que dão mais prazer em tocar, mas nomear só um era um bocado injusto. Agora, é claro, um tema como o “Maria”, que fiz com o Rui, ou o “Diz-me Só” ou “Fora da Lei” ou “Rainha Sem Coroa”, marcaram-me bastante, porque são temas a que o público se habitou. Nós próprios estamos habituados a ter o público a cantá-los connosco. Esses temas ajudaram-nos muito a crescer, a ganhar palco, digamos assim. O “Monstro”, o “Descentido” são tudo temas que marcaram muito o nosso percurso nestes 25 anos e que nos fazem também poder estar no Coliseu. Até porque estamos a produzir uma noite para o nosso público, que é quem merece este esforço, porque também foi quem nos conseguiu manter aqui.

Falando agora da sua ligação ao Porto, o que é que mais gosta de fazer na cidade?
Ora, isso é quase como as músicas [risos]. Um sítio para comer cá é difícil, porque felizmente no Porto come-se muito bem, mas sei lá, por exemplo, adoro comer uma francesinha no Afonso, ir ao Euskalduna provar um prato do Vasco, ir ao Rino, comer um japonês e passar pela Casa Nanda para comer umas tripas. O Porto é uma cidade fantástica, sou muito grato por ter nascido aqui, adoro esta cidade. Ainda agora, estou aqui a dar esta entrevista e estou sentado em frente ao Passeio Alegre, que é um jardim lindo. O Porto é maravilhoso, adoro esta cidade, foi aqui que nasci, na Maternidade. Chegar ao fim de 25 anos de carreira e poder ir ao Coliseu reunir-me com o público é mesmo é maravilhoso.

Para terminar, o Coliseu é o seu espaço favorito na cidade para tocar ou assistir a um concerto ou tem outro spot cultural que se destaque?
Tenho, claro. Seria injusto não falar do Hard Club, que é uma casa que vi crescer e que me viu crescer a mim. Durante muitos anos, apresentei lá o meu trabalho, bem como a Casa da Música. Agora, o Coliseu é como riscar da caderneta uma das salas que me faltavam no Porto. Já tive a honra de tocar nos Aliados e foi fantástico. Então, o Coliseu acaba por ser isso, é aquela sala do Porto que é icónica. Poder tomar conta dela por uma noite e ser o mestre de cerimónias é uma grande honra. Espero dar o meu melhor no concerto nessa noite, tal como a banda e toda a equipa envolvida. Estamos a trabalhar para que seja uma noite imperdível e inesquecível.

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