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De Camões a Shakespeare: já conhecemos a programação do TNSJ para 2025

Entre janeiro e julho, a instituição portuense traz 24 espetáculos, incluindo estreias absolutas de duas produções próprias.
A icónica sala de espetáculos portuense.

Na passada quinta-feira, 19 de dezembro, Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional São João, e Nuno Cardoso, diretor artístico, revelaram as próximas produções próprias, coproduções, digressões, projetos educativos, entre outras iniciativas para os primeiros sete meses de 2025. 

“O ano de 2025 servirá para nos redefinirmos para um novo horizonte temporal. Esperam-se mudanças em vários planos, desde a personalidade artística das nossas salas à estratégia de coprodução de projetos, sem esquecer a área educativa e a nossa política de responsabilidade social”, começa por revelar Pedro Sobrado, afirmando que o próximo ano será “estratégico” para repensar o entendimento da entidade quanto à prática teatral, bem como a sua relação com a cidade, o País e o mundo. 

Em 2025, a temporada artística arranca a 8 de janeiro, quarta-feira, no São João, com o regresso do espetáculo “Fado Alexandrino”, de António Lobo Antunes, encenado por Nuno Cardoso. Já no TeCA (Teatro Carlos Alberto), a temporada arranca a 15 de janeiro, quarta-feira, com “Frágua de Amor”, de Gil Vicente, com encenação de António Augusto Barros e direção musical de Hugo Sanches.

Para Nuno Cardoso, diretor artístico da entidade, a programação de 2025 do TNSJ é uma “regurgitação”, isto é, pelas suas palavras, uma “síntese de nutrientes que se oferece e a que ninguém está obrigado”, admite.

“Podemos percorrer a programação para os primeiros sete meses do ano pelos títulos, desde o ‘Fado Alexandrino’, ‘Hamlet’ ou ‘Babel'”. Podemos percorrê-la por espaços, no nosso esforço de nos transformarmos em casas do futuro, mais acessíveis e ecológicas: vamos ao Teatro São João, vamos ao TeCA, vamos ao Mosteiro de São Bento da Vitória, bem como a outros teatros portugueses e no estrangeiro. Podemos preferir certos nutrientes como teatro, dança, música, livros e formações. Há produções próprias, coproduções, acolhimentos, festivais e espetáculos internacionais”, reforça.

A temporada começa a 8 de janeiro, no São João, com “Fado Alexandrino”. O espetáculo regressa ao palco portuense, depois da sua estreia em abril deste ano, assinalando os 50 anos da Revolução. Decorre na Última Ceia de cinco militares regressados da guerra em África dez anos antes. Estará em cena até 11 de janeiro.

Entre 15 e 18 de janeiro, é a vez de ir aos TeCA, com a “Frágua de Amor”. Trata-se de uma tragicomédia escrita por Gil Vicente em 1524, para celebrar a união entre D. João III e Dona Catarina. Entre 23 e 26 de janeiro, voltamos ao São João com “A Colónia”. O espetáculo, com direção e encenação de Marco Martins, parte de uma investigação da jornalista Joana Pereira Bastos sobre um inédito campo de férias para filhos de presos políticos, realizado nas Caldas da Rainha, entre julho e agosto de 1972.

De 20 a 23 de fevereiro, o TeCA recebe “Maurice Accompagné” para celebrar 100 anos de música e dança. É uma produção da Companhia Paulo Ribeiro, com um olhar sobre a música do último século, dividida em três “andamentos”: o início do século XX, os anos 60 e a atualidade. Para encerrar os primeiros três meses do ano, o São João recebe de 27 de fevereiro a 2 de março, “Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer”, uma obra de Victor Hugo Pontes, que pretende “reclamar liberdade absoluta”, transformando um grupo de corpos nus, numa irreprimível e contagiante massa física coletiva.

A 6 de março e 3 de maio, o São João recebe um ciclo de concertos com prelúdios poéticos. Na primeira data, a cantora uruguaia, Ana Karina Rossi dará vida ao tango argentino, acompanhada por um quinteto de músicos liderado por Héctos del Curto, famoso bandoneonista argentino. Já na segunda data, o pianista Filipe Pinto-Ribeiro promete trazer algumas das mais extraordinárias peças em piano do húngaro Franz Liszt, numa releitura musical programática do poema “Dante” de Victor Hugo e da “Divina Comédia”.

A 3 de abril e em cena até dia 27, estreia uma das duas produções do São João. “Hamlet”, é, depois da Bíblia, a obra que mais literatura gerou e relata a história do Príncipe da Dinamarca — e a história da nossa própria vacilação face a questão “Quem sou?”, lançada logo no início da peça de Shakespeare.

Entre 3 e 4 de maio, o TeCA recebe mais uma edição de “Visitações”. Nos últimos seis anos, esta iniciativa criou raízes profundas junto da comunidade escolar da Área Metropolitana do Porto. Nesta sétima edição, o projeto aterra no Porto e mais a norte, em Vila Real, envolvendo escolas e artistas desse distrito. Marta Freitas Almendra, coordenadora artística da iniciativa, pretende criar um espetáculo inserido nas comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, colhendo inspirações na sua vida e na obra “Os Lusíadas”. 

Junho traz a estreia da segunda produção do São João, a decorrer no TeCA entre 10 e 14. “Babel” é inspirado na obra d’”Os Lusíadas” de Luís de Camões e conta com encenação de Nuno Cardoso. Trata-se de uma viagem, simbólica e inquisitiva, pela comunidade e pela língua portuguesas, onde se mapeiam as tangentes e as dissidências entre o texto matricial de Camões e as demandas da atualidade, levantando a pergunta, “que lusíadas somos, hoje?”.

Em julho, entre os dias 10 e 31, o TeCA dará palco a projetos e provas finais dos alunos das várias escolas de arte do Porto. “As Escolas Artísticas no TNSJ” é o programa que cria pontes entre a formação académica e a perspetiva de um futuro profissional. O programa prevê as apresentações criadas pelos alunos finalistas dos cursos de Dança e Teatro do Balleteatro, das licenciaturas em Artes Dramáticas/Formação de Atores da Universidade Lusófona do Porto e, em Teatro pela ESAP — Escola Superior Artística do Porto.

As leituras no Mosteiro de São Bento da Vitória também estão contempladas na programação de 2025. Inspiram-se também nos 500 anos do nascimento de Camões, focando-se no teatro e na língua portuguesa, com particular atenção à dramaturgia contemporânea. As sessões decorrem sempre pelas 19 horas e estão marcadas para os dias 21 de janeiro, 18 de fevereiro, 18 de março, 15 de abril, 20 de maio e 17 de junho.

O preço dos ingressos pode variar entre os 7,50€ e os 18€ e estão disponíveis online ou nas bilheteiras do São João e do TeCA. Pode também consultar a programação na íntegra online.

Há ainda espaço para o Centro Educativo do TNSJ

Ao longo dos primeiros sete meses de 2025, a entidade portuense volta a investir no seu Centro Educativo para levar as artes — nas suas mais diversas apresentações — até as escolas e ruas do Porto. 

Entre 14 de janeiro e 1 de julho, e de 18 de janeiro a 28 de junho, o TeCA promove os seus Clubes de Teatro dos 8 aos 88 anos. Ambos os clubes pretendem assinalar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, construindo um projeto teatral da sua vida e obra. 

A primeira data decorre todas as terças-feiras, das 19 às 21 horas, com orientação de Neto Portela e Teresa Arcanjo. Já o segundo clube decorre sempre aos sábados, entre as 14h30 e as 16h30, com orientação de Emílio Gomes e João Pamplona. A inscrição custa 30€.

O Centro Educativo prevê ainda ações de formação, a decorrer sempre no TeCA. A 8 de fevereiro acontece a primeira “Oficina de Micropedagogias”, e pretende promover a aprendizagem de qualquer conteúdo curricular. Destinado a professores dos ensinos básico e secundário para fomentar atitudes de motivação, atenção e concentração dos alunos em sala de aula. É orientado por Rita Pinheiro e Rosário Costa. Tem duração de três horas e a inscrição custa 10€.

Pela primeira vez, as emblemáticas oficinas da instituição saem do teatro e vão ao encontro da comunidade. Nas semanas que antecedem a Páscoa (14 a 17 de abril) e as férias de verão (7 a 18 de julho), o trabalho será desenvolvido fora de portas, com miúdos e jovens dos Centros de Atividades de Tempos Livres das freguesias vizinhas do São João e do TeCA. Durante esses dias, os participantes vão ser desafiados a dar asas à sua imaginação e a trabalhar em conjunto para construir um projeto teatral.

Compromisso com a acessibilidade

O Teatro Nacional São João afirma-se como um espaço para todos, porque ambiciona democratizar o acesso à fruição teatral. Nesse sentido, adota práticas inclusivas para pessoas e famílias com necessidades específicas. Um exemplo disso é a realização de espetáculos e atividades paralelas com tradução em língua gestual portuguesa e com audiodescrição, destinadas, respetivamente, a espectadores surdos ou com redução de audição, bem como a cegos ou com deficiência visual.

Os espetáculos a que poderá assistir com tradução para língua gestual portuguesa são “Frágua do Amor” no TeCA, a 17 de janeiro; “Peregrinação” no TeCA, a 2 de abril; “Hamlet” no São João, a 35 de abril; “Visitações: Camões” no TeCA, a 3 de maio e, “Babel” no TeCA, a 14 de junho. “Hamlet” e “Babel” estarão ainda, nas mesmas datas, disponíveis com audiodescrição.

“I” de Inclusão

Em setembro de 2024, o São João começou a preparar caminho para, em estreita colaboração com várias entidades públicas, organizações não governamentais e associações, realizar projetos que excedem o problema que se vive atualmente na Praça da Batalha — onde mais de uma dezena de pessoas se encontra alojada nas fachadas laterais do teatro.

O objetivo é promover a integração destas pessoas em situação de emergência social. Para isso, no passado mês de novembro, a entidade doou a receita obtida em duas sessões de “O Pelicano” de August Strindberg, à Albergues Porto, no âmbito do “Porto de Partida — Rumo à Inclusão com Housing First”, programa-piloto que procura dar uma resposta de longa duração a pessoas em situação crónica de sem abrigo.

Agora, o TNSJ quer promover a integração destas pessoas no fluxo das suas atividades regulares, como os clubes de teatro ou as sessões de leitura, bem como dar acesso aos espetáculos da programação, para integrar estas comunidades. 

“O Teatro Nacional São João é mais do que um espaço de criação e fruição artística. É um lugar que acredita na potência das artes performativas para abrigar e amplificar vozes marginalizadas”, defende a organização, garantido que estas são algumas das tantas iniciativas que pretendem não esgotar no curto prazo. 

“S” de Sustentabilidade

Recorde-se que três dos quatro edifícios que compõem o portfólio patrimonial do TNSJ vão ser intervencionados em 2025. A empreitada representa um financiamento de cerca de 3,5 milhões de euros do Fundo Ambiental, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. 

O projeto envolve obras no Teatro São João, no Ateliê de Adereços e Guarda-Roupa e no Mosteiro de São Bento da Vitória. Este último será alvo das obras mais significativas, que obrigarão ao encerramento deste monumento nacional durante grande parte do ano.

Os trabalhos foram planeados com base em critérios que incluem a valorização do património arquitetónico, a melhoria dos parâmetros de segurança, o conforto e acessibilidade, o aumento da eficiência energética e a instauração de um novo paradigma de sustentabilidade ambiental. “Com estas intervenções, assumimos o compromisso de colaborar com as metas definidas pela União Europeia, contribuindo para alcançar a neutralidade carbónica em 2050”, reforça a direção.

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