cultura

Dos cavalos no Texas ao casamento desastroso com Johnny Depp: a história de Amber Heard

Está a ser acusada pelo ex-marido de difamação e violência doméstica. Tem 36 anos e cresceu num meio conservador.
Amber Heard tem 36 anos.

Nos dias que correm, o nome de Amber Heard está nas manchetes — físicas e digitais — de quase todos os meios de comunicação social. A atriz de 36 anos está a ser processada pelo ex-marido, Johnny Depp, por difamação. O julgamento, que está a ser transmitido em direto, tornou-se super mediático, com acusações de parte a parte, gravações secretas feitas por ambos e uma guerra aberta entre dois antigos amantes. 

O processo foi movido por Depp após Amber Heard ter assinado um artigo de opinião no jornal “The Washington Post”, em 2018, em que relatava a sua alegada experiência como vítima de violência doméstica. O ator exige uma indemnização de 50 milhões de dólares (o equivalente a 46 milhões de euros).

Apesar de nunca mencionar o nome de Depp, os advogados do ator dizem ser claro de que as acusações se referem ao ex-marido, e que isso tem afetado a sua reputação e carreira. Antes do artigo, Amber Heard já tinha acusado publicamente Johnny Depp de a agredir e estrangular em episódios violentos e voláteis. Por sua vez, o ator tem testemunhado e exibido provas que apoiam a teoria de que foi ele a verdadeira vítima naquela relação.

O que muitas pessoas talvez não conheçam é a história de Amber Heard. Nasceu em Austin, no Texas, filha de Patrícia Paige (uma investigadora em questões relacionadas com a Internet) e David Clinton Heard (que tinha uma pequena empresa de construção civil). Amber tem uma irmã mais nova, Whitney, e cresceu numa família católica, de classe trabalhadora, nos arredores da cidade.

Teve uma infância muito ligada aos cavalos, à caça e à pesca, atividades que costumava fazer com o pai. Desde muito cedo que começou a participar em concursos de beleza, apesar do desacordo do progenitor — recolhia fundos junto de pequenos negócios para conseguir financiar material promocional. Atualmente, não suporta “a objetificação” daqueles concursos, revelou numa entrevista à “Glamour”.

Foi criada num meio conservador e frequentou uma escola católica onde os alunos podiam fazer protestos à frente de clínicas de abortos para ganhar créditos para evitarem fazer as muitas horas de serviço comunitário que lhes eram exigidas. As coisas mudaram por volta dos 16 anos, quando a sua melhor amiga morreu repentinamente num acidente de viação. Tornou-se, como descreveu na mesma entrevista, uma “ateia vegan e bissexual obstinada”. “Tinha  algumas coisas contras as quais me rebelar”, disse, acrescentando que estava saturada do “Texas conservador e devoto a Deus”.

Aos 17 anos, abandonou a escola secundária — que só concluiu mais tarde — para se mudar para Los Angeles. Foi a trajetória clássica de uma jovem que deu o tudo por tudo para chegar a Hollywood e fazer castings para todos os papéis que conseguisse. O seu visual terá sido fundamental para começar a participar em projetos — Amber Heard também já tinha feito alguns trabalhos como modelo.

“Candidatava-me a tudo, desde ‘rapariga gira 3’ a ‘festa da filha a despedir-se para a faculdade’”, disse, referindo-se aos papéis de figurante a que concorria, que praticamente não tinham falas. “Andava de um lado para outro, muitas vezes de autocarro, e mudava de figurino no bancos de trás.”

Apareceu em dois videoclipes, os das músicas “There Goes My Life” (de Kenny Chesney) e “I Wasn’t Prepared” (de Eisley). Teve pequenos papéis nas séries “Jack & Bobby”, “The Mountain” e “The O.C.”. E estreou-se no cinema em 2004, no drama desportivo “Luzes de Sexta à Noite”. Desde então foi subindo a pulso, aos poucos, fazendo pequenos papéis em diversos projetos.

O seu primeiro trabalho como protagonista chegou em 2006, no thriller “Sedução Mortal”, que estreou no prestigiado festival de cinema de Toronto — embora tenha demorado bastante tempo a chegar ao circuito comercial. Mas foi a partir de 2008 que Amber Heard se começou a tornar um nome (e rosto) conhecido em Hollywood. 

Nesse ano participou em “Alta Pedrada” e “Até Ao Último Combate”, filmes que foram enormes sucessos de bilheteira. Nessa altura, namorava com a fotógrafa Tasya van Ree. Em 2009, Heard foi detida em Washington por violência doméstica, depois de alegadamente agarrar e bater no braço da namorada. Nunca foi acusada formalmente.

O caso só se tornou público durante os procedimentos relativos ao divórcio de Johnny Depp, em 2016. Depois da revelação, Tasya van Ree emitiu um comunicado onde dizia que Amber Heard tinha sido “erradamente” acusada e que o incidente tinha sido “mal interpretado e demasiadamente sensacionalizado”. Mais tarde, em 2018, Amber Heard diria à revista “Porter” que a tinham aconselhado a não se assumir como bissexual, pois podia ver a sua carreira prejudicada. “Toda a gente disse que nunca outra atriz a trabalhar se assumiu como bissexual — disseram-me que ia perder tudo. Estava assustada de morte, mas a verdade é a única coisa sustentável.”

Depois, participou em projetos como “Uma Família com Etiqueta”, “Destino Infernal” e “O Diário a Rum”, onde conheceu Johnny Depp — formava par amoroso com o ator nesta história. Depp e Heard iniciaram uma relação por volta de 2012 e casaram-se em 2015, sendo que o casamento apenas durou 15 meses. 

Nesta fase, participou em filmes como “Paranóia”, “Machete Mata”, “Magic Mike XXL” ou “A Rapariga Dinamarquesa”. Foi também uma das celebridades que foram vítimas, em 2014, de uma divulgação em massa de fotografias íntimas.

Em 2017, a sua popularidade cresceu ao interpretar Mera, uma super-heroína do universo da DC Comics. Desempenhou o papel nos filmes “Liga da Justiça” e “Aquaman” — além de ter entrado, claro, no director’s cut do realizador Zack Snyder de “Liga da Justiça”. Neste julgamento com Johnny Depp, foi confirmado que Amber Heard quase foi despedida da sequela de “Aquaman”, “Aquaman and the Lost Kingdom” (que vai estrear em 2023), por falta de química com o protagonista Jason Momoa. Foi um dos muitos assuntos paralelos referidos em tribunal.

Segundo uma psicóloga contratada pelos advogados de Johnny Depp, que deu o seu testemunho, Amber Heard sofre de transtornos de personalidade que motivam “comportamentos extremos”. Johnny Depp acusou a ex-mulher de sentir necessidade de violência, de ter recusado uma “solução pacífica”, e de ter alterado a personalidade cerca de um ano e meio após terem iniciado a relação. 

Depois de Johnny Depp, chegou a namorar com o bilionário Elon Musk durante cerca de um ano, até ao início de 2018. Em 2021 foi mãe de Oonagh Paige Heard, recorrendo a uma barriga de aluguer. Ao longo dos anos tem sido embaixadora de várias marcas e uma voz ativa na luta por vários direitos sociais, desde as causas LGBTQI+ até às campanhas de direitos humanos promovidas pela ONU. O seu ativismo não é de agora — desde os primeiros dias em Los Angeles que começou a trabalhar em “hospitais de crianças, escolas especiais e miúdos desfavorecidos”, como descreveu à “Porter”.

“Pertenço ao mundo real”, rematou. “E já vivi o verdadeiro inferno. Todos os dias acordo e tomo a decisão de tornar tudo aquilo por que passei em algo bom. Tenho de o canalizar para algum lado, mesmo quando me atiram pedras.”

Conheça também o significado das roupas que Amber Heard tem vestido durante o julgamento. 

MAIS HISTÓRIAS DO PORTO

AGENDA