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Drogas, violência doméstica e racismo: a vida inesperada do filho de Tom Hanks

Chet é filho do "pai da América", mas está longe de manter a imagem querida e acarinhada que o ator cultivou nas últimas décadas.
Chet é filho de Tom Hanks e Rita Wilson.

“Ok, vamos lá ser honestos — 99 por cento de vós não usaria um champô que não fosse aprovado pela FDA, mas estão dispostos a receber uma injeção experimental do governo”, atirou num vídeo publicado nas redes sociais. “Há mais provas de que os OVNI são reais do que as que demonstram que a vacina nos faz bem.”

Este foi mais um dos bizarros episódios na vida de Chet Hanks, filho de um dos homens mais queridos pelo público norte-americano — não foi por acaso que recebeu a alcunha de o “pai da América” — mas que tem demonstrado ser tudo menos uma figura consensual. É, aliás, uma espécie de patinho feio da família Hanks.

A posição anti-vacinas de Chet torna-se ainda mais estranha depois do ativismo demonstrado pelos pais, Tom e Rita Wilson, que foram dos primeiros famosos a serem infetados e hospitalizados. Nas semanas seguintes, apelaram publicamente a favor das medidas contra a pandemia. Nem isso demoveu o filho de Hanks, ator e rapper, que claramente não saiu aos pais — nem aos irmãos.

Colin é talvez o herdeiro mais conhecido. Aos 43 anos, é já um ator respeitado, com papéis em “Mad Men” ou “Fargo”. É, conjuntamente com Elizabeth — também ela atriz e produtora —, fruto do primeiro casamento de Tom Hanks.

Chet (Chester) foi o primeiro filho da relação com Rita Wilson, com quem haveria de ter mais um filho, Truman, mais discreto mas também com algumas participações secundárias em produções cinematográficas.

Por sua vez, Chester também aproveitou o poder do apelido para arriscar alguns papéis como ator. Participou em vários episódios de “Shameless”, “Empire” e “Your Honor”, mas é como artista de hip-hop que deu nas vistas, não pelos melhores motivos.

As duas carreiras começaram quase em simultâneo. Era ainda um estudante universitário quando gravou o primeiro tema sob o nome de Chet Haze. Felizmente e infelizmente, o seu apelido valeu-lhe mais atenção do que aquela que pretendia e acabou por ser acusado de plágio.

Perante a acusação, encolheu os ombros. “É porque não conseguiu ter tanta popularidade como a minha”, diz de Mo Greene, autor do tema semelhante ao seu, numa entrevista de 2011 à “Vice”, no seu ano de estreia como músico. “Estou ciente de que o facto da minha música estar a ter tanta atenção tem a ver com o ser filho do Tom Hanks. Estou agradecido, mas por vezes na vida, isso pode criar momentos estranhos”, sublinhou.

Quatro anos depois, a sua atitude voltava a ser tema de conversa e controvérsia quando num novo tema usava recorrentemente a palavra “nigga”, um termo que deriva de “nigger” [preto] habitualmente usado entre negros e no hip-hop, mas tido como altamente pejorativo quando usado por brancos.

À inevitável avalanche de críticas, Hanks ripostou de forma agressiva. Numa resposta feita no Instagram, repleta de insultos como “pretos” e “maricas”, ataca os invejosos e defende, posteriormente, o uso da palavra.

Foi também em 2015 que, num acesso de raiva, terá destruído um quarto de hotel em Londres, com prejuízos calculados em cerca de 1.500€. Porquê? Viria a defender-se mais tarde num vídeo partilhado nas redes sociais, onde admitiu ter dado entrada numa clínica de reabilitação.

“Há uns meses andava a vender e a consumir cocaína até não conseguir snifar mais porque o meu nariz já estava completamente tapado”, contou. “Até cheguei a fumar crack. Mas se eu consigo mudar, tu também consegues. Existe uma solução.”

Parte da culpa atribuiu-a ao facto de ser precisamente o filho de Tom Hanks. “Foi uma longa jornada para mim, descobrir quem eu sou, fruto de todas as pressões que sofri durante a minha vida, ser filho do meu pai e tudo isso, tentar perceber onde é que eu encaixo”, justificou.

Numa resposta feita no Instagram, repleta de insultos como “pretos” e “maricas”, ataca os invejosos e defende, posteriormente, o uso da palavra.

Haveria de voltar ao tema mais tarde, claramente incomodado com o legado do pai. “Se eu inventasse a cura para o cancro, saíria um artigo a dizer ‘Filho de Tom Ganks inventa a cura para o cancro’, percebes o que digo? É inevitável”, revelou numa entrevista de 2019. 

Também a polémica racista haveria de ser abordada mais tarde, mas desta vez com Hanks a assumir o erro. “Antes de mais, eu estava sob o efeito de muitas drogas”, notou numa entrevista em 2018. “Queria ser fixe, percebes? Sentia que não pertencia. De forma subconsciente, e olhando agora para trás, percebo que estava a gozar. Pensei que dizer umas asneiradas e fazer umas maluqueiras poderiam ajudar a minha carreira. E acabei por fazer a coisa mais idiota. Essa merda não foi nada cool.” 

De lá para cá, não há registo de novos abusos da palavra, mas nem por isso diminuiram as polémicas. Primeiro, na carpete vermelha dos Globos de Ouro de 2020, cerimónia onde o pai foi galardoado com o prémio de carreira Cecille B. DeMille. Do lado de fora, Chet gravava um vídeo a imitar um sotaque jamaicano.

Ainda em 2021, o lançamento do seu novo tema voltou a provocar polémica. Chet Hanks decretou que este seria o “verão dos rapazes brancos”, uma declaração que caiu mal nas redes sociais — e ainda pior quando o merchandising foi divulgado. O uso de um tipo de letra gótico, habitualmente usado por nacionalistas brancos, reacendeu a controvérsia.

Enquanto tudo isto acontecia, explodia o derradeiro caso que viria manchar definitivamente a imagem do filho de Tom Hanks. Em janeiro, um tribunal aprovou um pedido da sua ex-namorada que o obrigava a manter-se afastado de si, tudo isto após uma alegada luta conjugal.

Kiana Parker relatou à polícia que Hanks a terá agredido num hotel de Nova Orleães, isto durante as gravações de “Your Honor”. Durante o confronto, Chet partiu-lhe o telemóvel, atirou garrafas e avisou-a de que nunca ninguém acreditaria em si: “És só uma cabra preta do bairro”, terá dito.

Não foi tudo. Hanks terá voltado a agredi-la enquanto Parker tirava as suas coisas da casa de ambos. Durante a discussão, terá mesmo puxado de uma faca, o que provocou um confronto físico. Hanks viria a protagonizar mais um dos seus polémicos vídeos, onde a acusava de o ter atacado. “Ela está doida porque a apanhei a roubar, a tirar-me dinheiro, os meus cartões de créditos com os quais pagava a renda”, explicava com a cara ensanguentada.

Seguiu-se uma batalha legal, com Hanks a processar Kiana por agressão e roubo. Pelo meio, um tribunal suspendeu a sua licença de uso e porte de arma. A resposta não tardou e o contra-processo surgiu um mês depois, com Kiana Parker a acusar Hanks de múltiplos casos de agressão.

Seja qual for o resultado da batalha legal, é pouco provável que Hanks desapareça tão cedo das manchetes. Além dos recentes impropérios atirados à vacina contra a Covid-19, regressou à televisão para tocar em todas as feridas do seu passado. Mostrou-se orgulhoso do seu patois jamaicano, reafirmou a vontade de fazer deste verão o verão dos miúdos brancos e queixou-se novamente da infância sob o apelido Hanks. “As pessoas assumem que eu vivi uma vida super-privilegiada e não foi esse o caso. Foi precisamente o oposto. Nem sequer recebia uma mesada”, disse numa entrevista.

E acrescentou: “Não sei se sou o mais rico dos miúdos pobres ou se sou o mais pobre dos miúdos ricos.”

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