Sabemos que o verão está aí quando os festivais começam a invadir a cidade. Apesar de ainda faltar pouco de um mês para o primeiro grande festival de música no Porto, até lá vai haver espaço na agenda para celebrarmos outro tipo de artes, como o teatro. É esse o objetivo do FITEI — Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, que regressa para a sua 48.ª edição com 16 espetáculos, dos quais seis são estreias nacionais e quatro, estreias absolutas. Além dos polos no Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Viana do Castelo, para esta edição, o evento estreia-se em Monção.
Sob o tema “Espectros, Eros e Sacrifícios” o objetivo é dar destaque principal a novas dramaturgias e linguagens cénicas de autor. O festival arranca esta quarta-feira, 14, e estende-se até 25 de maio. “Num tempo em que se fala muito sobre dívida e reparação, o FITEI apresenta-se como um lugar privilegiado onde as antigas potências colonizadoras ibéricas e o sul global dialogam. O festival assume uma dimensão digamos, mágica, que tenta responder as questões destas temáticas”, explica à NiP, Gonçalo Amorim, diretor artístico do festival.
O FITEI destaca-se no panorama dos festivais nacionais e internacionais, por trabalhar no triângulo atlântico, isto é, dando palco a artistas e projetos de Europa, África e América. “Nos últimos anos temos tido particular interesse por artistas da diáspora nestes três territórios, expandindo desta forma o que se entende por ‘Expressão Ibérica'”, acrescenta o responsável.
Quanto às escolhas programáticas desta edição, o criativo garante as decisões foram na direção de artistas cujo trabalho explora os efeitos que os problemas políticos, sociais, económicos e outros têm causado na sua vida profissional e pessoal.
O que vai poder ver no FITEI no Grande Porto
O espetáculo de abertura está marcado para esta quarta-feira no Teatros Carlos Alberto, no coração do Porto. “Vampyr” de Manuela Infante fará as honras com uma peça que se assume como um pseudo documentário sobre “criaturas obstinadas”. As personagens estão meio mortas e meio vivas, sendo metade animais e metade humanos. A peça quer oferecer um olhar sobre o cansaço e a energia, o trabalho e o descanso.
No dia seguinte, o Teatro Campo Alegre recebe “Furo Lento”, de Rui Paixão, que sugere um olhar pouco otimista sobre o futuro. O artista usa o teatro físico e o circo para criar um espetáculo sobre a futura inabitabilidade do planeta e a ideia da colonização espacial. O espetáculo repete-se no mesmo palco no domingo, 18.
Ainda esta quinta-feira, sobe ao palco “Anna Karénina” com encenação de Carme Portaceli. Trata-se de uma das histórias mais famosas da literatura que ganhará vida no Teatro Nacional São João. A peça estará em exibição também na sexta-feira, 16.

Numa colaboração de Carlos Costa e Jorge Palinhos, surge um espetáculo pensado para um reservatório de água desativado, na cidade do Porto, na zona do Amial. “A Memória do Aqueduto” dá continuidade às criações da companhia Visões Úteis para sítios específicos. A instalação-performance vai decorrer em diversos espaços e patrimónios da cidade a 15, 16, 17, 19, 20 e 21 de maio.
“Ululú” significa placenta em forro ou lúngwa santomé e é também o nome da mais recente produção de Raquel Lima que explora um antigo ritual da cultura são-tomense. O úlulu é plantado, juntamente com o cordão umbilical, no grande quintal da família. Assim, segundo as gerações mais antigas, os miúdos crescem e viajam pelo mundo mas sabem sempre regressar à terra onde nascem. A performance vai estar no Teatro Rivoli a 17 e 18 de maio e junta música, movimento e poesia.
O arranque da segunda semana do FITEI fica a cargo do artista espanhol Alberto Cortés que regressa ao festival com a invenção de um mito e explorando a sua história pessoal, expondo a necessidade de cuidados extremos nas relações queer, marcadas pela herança patriarcal. “Analphabet” apresenta um espírito romântico que se manifesta nos casais que estão “destinados” a trair-se. Esta estreia e co-produção vai estar no palco do Rivoli a 21 e 22 de maio.
“Morrer pelos Passarinhos” é a colaboração de Henrique Furtado Vieira e Lígia Soares, que se juntam pela primeira vez numa cocriação para estudar, reproduzir e reinventar formas artísticas resultantes de sistemas em colapso. “Esta é uma coleção de rituais fúnebres que nos possam confrontar com o vazio, com o medo, com a desumanização mas, principalmente, uns com os outros”, explicam os criativos. A peça também estará em cena no Rivoli, a 22 e 23 de maio.
“Popular”, de Sara Inês Gigante, é o espetáculo que fecha a 48.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Com partida na autoficção de que a criadora e intérprete pretende ser uma artista popular, a encenadora e atriz portuense pretende desafiar os padrões do panorama cultural e do universo popular através de uma fusão entre os dois. A proposta serve-se da fricção existente entre a cultura de elite e a cultura de massas para pensar o público enquanto coletivo e as divisões sociais que esta tensão pode refletir. Terá duas apresentações no Teatro Campo Alegre, a 24 e 25 de maio.
Outros programas na 48.ª edição do FITEI
O evento volta a servir ainda de espaço para companhias e artistas, em processo de criação, desenvolverem os seus projetos em contexto de residência artística. Por outro lado, para esta edição, a organização volta a investir no “FITEI ABERTO”, isto é uma série de atividades de entradas gratuitas. Estão previstos performances, concertos, exposições, conversas, lançamentos de livros e festas. Este programa está a cargo dos artistas Rui Paixão e Isabel Ruth. Pode consultá-lo online.
Está ainda previsto um programa especial pensado para as escolas do Porto, bem como um conjunto de ações de formação, como encontros, masterclasses e workshops, aberta à comunidade e paralela aos espetáculos. Isto é, os artistas que passam pela cidade vão partilhar com o público interessado, os procedimentos criativos por trás dos trabalhos. Farão parte destes encontros Marina Otero, Ébana Garín Coronel, Alexandre Dal Farra, Ruy Filho, Lígia Soares, Henrique Furtado Vieira e Marcelo Lazzaratto. A programação e respetivas inscrições podem ser feitas online.
Na primeira semana do festival vai decorrer ainda o “FITEI PRO”, isto é, atividades específicas para programadores internacionais. Conta com encontros, mesas redondas e showcases entre artistas e programadores. Segundo a organização, a ideia é “promover e consagrar o talento nacional emergente”.
O preço dos bilhetes para assistir as diferentes peças encontram-se à venda online e nas bilheteiras locais. Os preços variam entre os 5€ e os 10€. Pode ainda consultar no site do evento quais os espetáculos que vão decorrer nos palcos de Gaia, Matosinhos, Viana do Castelo e Monção.