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Esta exposição fotográfica retrata as mudanças do País ao longo de 50 anos

O WOW recebe as fotografias que o americano Neal Slavin tirou no início dos anos 70 e agora em 2016.
A exposição é inédita.

Numa altura em que muito se ouviu falar dos 48 anos que passaram desde o 25 de Abril de 1974 e de como o País já vive há mais tempo em democracia do que aquele que viveu em ditadura, faz todo o sentido analisar as diferenças entre os dois períodos. Isso é o que é possível ver na exposição “Saudade/Portugal”, que reúne fotografias de Neal Slavin na galeria do WOW.

O espaço cultural de Vila Nova de Gaia, mesmo do outro lado do rio, tem um conjunto de 100 fotografias em exposição, das quais metade são inéditas. Aberta desde meados de março, a mostra ficará patente até 31 de outubro, permitindo que os visitantes possam conhecê-la em profundidade.

Quem chega à galeria é logo recebido por um conjunto de imagens sobre o percurso do fotógrafo e realizador norte-americano, acompanhadas por breves textos explicativos, tanto em português como em inglês. Através de um QR Code há ainda a possibilidade de ler as informações em espanhol e francês.

Depois, há um pequeno vídeo onde o próprio artista faz uma breve explicação daquilo que poderá ser visto na exposição. Além desse depoimento, há ainda testemunhos de personalidades portuguesas que viveram os dois tempos ou que têm alguma relevância para o Pais, como é o caso de Francisco Pinto Balsemão.

Neal Slavin veio para Portugal em 1968 através de uma bolsa Fullbright com o objetivo de fotografar ruínas arqueológicas, uma área que o apaixona. Apesar disso, acabou por descobrir uma realidade completamente diferente daquela que conhecia no seu país de origem, com um povo oprimido pela ditadura triste e sem esperança. Essa realidade serviu de mote para fotografar o quotidiano que foi encontrando por várias regiões de norte a sul e que agora expõe num conjunto de 50 fotografias a preto e branco.

“Tirar fotos em 1968 era difícil porque as leis proibiam fotografar em transportes públicos, como comboios ou autocarros, ou retratar o povo português de outra forma que não feliz — apenas portugueses cantando ladainhas e semeando os campos. Infelizmente, o povo português de 1968 estava tudo menos feliz”, disse aquando da inauguração da exposição, acrescentando: “Nunca esqueci o tempo que estive neste País e passei a admirar a perseverança dos portugueses”.

Mais tarde, em 2016, Slavin regressou a Portugal e decidiu fotografar o que encontrou para retratar as diferenças que viu. Desta vez, é a cores que mostra o País atual, livre e com mais esperança, numa série de 50 fotografias aqui expostas pela primeira vez.

“Mais uma vez, eu encontrei a saudade, sempre aquele estado de estar — aquele anseio por tempos gloriosos que ficaram no passado, a nostalgia, a melancolia, a vulnerabilidade, o amor, a vida e a morte. A desesperança já não se sente, mas até a sua crua ausência é reveladora do poder da saudade. Pude senti-la, uma vez mais, em todo o meu corpo. Estas fotografias expressam tanto a saudade desesperada de 1968 quanto a vulnerabilidade emergente de uma saudade que nunca foi embora e que permanecia em 2016”, sublinha.

Assim, ao longo dos corredores onde estão expostas as fotografias é possível ver sobretudo o quotidiano do povo e do País. Entre as diferenças mais notórias estão a ausência quase completa de mulheres nas fotografias a preto e branco, em contraponto com a sua grande representação nas mais recentes, mas também há elementos religiosos e da cultura do fado que vão ligando os dois tempos.

O resto, fica a cargo de cada um descobrir, até porque não há legendas nem títulos para as imagens. Cada visitante é livre de fazer a sua própria interpretação. Se preferir, poderá depois pegar no pequeno folheto da exposição que explica um pouco mais sobre cada foto, mas mesmo aí não encontrará uma explicação exaustiva.

Além das fotografias, o regresso do artista foi acompanhado pela captação de um conjunto de vídeos que foram transformados num documentário. A longa-metragem “Saudade: A love letter to Portugal” foi concluída em março deste ano, em Lisboa, e inclui depoimentos de figuras como Mariza, Carlos do Carmo ou Nuno Gama. Este filme é exibido no auditório do WOW diariamente pelas 19 horas, uma reprodução que é feita numa espécie de antestreia, uma vez que só depois de outubro será apresentado ao público oficialmente.

A exposição “Saudade/Portugal”, de Neal Slavin, abre ao meio-dia durante a semana e às 10 horas ao fim de semana, encerrando apenas pelas 19 horas. Quanto aos bilhetes, custam 10€ para a exposição e 5€ para o filme e podem ser comprados no local ou através do site do WOW. Se quiser ver a exposição e o filme, o pack custa 12€ e inclui a oferta de um cálice de vinho do Porto.

Carregue na galeria para descobrir mais detalhes sobre a exposição.

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