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“Falar à Moda do Porto”: o novo livro que revela os significados das famosas expressões da cidade

O acervo portuense inspirou João Carlos Brito para escrever a sua oitava obra sobre os falares marginais do concelho. Custa 13,95€.
Já conhecia ou usa estas expressões?

Cimbalino, quarto de banho, ir de escantilhão, andar de cu tremido, lambão, laurear a pevide, desandador ou Bai no Batalha. Estas são só algumas expressões tipicamente portuenses. O professor-bibliotecário, João Carlos Brito, dedicou 35 anos de pesquisa sobre esta temática, que resultaram no seu oitavo livro, “Falar à Moda do Porto”. Este “Portoário”, como gosta de lhe chamar, foi lançado no passado dia 9 de setembro, sábado.

“Este livro tem três grandes objetivos. O primeiro é o de divertir, pois acho importante ter um certo humor, boa-disposição. O segundo é contribuir para o orgulho do sentimento portuense em falar desta forma tão maravilhosa e, finalmente, em terceiro lugar, promover o nosso acervo linguístico, dando-o a conhecer, contando a(s) sua(s) história(s). Ficamos a saber muito do que fomos pelas palavras que dizemos”, conta o escritor de 56 anos à NiP.

Há certas expressões e palavras que identificam imediatamente alguém como sendo do Porto. Chamamos um picheleiro para arranjar os canos, pedimos um cimbalino (café expresso), uma safa (borracha) ou uma aguça (afia lápis), usamos um apanhador para apanhar o lixo, andamos de cu tremido e, se uma situação dá para o torto, é comum ouvir “Bai no Batalha!”. Afinal de contas, trata-se do derradeiro património portuense e um legado cultural identitário.

Apesar de Portugal ser um País pequeno, é enorme no que toca à sua diversidade cultural, gastronómica e até linguística. Se pensarmos no sotaque do Porto, é normal existir um choque de culturas quando se fala com pessoas do sul do País, ou quando se ouve determinada pronúncia e nem todos percebem o seu significado. O professor, nascido e criado no Porto, formado em Línguas e Culturas Modernas, vem desmistificar tudo com a sua nova obra.

“Os portuenses possuem um acervo de palavras e expressões muito próprio. Uma forma de falar que nos identifica em qualquer parte do País, é uma riqueza linguística da qual devemos orgulhar-nos”, admite o também lexicógrado, acrescentando: “Não é só, como alguns querem fazer passar, o palavrão. Não são umas ‘asneiradas a torto e a direito’, que constituem a riqueza lexical dos portuenses. É uma marca indistinta a todos os falantes portugueses, de norte a sul”.

Ao fim de 35 anos de pesquisa e de trabalho, contacto com pessoas, sobretudo mais velhas e ligadas a artes e ofícios tradicionais e de gente genuína do centro do Porto e não só, acompanhado com a leitura e consulta de publicações especializadas, resultaram no conjunto de cerca de mil pequenas histórias das palavras e expressões recorrentes nos portuenses, mesmo aqueles que não nasceram na área geográfica. “Foi necessário validar todas as entradas, ou seja, houve sempre a preocupação de me certificar de que esses vocábulos são recorrentes entre os portuenses e que tivessem, de facto, uma história interessante para contar, em termos etimológicos, sociológicos e etnográficos. Depois, alinhei as entradas por assunto e atos de fala, de forma a que ficasse como uma espécie de prontuário. Ou um PORTOário, como gosto de lhe chamar”, explica.

Diversos fatores e desenvolvimentos históricos, sociais, culturais e económicos contribuíram ao longo dos anos para a evolução da língua. No caso específico do norte e do Porto, há muitos termos utilizados ainda hoje que há muito que foram criados e que têm a particularidade de reinventar a própria palavra, de lhe acrescentar novos significados codificados que só quem faz parte do grupo consegue entender, adquirindo então, um valor metafórico, quase “poético” quando é claro, pronunciado de forma natural por alguém. 

Outra das capacidades destas expressões e palavras próprias portuenses é a sua habilidade de poder serem usadas em qualquer situação. A marginalidade da língua portuguesa e a escrita, misturadas com palavras e expressões que desde muito cedo podem parecer-nos estranhas e que ouvimos sobretudo das gerações mais velhas — autênticos tripeiros — pode ajudar eventualmente a alimentar essa diversidade vocabular.

Se ficou curioso em descobrir esta espécie de prontuário, saiba que já está à venda nas livrarias do País. Caso seja daqueles leitores que gosta de conhecer os autores, saiba que o escritor estará no próximo dia 12 de novembro, domingo, na Fnac do NorteShopping numa sessão de autógrafos. A entrada é livre e pode deslocar-se até ao centro comercial de metro, pois a estação de Sete Bicas fica muito perto.

O autor já publicou cerca de 21 livros dedicados aos falares marginais da cidade do Porto, do norte e dos restantes registos, entre eles “Heróis à Moda do Porto”, “Francesinhas à Moda do Porto”, “Dicionário de PORTOguês-Inglês”, “Dicionário de Calão do Norte”, “Norte com Tradição”, “Heróis à Moda de Lisboa”, “Heróis à Moda da Madeira”, entre outros. Ao todo, são oito livros dedicados à fala portuense, mais cinco centrados no dialeto do norte e oito acerca dos restantes registos marginais. Todavia, já publicou também outros géneros literários, somando mais de 40 publicações.

Em setembro, João Carlos Brito foi eleito autor do mês para a Infopedia. Além disso, a sua obra literária completa esteve em destaque em maio deste ano, na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e algumas das suas obras já foram adaptadas para teatro. 

O cimbalino para o café ou o fino para cerveja são palavras muito conhecidas, mas vale a pena recordar ou conhecer expressões características da cidade e dos portuenses. O livro já se encontra à venda nas lojas físicas habituais ou online por 13,95€.

Até lá, veja a nossa lista com algumas das expressões características dos portuenses e o seu respetivo significado.

Bater um coro — Mentir.

Boa como o milho — Elegante, atraente.

Testo — Tampa de recipiente usado para cozinhar.

Tramela — Língua.

Trengo — Desajeitado.

Rodinhas — Medicamento em comprimidos.

Traçadinho — Copo de cerveja misturado com gasosa (Panaché ou Radler).

Tou t’a bêre! — Tomar cuidado e precauções.

Bale mais uma rua do Porto c’a Gaia toda! — Provocação amigável.

Muitos anos a virar frangos — Muita experiência.

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