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Há um novo projeto de arte urbana que vai “fazer muito ruído” na cidade

O projeto criativo junta os artistas portugueses Draw e Contra, após uma colaboração artística de dez anos.
A obra mais recente desta dupla está na Travessa do Carmo.

Rodrigo, 38 anos, mais conhecido como Contra iniciou o seu percurso na arte urbana nos anos 2000. Começou por assinar como “Alma” no entanto sentiu necessidade de mudar para um nome mais versátil. Foi assim que surgiu a assinatura “Contra”, além do desejo de manter um nome em português.

Já Frederico, 34 anos, conhecido como Draw, também iniciou o seu percurso em 2001, influenciado por um grupo de amigos e pela sua proximidade com a cultura de hip hop e de grafitti do Porto da altura. Em 2011, quando conheceu Rodrigo, deixou de se focar só nas letras, aventurando-se nas figuras e arte urbana e é neste sentido que surge também a sua assinatura, como aconteceu com o seu colega, antes já tinha sido conhecido por outros nomes, mas “Draw” surge nesse ponto de viragem quando começa a experimentar a pintura figurativa e o desenho ou esboço como se fosse sketch.

“Começámos a colaborar em 2011 e os nossos registos eram completamente diferentes, mas muito rapidamente passámos a explorar coisas novas, como o abstrato e a geometria e o Frederico a figura Humana . A evolução foi natural e a qualidade dos trabalhos também foi aumentando”, contou Rodrigo à New in Porto.

A colaboração dos dois artistas começou através dos coletivos de RUA, e 12 anos depois, juntos conseguiram aprimorar uma linguagem comum e apesar dos diferentes registos de ambos, o resultado é comum ao nível da identidade. “Ruído” surge então como uma materialização do diálogo simbólico entre a linguagem individual de cada artista. Dedicam-se então à produção de peças de grande e pequena escala, num estilo único e imediatamente reconhecível. “Em 2021 fez sentido assumir a nossa colaboração porque já não fazíamos trabalhos propriamente individuais. ‘Ruído’ marca o início de uma nova fase para os dois”, acrescentou Frederico à conversa.

Trata-se então de uma obra coletiva que entrelaça o universo monocromático, figurativo e profundamente humano de Draw (Frederido), com a abordagem colorida, abstrata, geométrica e textural de Contra (Rodrigo), criando composições que cimentam um forte impacto no espaço e ambiente onde forem inseridas, enquanto, em simultâneo, criam conexões multifacetadas com o espectador. Como projeto, “Ruído” representa o culminar desta relação, deste equilíbrio entre a forma humana orgânica e uma intervenção abstrata e textual, que não só utiliza o espaço como inspiração, mas tem como objetivo a sua transformação, criando uma interferência construtiva na sua envolvente, alterando a percepção de quem assiste.

A obra “Ruído” está enraizada em dois componentes estruturais que se interligam e complementam. Por um lado, a preocupação em centrar-se nas especificidades da condição humana — relação entre a corporeidade e o espaço físico, o comportamento humano no coletivo e no individual, o universo emocional e pertinência da interpretação do corpo quando entrelaçado com um contexto abstrato — assim como a vontade de criar uma relação direta com o público, provocar emoções e reações e questionar o impacto da relação do ser humano com o espaço.

A natureza do projeto “Ruído” espalha-se no seu próprio nome e revela as raízes e influências dos artistas. Trata-se de uma arte desenvolvida em camadas, aparentemente confusa, mas profundamente organizada e simbólica, relacionando-se com o espaço urbano e tudo o que ele envolve: pessoas, edifícios, movimentos, tags, graffiti, cartazes, desordem, barulho. 

“Pensámos em muitos nomes, mas aquele que fazia mais sentido foi o escolhido. Porque representa o ruído das cidades, a textura da superfície, a sujidade das paredes. É algo que realmente nos inspira e tentámos trazer para as nossas pinturas”, revelou Rodrigo. Assim, “Ruído” é um projeto que envolve obras que se impõem continuamente, gerando um confronto indispensável e incontornavelmente contemporâneo, que se vale da emoção e instiga um processo de reflexão necessário.

Os artistas têm trabalhado em conjunto em diversas cidades nacionais e internacionais, um deles, característico desta dupla está na Travessa do Carmo, que representa e homenageia António Sá e todas aquelas pessoas que diariamente fazem com que seja possível ter em funcionamento os barris de vinho do Porto, pois sem o seu trabalho, este vinho tão prestigioso não existiria.

Trabalharam em murais em diversos pontos no coração da cidade assim como em hotéis e têm explorado outros suportes como telas para garantir uma certa tridimensionalidade nas obras. Assim como está em desenvolvimento uma exposição coletiva de arte.

Aos aspirantes artistas de arte urbana, esta dupla aconselha: “Há inúmeras formas de fazer arte, desde pintura, autocolantes, paste-ups, entre outros. O segredo está na prática. Para praticar, procurem muros legais ou fábricas onde possam dedicar horas e horas de pintura e desenho. O segredo está na prática, o resto é uma bola de neve que vai atraindo oportunidades”.

Enquanto estes artistas trabalham para trazer novidades, pode visitar o site para estar a par das últimas informações. E não perca o Instagram do projeto que é uma verdadeira exposição de arte.

De seguida, carregue na galeria para conhecer algumas das obras do projeto.

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