O Teatro Nacional de São João anunciou esta terça-feira, 10 de setembro, a programação artística para os últimos quatro meses do ano. A nova temporada arranca esta quarta-feira, 11 de setembro, no Teatro Carlos Alberto, com a estreia do monólogo “Homens Hediondos”, de David Foster Wallace, uma encenação de Patrícia Portela e com interpretação do diretor artístico da casa, Nuno Cardoso.
Ao todo, a nova temporada do teatro portuense traz seis estreias absolutas, entre as quais, duas produções próprias e quatro coproduções. “Uma casa de teatro é feita por nós, atores, os nossos colegas, mas também pelo público. Só assim criamos identidade. Nós fazemos teatro para ser vivido, experienciado”, refere Nuno Cardoso.
Setembro arranca com dois espetáculos em estreia absoluta e um regresso. No primeiro espetáculo da temporada, “Homens Hediondos”, de David Foster Wallace, Nuno Cardoso delega a encenação à encenadora e escritora Patrícia Portela e assume o papel de ator.
A nova produção do TNSJ estreia-se a 11 de setembro, no Teatro Carlos Alberto, e fica em cena até ao dia 14. Cinco dias depois, o TeCA acolhe mais uma estreia, desta vez, uma coprodução. “RE: Antígona” é um espetáculo do Teatro Praga, com texto original de André e. Teodósio e José Maria Vieira Mendes, está em cena de 19 a 22 de setembro.
O Teatro Nacional São João reabre as portas ao público a 27 de setembro para acolher o regresso de “As Bruxas de Salém”, de Arthur Miller, com encenação de Nuno Cardoso. Mais de um ano depois, as “bruxas” da pequena localidade de Salém voltam a assombrar o palco do São João, onde o espetáculo se estreou em março de 2023. Neste caso, a peça estará em cena até 6 de outubro.
Para assinalar os 500 anos do nascimento do poeta Luís de Camões, o TNSJ apresenta um programa dedicado à efeméride. Enquadrado na programação dirigida ao público em idade escolar, o programa “Camões 500” compreende um conjunto de atividades que colocam a épica e a lírica camonianas no centro de dois projetos nucleares do Centro Educativo: o “Visitações” e os Clubes de Teatro dos 8 aos 88.
A celebração culmina no próximo ano com a estreia de “Babel”, uma peça-roteiro que parte de “Os Lusíadas” para viajar pela história da língua portuguesa. O espetáculo dirigido por Nuno Cardoso estreia-se em junho de 2025, mas, até dezembro, há um “Estaleiro Camões” e um “Atelier 200”, onde criadores, atores, alunos e comunidades estrangeiras vizinhas dos teatros São João e Carlos Alberto se reúnem para testar as possibilidades performativas abertas pelo texto matricial de Camões.
Em novembro, o TNSJ estreia a terceira produção própria do ano e a segunda encenada por Nuno Cardoso com o elenco da casa, Joana Carvalho, Lisa Reis, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho e Pedro Frias. “O Pelicano”, do dramaturgo sueco August Strindberg, é uma peça desconcertante sobre os conflitos e as mudanças trágicas que ocorrem numa família no seguimento da morte do pai. Estreia a 21 de novembro e fica em cena até 8 de dezembro.
Coproduções com companhias nacionais em estreia absoluta
O Teatro reforça também a sua colaboração com companhias de teatro do País, sobretudo portuenses. Depois de “RE: Antígona”, espetáculo coproduzido com o Teatro Praga, segue-se a estreia de “As grandes comemorações quase oficiais do período habitualmente conhecido como PREC (Processo Revolucionário em Curso)”. Com encenação de Gonçalo Amorim, o espetáculo revisita alguns dos principais momentos e protagonistas do PREC (1974-75) 50 anos depois. Coproduzido com o Teatro Experimental do Porto e a ASSéDIO, está em cena no TeCA de 3 a 6 de outubro.
Em novembro, o TNSJ estreia em parceria com o Teatro do Bolhão, a adaptação para a cena da mais célebre obra do escritor Camilo Castelo Branco. “Amor de Perdição”, com encenação de Maria João Vicente, é um espetáculo dirigido a alunos do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário. Está em cena de 31 de outubro a 10 de novembro, no Teatro Carlos Alberto.
Já com o Teatro da Rainha, o São João coproduz “Na República da Felicidade”, do dramaturgo britânico Martin Crimp. Uma peça sobre a família e a sua destruição, que põe a descoberto o desamor, a competição, a inveja, o ciúme e a ambição. Com encenação de Fernando Mora Ramos, está em cena de 22 a 24 de novembro, no TeCA.
Em outubro, o São João volta a receber o Festival Internacional de Marionetas do Porto, acolhendo dois espetáculos e uma exposição no TeCA. O festival arranca nos dias 11 e 12 no TNSJ com “Géologie d’une Fable”. A 16 e 17 de outubro, Igor Gandra, diretor artístico do FIMP, assume a encenação e interpretação de “Dura Dita Dura”. Entre 11 de outubro e 10 de novembro, estará em exibição no TeCA a exposição-viagem “Fimpografias”, da fotógrafa Susana Neves, que nos guia por dez anos (2010-20) de registos fotográficos do festival.
De 5 a 7 de dezembro, o TNSJ será anfitrião de uma Conferência Internacional de Dramaturgia, organizada em parceria com a União de Teatros da Europa (UTE). O evento reúne um conjunto diversificado de oradores que, durante quatro dias, vão procurar analisar a natureza colaborativa da criação teatral, questionar os limites e as potências da dramaturgia para intervir na atividade política e examinar o impacto da globalização na narrativa teatral. O TNSJ vai ainda acolher, no TeCA, no dia 8 de dezembro, a Assembleia Geral da UTE, que se realiza pela quarta vez na cidade do Porto.
A música no teatro
A programação do Teatro Nacional São João para os próximos quatro meses fica completa com a apresentação do espetáculo internacional “Rei Édipo”, de Sófocles, nos dias 18 e 19 de outubro, no Teatro São João. Numa produção do Yugoslav Drama Theatre (Belgrado, Sérvia), é num bar-boîte de film noir que o esloveno Vito Taufer encena esta versão contemporânea da tragédia grega.
A 19 e 20 de outubro, o Mosteiro de São Bento da Vitória, palco da programação musical do TNSJ, recebe o concerto “Variações Goldberg”, de J.S. Bach, revisitado pelo pianista Pedro Burmester. Já a 12 de dezembro, o Mosteiro acolhe o primeiro concerto da quarta edição do ciclo “MUSICAL-MENTE”. Os três concertos desta edição, dedicados a Vivaldi, Liszt e Piazolla, são antecedidos por prelúdios poéticos.
O palco do Teatro São João vai ainda acolher, de 24 a 27 de outubro, o espetáculo “Terminal (O Estado do Mundo)” e, a 31 de outubro e 1 de novembro, o espetáculo musical “O Rouxinol”, de Hans Christian Andersen, uma produção do Teatro Nacional de São Carlos.
A terminar o ano, o Teatro Carlos Alberto volta a receber “O 25 de Abril Nunca Aconteceu”, peça que se estreou nesse palco em abril, no âmbito das comemorações do cinquentenário da Revolução dos Cravos. Depois da esgotadíssima temporada de estreia, a coprodução do TNSJ com o Teatro da Palmilha Dentada, com texto e encenação de Ricardo Alves, está de regresso de 12 a 20 de dezembro.
A responsabilidade social do Teatro Nacional de São João
Não é novidade para nenhum portuense — ou português — que as portas de emergência do teatro, servem atualmente, de morada (muito precária) para pessoas que se encontram em situação de sem abrigo. O presidente do Conselho Administrativo, Pedro Sobrado, encara-o como um problema de segurança, por se tratar de um entrave para a saída do público e das equipas de produção numa eventual situação de emergência, tendo sido já inúmeras vezes comunicado à Proteção Civil.
Numa outra perspetiva, o responsável encara-o, acima de tudo, como um problema social e humano. “Temos obrigatoriamente de encontrar uma solução para um problema que tem sido repetidamente sinalizado por várias entidades, nomeadamente a Proteção Civil, sobretudo no carácter de segurança. Mas sentimo-nos motivados em formar parte da resolução do problema que é mais complexo do que se apresenta na Praça da Batalha”, defende Pedro Sobrado.
O presidente administrativo garante que o TNSJ tem estado a trabalhar ao lado de diversas entidades ao longo das últimas semanas para tentar encontrar uma solução para esta situação. Algumas das entidades são municipais, públicas, não governamentais, do estado central e associações, que tem colaborado com TNSJ, de modo a alargar verbas ao projeto de responsabilidade do teatro.
“Até 2025, o São João está a preparar caminho, em conjunto com estas entidades, para realizar projetos que excedem este problema no edifício do São João para promover o desenvolvimento e integração de pessoas em situação de sem abrigo ou de emergência social”, finaliza.
Preservação do património
Os grandes teatros nacionais inserem-se em edifícios históricos, com grande importância patrimonial, e o São João não é a exceção. Há pouco tempo, a entidade portuense viu aprovada, dentro do PRR, três projetos de melhoria de eficiência energética de três dos seus edifícios: o Teatro Nacional, o Mosteiro de São Bento da Vitória e um prédio na Rua de Portas do Sol que serve de armazém de adereços.
O projeto prevê um investimento de quatro milhões de euros, dos quais três e meio financiados ao abrigo do PRR. Esta intervenção envolve o encerramento de dois dos edifícios. O Mosteiro de São Bento da Vitória vai encontrar-se encerrado de fevereiro a dezembro de 2025. Já o Teatro Nacional de São João deverá encontrar-se encerrado num período curto, para as intervenções decorrerem com atividade pública, prevendo-se que o fecho dure entre maio e setembro, reabrindo apenas em outubro.
“Por enquanto, não vou explicar as intervenções, apenas esclarecer que contém uma dupla virtude. Promover a valorização patrimonial dos nossos edifícios, por serem intervenções que respeitam a identidade histórica dos mesmos, mas também promovem melhorias de eficiência energética, diminuição de consumos energéticos, diminuição das emissões de CO2, entre outros”, explica.