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Klin Klop: “Tocar no Primavera Sound é como estar no sítio certo na hora certa”

A DJ natural de Viana do Castelo, que vive no Porto desde a adolescência, abre o palco Super Bock na tarde desta sexta-feira.
Conheça a criativa.

 O telemóvel de Klin Klop foi inundado de chamadas e mensagens na tarde de quinta-feira, 7 de novembro do ano passado. Amigos e familiares felicitavam Inês Meira (o nome de batismo da artista) por concretizar um sonho antigo: atuar no Primavera Sound Porto 2025. Aos 35 anos, confessa que foi surpreendida pela notícia, mas vê este convite como o reconhecimento de mais de uma década de trabalho enquanto DJ.

O seu percurso musical começou aos sete anos, quando iniciou o estudo do violino na Academia de Música de Viana do Castelo, a sua cidade natal. Para além da música, Inês explorou outras artes, como o ballet e o teatro. Apesar de os seus pais não terem ligação direta ao meio artístico — o pai é engenheiro e a mãe contabilista —, sempre a incentivaram a seguir uma carreira ligada às artes, acreditando no seu talento para o palco.

Com o tempo, percebeu que a música seria o seu caminho, embora a formação clássica a limitasse na criação e improvisação, pois a interpretação era o foco principal. Quando se aproximava da escolha do curso superior, decidiu experimentar novos estilos e conteúdos, frequentando aulas de música eletrónica. Fascinou-se pelo desafio de criar música através do computador, explorando vários instrumentos digitais, o que a levou a ingressar no curso de Tecnologias de Música na ESMAE, no Porto.

Nesse momento, e prestes a decidir qual seria o melhor rumo a seguir na sua formação profissional na faculdade, decidiu seguir o seu instinto. Queria experimentar novas sonoridades e outro tipo de conteúdos. Isso levou-a a tirar alguns cursos relacionados com a música eletrónica. O desafio de criar música a partir de um computador e de poder explorar vários instrumentos e não apenas um, ditou aquele que seria o seu percurso académico e profissional. Acabou por tirar o curso em Tecnologias de Música na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo), no Porto. 

Quase dez anos após a conclusão do curso e com experiência em clubes do Porto como Plano B, Mr. Beans e Central Club, Inês apresentou em 2020 o seu alter ego Klin Klop. O nome, inspirado em termos afrikaans — “Klin” significa som e “Klop” batida —, homenageia a ligação dos seus pais a Moçambique, onde passou férias durante a infância.

Em 2021, decidiu transformar a sua experiência como DJ numa performance ao vivo com banda, dando origem ao projeto Klin Klop Live. É esta proposta que apresentará na tarde desta sexta-feira, 13 de junho, no palco Super Bock do Primavera Sound Porto 2025.

 
 
 
 
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Acompanhada por músicos de excelência — Ricardo Danin na bateria, Miguel Pinto no baixo, Zé Nuno nas teclas e guitarra, Miguel Terreiro nos cintos, e as vozes de Ana Neto e Cristiana Silva em algumas faixas —, Klin Klop promete um DJ set ao vivo que mistura jazz, funk, groove, house e techno numa única viagem sonora.

O concerto está marcado para as 16h30 e, no alinhamento, estarão temas do seu mais recente EP “Out of Sync”, como “Losing Control”, “To The Top” e “Let’s Talk”, além de outras composições já bem conhecidas do seu público.

Os bilhetes diários custam 75€ (mais taxas) e o passe geral para os quatro dias está disponível por 180€ (mais taxas). As entradas VIP variam entre 135€ (diária) e 275€ (geral), também com taxas aplicadas.

Em entrevista, Inês revelou que a paixão pela música foi incentivada desde cedo pela família, apesar de não terem ligação profissional ao setor. Explicou que a transição do clássico para a eletrónica resultou do desejo de maior liberdade criativa e da fascinação pela produção digital. Leia agora a conversa na íntegra.

De onde surge esta paixão pela música e como é que se tornou na sua profissão?
É muito engraçado porque não decidi isto. Os meus pais quiseram, desde muito pequenina, a pôr-me a estudar música, então sempre fiz um caminho muito ligada às artes, com o ballet e com o teatro. Foi sempre algo muito incutido pela minha família, o que é engraçado porque os meus pais não tem qualquer ligação com a indústria. Depois, quando estava a chegar ao 12.º ano e escolher o que verdadeiramente queria fazer. Tinha começado no clássico e sempre foi uma luta quando acabei na altura, porque para entrar na faculdade surgiram algumas dúvidas do caminho que devia seguir. Porque a máxima criatividade que temos no clássico é na interpretação, e isso estava a fazer-me confusão. Queria experimentar outras sonoridades e decidi experimental algumas aulas de eletrónica antes de escolher o curso que queria na faculdade.

E porque a música eletrónica e não outros géneros?
Nas aulas que frequentei antes de ir para a faculdade, fascinou-me o facto de pegar o computador e fazer música, de não depender apenas dos instumentos e até poder usar vários. Apartir daí frequentei o curso de Tecnologias de Música no ESMAE, que me deu uma grande ligação com a tecnologia e facilitou este processo de virar-me para a música eletrónica. Mas é um género (a eletrónica) que na minha adolescência e desde sempre, que foi uma referência musical para mim, mesmo quando estudava o clássico. Tudo graças as festas que frequentava, tantos eventos, tantos artistas que seguia e adorava ver e determinaram o que queria fazer.

Há algum artista no ramo da eletrónica que seja a sua inspiração ou grande referência para a sua carreira?
Não tenho nenhum artista em específico, mas ante sum género. Por isso criei o projeto Live, porque não queria desperdiçar tudo o que já tinha aprendido na minha vida e poupar todos os meus conhecimentos numa coisa só. Ou seja, o facto de já ter tocado clássico, violino, ter tocado em bandas de jazz e rock, e depois a minha carreira como DJ, julgei ser o momento perfeito em 2021 para fazer tudo de novo. Este projeto é um pouco isso, não é propriamente um artista ou referência mas como se fosse um DJ set tocado com banda e músicos e mais orgânico.

E quanto ao nome artístico escolhido também acaba por homenagear a sua família, certo?
Os meus pais vivem há muitos anos em Moçambique, em África, e já fui visitá-los várias vezes. Quando estava a começar o projeto como DJ estava com muitas poucas ideias e pensei que uma viagem até lá podia servir de inspiração. Tentei procurar nomes em afrikaans que soasse engraçado e bem. Surgiu o nome que uso desde então, em que “Klin” significa som, e “Klop” significa batida. E depois de certa forma acabo por homenagear a ligação com os meus pais e como me incutiram este “bichinho” pela música.

Enfrentaste algum desafio como DJ mulher numa indústria dominada por homens?
No início foi difícil. Quando olham para uma cabine e veem uma mulher, o pensamento normalmente é ‘deixa-me ver o que ela sabe fazer’. Foi necessário afirmar-me e mostrar que estava ali, consistente, e que este era o meu trabalho. Quando comecei a editar música, surpreendi-me porque as coisas tornaram-se mais fáceis. Mas também o meu percurso musical ajuda. Como toda a minha vida só estudei música e só fiz isto, consigo diferenciar-me pelo meu estilo musical e um toque mais requintado, mesmo entre homens. Não digo que seja melhor ou pior, só que é diferente.

E como surgiu a oportunidade para tocar no Primavera Sound Porto 2025?
Não sei bem como responder a essa pergunta porque ainda hoje questiono-me como aconteceu. Já tinha tocado em outros festivais propriamente ditos, dedicados em exclusivo à música eletrónica, como é o caso do Elétrico, cá no Porto. Até há pouco tempo não existiam por cá festivais do género e de um tempo para cá tem vindo a ganhar mais dimensão. Agora, tocar num evento tão eclético e com géneros tão variados como o Primavera Sound é uma estreia. Para mim, é o resultado do trabalho que tenho vindo a fazer ao longo destes anos e que tem vindo a crescer. E acredito que o Primavera Sound também tenha o interesse de procurar artistas locais para dar palco.

Mas foi apanhada de surpresa ou estava a contar?
Sabia que mais cedo ou mais tarde poderia acontecer, mas não estava à espera que fosse tão cedo. Até porque há um ano troquei de agência. E eles — Agência Mar Records — fizeram-me uma surpresa. Só soube que ia tocar no Primavera Sound no dia em que divulgaram o alinhamento da edição deste ano. Sabiam que era um convite que não iria recursar e assumiram (e bem) que diria que sim, então ocultaram para mim que ia tocar no festival. No dia que foi divulgado, comecei a receber muitas chamadas a dar-me aos parabéns.

E não só vai levar o projeto Klin Klop Live ao Primavera Sound Porto 2025, como também vai abrir os concertos do palco Super Bock, qual é a sensação de ter estas honras?
É uma sensação estranha, mas estou muito empolgada por conhecer e abrir-me a novos grupos. Porque sinto que com o projeto que tenho vindo a ser associada, é necessário abrir-me a novas coisas. Quero conhecer mais artistas e fazer novas colaborações. Tocar no Primavera Sound Porto é como estar no sítio certo na hora certa e acho que vai abrir-me portas para novos caminhos.

O que é que o público do festival pode esperar do concerto desta sexta-feira?
Vai ser uma viagem. Vai ser um set corrido, sem qualquer tipo de pausas, de cerca de uma hora. Vou interagir bastante com o público e vai ser como um DJ set só que com uma banda em palco. Vamos ter músicos muito bons e vamos fazer uma fusão de diferentes géneros, vai-se passar muita coisa, desde o jazz ao funk, ao groove, house e tecno. Tudo numa coisa só. Espero que gostem e que aproveitem o concerto.

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