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O clube de leitura “silencioso” do Porto que quer combater a solidão

O projeto acontece uma vez por mês. Já se pode inscrever, de forma gratuita, para a próxima sessão, dia 29 de setembro.
Pode ler o livro que preferir.

Nos últimos anos, tem vindo a aumentar o número de pessoas que sofrem com o isolamento e a solidão. Com o crescimento do trabalho remoto e das distrações digitais, muitos lutam para estabelecer ligações significativas ou dar prioridade a atividades que verdadeiramente alimentem o espírito. Sobretudo para os mais introvertidos, a construção de novas relações sociais pode parecer esmagadora face às expetativas da sociedade.

É nesse sentido que surgem os “Silent Books Clubes”. Funcionam como um momento de alívio para aqueles que sentem o peso da solidão e as pressões da vida moderna. Este movimento, que teve início em São Francisco, nos Estados Unidos da América, também se encontra no Porto. 

Este clube de leitura “silencioso” portuense nasceu pelas mãos de Margarida Silva, 38, e Iris Scherer, 41. Margarida, antropóloga, é lisboeta/ribatejana e vive no Porto há cinco anos. Já Iris, engenheira, é alemã e vive na cidade há cerca de quatro anos. As duas conheceram-se através de uma amiga em comum de Lisboa e partilharam um apartamento juntas, o que as levou a começar o Silent Book Club Porto em janeiro deste ano.

“Ambas gostamos muito de ler e já frequentamos diversos clubes de leitura. Contudo, muitas vezes debatemo-nos com a pressão de termos de ler um livro em específico, em determinado tempo. Para nós, ler deveria ser um prazer e não mais um fator de pressão nas nossas vidas, já tão ocupadas”, começam por contar as amigas à NiP.

Margarida e Iris começaram a questionar a dinâmica dos clubes de leitura convencionais, que vêm sempre acompanhados de uma discussão sobre um determinado livro. “Será que, por vezes, não basta apenas desfrutar de uma história, sem analisar demasiado o conteúdo, o estilo de escrita ou a sintaxe, sem nos sentirmos pressionados a ter uma opinião sofisticada?”, defendem.

Numa visita de Iris a uma outra amiga, soube que a mesma tinha iniciado um Silent Book Club, em Cascais. Gostou imediatamente da ideia e foi fácil convencer Margarida a juntar-se a ideia.

As sessões acontecem no Porto uma vez por mês, normalmente no último domingo do mês à tarde. Pode eventualmente haver exceções, se a data envolver feriados, doenças ou outros eventos não previstos. As sessões são sempre anunciadas pelas redes sociais do projeto e é necessário inscrição prévia através de um formulário online.

Apesar da participação ser gratuita, exige-se a inscrição devido à limitação de participações para cada sessão. No fim, todos os participantes recebem um email de confirmação, com mais informações sobre a reunião, como o local e a hora.

“O evento normalmente arranca pelas 15 horas. Damos tempo para que todas as pessoas cheguem e encontrem um lugar confortável. Depois lemos durante uma hora em silêncio, sem conversas à mistura. No fim, tiramos fotografia de todos os livros que foram lidos. Algumas pessoas vão embora, outras ficam por perto. Não há qualquer pressão por socializar, mas é claro que podem, se assim desejarem”, explicam.

O funcionamento do clube é simples. Os participantes trazem o seu próprio material de leitura e passam uma hora imersos nele, seja um livro, revista, jornal ou artigos impressos. Não há discussões obrigatórias nem listas de leitura. “A ênfase no silêncio e na leitura concentrada oferece uma experiência rara no mundo acelerado de hoje. Esta escolha deliberada ajuda os indivíduos a recuperar a sua atenção e a redescobrir a alegria do envolvimento pleno, sem distrações”, defendem as amigas. 

Os locais em que são realizadas as sessões, são rotativos, o que permite aos participantes conhecerem ambientes diferentes na cidade, enquanto em simultâneo, estabelecem novas ligações, proporcionando uma exposição valiosa aos negócios locais. Além do propósito de ajudar a combater a solidão, o objetivo de Margarida e Iris é promover a leitura e reduzir a iliteracia.

“Numa era dominada por ecrãs e conteúdos digitais, a leitura de livros físicos oferece uma pausa valiosa em relação ao telemóvel. Incentiva um ritmo de vida mais lento e atento, ajudando-nos a reconectar-nos connosco próprios e com o mundo de uma forma significativa, além de que ler regularmente mantém o cérebro ocupado, aguça a mente e melhora a função cognitiva. É como um exercício para o cérebro, ajudando a melhorar a concentração, a memória e as capacidades de pensamento crítico. Os livros são um escape que nos dão conhecimento”, reforçam.

O grupo começou com cerca de quatro ou cinco pessoas. Neste momento, já conta com 25 participantes, sobretudo porque a palavra começa a espalhar-se. Se continuar assim, as amigas prevêem realizar duas sessões por mês, em vez de apenas uma.

Para aproveitar a Feira do Livro do Porto, a sessão de agosto foi execionalmente adiada para este domingo, 1 de setembro. O objetivo é que todos visitem o evento literário juntos, para além de se encontrarem num espaço próximo do mesmo a lerem.

A sessão de setembro acontecerá no dia 29, domingo, em local ainda a combinar, anunciado no Instagram do projeto. No entanto, se tiver interesse, já pode realizar a inscrição online. 

À NiP, as responsáveis pelo projeto anunciaram que para a sessão de outubro, que deverá acontecer no dia 27, domingo, serão acolhidos numa casa de alojamento com um ambiente diferente, onde poderão ler no jardim. As responsáveis confessaram que se trata de um desafio encontrar espaços acolhedores e sossegados para acolher 25 pessoas durante pouco mais de uma hora, daí a dupla estar à procura de espaços mais amplos para dar continuidade às iniciativas, como áreas de cowork.

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