Estávamos em 1985 e Tina Turner chegava ao aeroporto de Dusseldorf, na Alemanha, para mais uma série de concertos. Erwin Bach, então um executivo na editora EMI, foi o homem encarregue de dar as boas-vindas à super estrela norte-americana.
“O meu agente disse-me: ‘Tina, tu vais com o Erwin’. E eu queria mesmo ir (risos). Ele era tão bem parecido. Tinha o coração aos pulos, as mãos a tremer. Isso significa que uma alma encontrou outra.”
A relação começou nesse mesmo ano. “Apaixonar-me por ele foi mais um exercício para deixar a minha zona de conforto. Tive que me abrir aos presentes inesperados que a vida tem para oferecer.”
Bach era 16 anos mais novo, mas isso nunca foi um problema, apesar das muitas críticas feitas publicamente. A longa relação só foi consumada com um casamento em 2013. “Tendo em conta todo o tempo que já estamos juntos, ainda há pessoas que acreditam que ele casou comigo por causa da minha fama e do meu dinheiro. Por que raio um homem mais novo haveria de querer estar com uma mulher mais velha? Ele sempre ignorou os rumores”, notou Turner.
O casamento foi em si surpreendente. Ao fim de três décadas, ninguém esperava que a artista decidisse organizar um evento extravagante e que reuniu na Suíça mais de uma centena de estrelas, de David Bowie a Oprah Winfrey. Mas para que o casamento acontecesse, Bach teve que fazer o pedido inúmeras vezes.
Dois dos pedidos aconteceram assim que Turner completou 50 anos. “Estava a tentar mostrar-lhe o meu compromisso. Acho que quando uma mulher chega aos 50, deve ter a dedicação do seu companheiro. Eu queria mostrar-lhe isso e ajoelhei-me. Nunca fiz isso em toda a minha vida, nunca casei. Já tinha o anel, tinha tudo pronto”, revelou em entrevista a Oprah.
Durante 23 anos, Turner sempre recusou. “Eu achava que não era real. Nunca acreditei, mas não queria dizer-lhe que não porque queria manter-me na relação.”

O grande teste da relação veio depois do casamento — e derrubou de vez o argumento de que Bach estava apenas à procura da fama e do dinheiro. Três semanas após a cerimónia, Turner sofreu um AVC. Um episódio que aconteceu três anos antes de ser diagnosticada com cancro intestinal.
Turner decidiu então optar por tratamentos homeopáticos, isto depois de passar pelos desagradáveis efeitos secundários da quimioterapia. A escolha levou a que a sua saúde piorasse e um dos rins acabou por deixar de funcionar.
“A possível morte foi uma das consequências da minha ignorância. E foi nesse terrível momento de culpa e de autorecriminação que aprendi algo de maravilhoso sobre o Erwin. Ele nunca me repreendeu pelo meu erro”, explicou. “Pelo contrário, foi leal, carinhoso, compreensivo, determinado a ajudar-me a sair desta embrulhada com vida.”
Os médicos recomendaram um transplante, mas as probabilidades de encontrar um dador eram poucas. Foi então que Bach decidiu ser ele próprio a doar um rim à esposa. A cirurgia teve lugar em 2017 e foi bem-sucedida. “Deu-me o dom da vida”, escreveu Turner na altura.
Foi ao lado de Bach que viveu o resto dos seus anos, na casa da Suíça para onde se mudaram, sobretudo depois de a cantora ter abdicado da cidadania norte-americana. “Estava cansada de cantar e tentar fazer todos os outros felizes. Foi tudo o que fiz durante a minha vida.”