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Porto aplaudiu de pé canções de César Mourão com participações especiais

Artista apresentou o seu primeiro álbum numa Super Bock Arena quase cheia. A NiP acompanhou os bastidores.
Um espetáculo completo.

Miúdos a correr para gaivotas e pombos, adolescentes às gargalhadas e idosos sentados nos bancos de jardim a ler o jornal enquanto aproveitam os ainda tímidos raios de sol de primavera e as temperaturas amenas que começam a sentir-se. Era assim o cenário dos Jardins do Palácio de Cristal na tarde desta sexta-feira, 28 de abril. Em contraponto, o ambiente dentro da Super Bock Arena, mesmo ali ao fundo, era um pouco diferente.

Junto às portas de acesso ao recinto a azáfama era um pouco diferente, o que até deixava alguns estrangeiros curiosos. Para quem não sabe, passamos a explicar: nessa mesma noite era o concerto de César Mourão. Mais conhecido como humorista, ator ou apresentador de televisão, apresenta agora o primeiro álbum musical e esta foi também a primeira apresentação desse trabalho no Porto. A New in Porto acompanhou os bastidores.

Faltavam poucos minutos para as 18 horas e no interior da sala já soavam instrumentos a afinar. De um lado para o outro havia um corrupio de técnicos de som, de luz e, claro, músicos. Em cima do palco e com um aspeto descontraído, César Mourão pedia mais luz para ver as partituras enquanto Miguel Araújo, um dos convidados da noite, falava com elementos do staff.

Ao longo de vários minutos vão sendo afinados detalhes e dadas indicações para subir ou baixar o som de determinados instrumentos ou microfones, conforme o necessário. Tudo para que o trabalho fique o mais perfeito possível e possa chegar nas melhores condições ao público mais logo.

Já totalmente preparado está o cenário, onde as cadeiras habitualmente simples dos músicos foram substituídas por bancos semelhantes aos de autocarros antigos ou elétricos. Do teto pendem ainda fitas com apoios iguais aos usados nos autocarros para que quem viaja de pé possa segurar-se. Tudo dentro do imaginário da história contada no álbum e em específico na música “Talvez Não seja Nada”.

Eram cerca das 18h15 quando Miguel Araújo subiu ao palco para ensaiarem juntos a sua participação no espetáculo. Atrás, no ecrã, vão passando imagens que serão incluídas também no concerto. Seguem-se alguns ajustes de som e instrumentos, enquanto César Mourão vai passeando pelo palco.

Faltavam sete minutos para as 19 horas quando chegou a vez de repassar os detalhes com Juliana Anjo, cantora madeirense que ficou conhecida pela participação no programa “Ídolos” e que integrou os dois espetáculos — a 15 de abril em Lisboa e este no Porto. Dez minutos chegam para limar este momento, seguindo-se o resto do ensaio.

Depois de mais alguns ajustes e de César Mourão simular as primeiras palavras de “Porto Sentido”, de Rui Veloso, ensaiam a entrada dos músicos. Tudo é estudado para bater certo com as medidas do palco e para que nada falhe neste que será o primeiro contacto com o público esta noite.

Faltam poucos minutos para as 20 horas quando decidem que está na hora de descansar um pouco e prepararem-se para o grande espetáculo. É nesse momento que César Mourão aproveita para falar com a New in Porto sobre este primeiro álbum de originais, “Talvez Não Seja Nada”.

“Gosto que tenha dito primeiro trabalho porque pressupõe que haja um segundo, coisa que não sei se haverá porque não é essa a preocupação, não é esse o foco”, começa por dizer. “O que as pessoas podem esperar é a minha visão das coisas que vejo, é um bocadinho como o meu humor, não me considero humorista porque não sou humorista na essência, sou humorista na visão, olho para as coisas com um filtro humorístico mas é muito do quotidiano. É o meu lado de filtro humorístico olhando para essas pessoas e deu origem a canções, mas podia ter dado origem a um livro, uma série, uma telenovela, foi assim em formato de canções.”

O artista afirma-se “obcecado pela versatilidade” e por isso é que podemos vê-lo ao longo dos anos em diferentes vertentes, do humor à representação, a que se junta agora a música. Ainda assim, garante que procura o rigor e preocupa-se com todos os detalhes que envolvem o espetáculo, desde a logística à banda, sem esquecer pormenores como o cenário ou os vídeos.

Lançado a 6 de abril, “Talvez Não Seja Nada” tem vindo a conquistar o público. “O feedback tem sido muito bom. Se era aquilo que esperava ou não, não tinha muitas expectativas, não ponho muita expectativa nas coisas que faço, vou fazendo.”

Olhando para a cidade do Porto e para a forma como por cá é recebido, César Mourão só tem elogios para o público portuense. O artista aproveita até para lembrar que sempre que pode traz cá os seus trabalhos e até foca alguns deles na cidade para fugir ao cliché da capital.

“Lisboa é a minha cidade mas, perdoem-me os lisboetas, o Porto tem tradição de ser mais caloroso no aplauso, mais envolvente. Isso tem coisas boas e coisas más, o Porto também não ache que é o maior, calma. [risos] O público do Porto é realmente muito caloroso, vem sem julgar muito, em Lisboa não é tanto assim.”

Embora este seja um espetáculo que leva o seu nome, defende que gosta sempre de dividir o palco e que se sente melhor dessa forma. “Honestamente, quando subo ao palco não tenho esse peso de ‘ah, agora é o César Mourão’, é um espetáculo”, garante.

Quanto ao futuro, diz que dele o público pode esperar tudo porque não gosta de fazer a mesma coisa durante muito tempo. Vai dia a dia. Para o espetáculo de apresentação do álbum, estão já a ser estudadas algumas datas para que possa chegar a outros locais do País além de Porto e Lisboa.

“Podem esperar de mim outras surpresas, muito trabalho, muito rigor em tudo o que tento fazer, isso podem esperar. Não sei se podem esperar um segundo álbum, outra série onde escrevo, onde crio, onde sou protagonista, não faço ideia porque não sei responder àquela pergunta clássica de ‘onde é que me vejo daqui a um ano e meio’, não faço ideia.”

Do futuro não sabemos, mas podemos regressar à noite de 28 de abril, quando pelas 20h54 o público ia ainda timidamente preenchendo as cadeiras da Super Bock Arena. No palco, os técnicos fazem os últimos ajustes e alguns minutos depois colocam parte dos instrumentos nos seus sítios. À hora marcada para o início do espetáculo, 21h30, ainda o público entrava a bom ritmo na sala, o que se percebe para uma noite de sexta-feira, onde muitos terão trabalhado até mais tarde.

Pelas 21h37, Miguel Araújo espreita a plateia pela lateral da sala antes de ocupar um lugar mesmo na fila da frente. Faltava um quarto de hora para as 22 horas quando as luzes da sala se apagaram para dar lugar a algum burburinho do público. Depois de um aplauso nervoso, começa a ouvir-se o som típico de um autocarro a chegar e o público aplaude com mais vigor, na expectativa do que aí vem.

Entram então os músicos com a espécie de coreografia que vimos ensaiar ao final da tarde — sem dar grandes detalhes para não fazer spoiler a quem possa ir aos próximos espetáculos. Começa a música e César Mourão entra pelo centro do palco, sentando-se num dos bancos de autocarro ali colocados. O público aplaude e começa aos poucos a trautear a música, cuja letra vai passando no topo do ecrã colocado no fundo do palco.

“Esta é a parte em que estou como um peixinho na água: a converseta”, diz o artista depois de duas músicas, ao saudar o público portuense, que ri da tirada. César aproveita para explicar que as músicas do álbum foram escritas enquanto percorria o País com o seu programa “Terra Nossa”, elogiando também o Porto.

A descontração que os fãs se habituaram a ver no artista é ainda mais notória quando se engana no início de “Odete” e recomeça, rindo de si mesmo com naturalidade. Pouco depois, entra em palco Juliana Anjo para um dueto de uma canção dedicada aos avós do próprio César Mourão, enquanto Miguel Araújo deixa a plateia e dirige-se aos bastidores para preparar a sua participação.

Entre uma música e outra, as luzes apagam-se, ouve-se o barulho de uma forte chuva com direito a trovões e relâmpagos e, quando finalmente as luzes reacendem, juntou-se à banda Araújo, que toca baixo sem que a maioria do público note esta adição. César Mourão pede a colaboração do público para o refrão e lança a picardia: “Em Lisboa foi melhor”. O público responde com mais vigor.

No final da música, o também humorista aproveita para sublinhar a presença de Miguel Araújo, que recebe uma calorosa ovação do público e faz um pequeno solo enquanto o amigo dança ao som da música. Os dois aproveitam para confidenciar ao público a história que deu origem ao tema “Alice”, o único do álbum que é assinado pelo próprio músico portuense.

Depois da saída de Miguel Araújo, que regressou ao seu lugar na plateia, o espetáculo continua com mais músicas e conta até com a participação especial de um quarteto de cordas acompanhado por João Salcedo no piano de cauda. Num ritmo que alterna entre o suave e o mais animado, com a banda completa ou sozinho em palco, o concerto inclui até temas conhecidos da música brasileira e um momento dedicado a Rui Veloso e Carlos Tê que o público acompanhou com as luzes dos telemóveis.

O espetáculo durou exatamente duas horas e terminou com todos os artistas em palco, a agradecer, com o público a ovacioná-los de pé durante mais de dois minutos. Antes, houve ainda espaço para a frase de César Mourão que resume a noite: “Sabia que ia saber melhor o Porto do que Lisboa. E foi”.

Carregue na galeria para ver algumas imagens dos bastidores e do concerto.

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