Não é novidade que os papéis femininos são marcantes nas obras de Shakespeare. Embora relegadas para segundo plano, por contingências certamente mais sociais do que dramatúrgicas, o autor inglês mostra sempre, apesar de tudo, de que maneira influenciam de forma decisiva as decisões dos homens, que se assumem como centro de decisão e poder.
Recorrendo a uma única atriz em cena, Emília Silvestre, que se apresenta como espírito do feminino, convocando assim diversas personagens e personalidades, a peça procura analisar a questão da presença da mulher no âmbito da dramaturgia shakespiriana e, simultaneamente, refletir sobre a questão do feminino que determina a relização do projeto. “A obra remete para uma altura onde as mulheres não podiam ser atrizes e leva-nos a refletir a evolução e própria revolução, do papel da mulher comparado com o homem. É uma peça curiosa e que foi especialmente desafiante, pois também reflete a importância da mulher nos dias de hoje e essa busca pelo equilíbrio entre os dois géneros”, conta a atriz à New in Porto.
A obra recorre na Ilha Próspero, onde o espírito do feminino tenta educar Miranda, que se vê obrigada a ler a personagem da mulher noutras peças de Shakespeare, com uma certa perspetiva masculina, para descobrir o seu verdadeiro papel na sociedade. Não se trata de impor uma certa perspetiva sobre o papel da mulher, mas refletir e questionar o porquê de muitas situações.
“É uma relutância da importância do papel da mulher, da sua opinião sobre o mundo e como, por vezes, os nossos sentimentos podem ser desvalorizados. São muitas coisas a serem faladas, como eram as mulheres, como estamos hoje, porque são representadas dessa forma nas obras de Shakespeare e o porquê de sempre acabarem mortas nessas obras”, acrescenta a atriz.
Emília Silvestre conta com uma vasta experiência em interpretar personagens femininas do escritor inglês mas confessa ter sido um desafio representar a Miranda, que ao longo da peça descobre por si própria um sem fim de personagens e personalidades e leva até ao público uma nova forma de pensar, de imaginar as coisas. Embora decorra nas situações da época, de há 1600 anos, estas e outras questões, serão respondidas na peça, através de um olhar jovem atual que permite analisar qual o papel da mulher e o que ainda é preciso mudar.
O Ensemble — Sociedade de Actores apresenta “Mulheres de Shakespeare”, da autoria de Fátima Vieira e Matilde Real, encenação de Carlos Pimenta, com a atriz Emília Silvestre e a cantora Sofía Fernandes. Os bilhetes da peça que estreia no dia 21 de setembro, pelas 21h30, na Casa das Artes de Famalicão, até dia 23 de setembro, já estão à venda.
Seguirá para o Teatro Helena Sá e Costa, no Porto, de 11 a 14 de outubro, seguindo para o Festival de Teatro de Viana do Castelo, a 18 de novembro. A última exibição do ano acontece a 6 de dezembro, no Teatro Municipal de Bragança. No próximo ano, entre os dias 11 e 14 de julho, a peça estará em exibição no Teatro Municipal São Luiz em Lisboa, e ainda há locais e datas a anunciar.