Antes do fim de semana prolongado devido aos feriados, muitos pais foram avisados pelas creches e escolas para que estivessem atentos à pele dos miúdos nos dias seguintes. O motivo: a multiplicação de casos de varicela. O aumento de casos nos últimos dias em Portugal deixaram a comunidade escolar atenta. Porém, os especialistas afirmam que, pelo menos para já, não são motivo de alarme.
Segundo um dos emails enviados por uma escola de Lisboa a que a NiT teve acesso, foram identificados cerca de 30 casos da doença nas últimas semanas. Uma tendência que também se tem verificado noutros estabelecimentos de ensino pelo País.
Sara Aguilar, pediatra na CUF Sintra contou à NiT, a título de exemplo, que esta terça-feira, “numa manhã com 20 pacientes, oito foram diagnosticados com a doença“. E acrescentou: “nesta altura do ano é muito comum. O vírus da Herpes Zoster, que na sua primeira infeção manifesta-se como varicela, propaga-se mais facilmente na primavera e nos meses de calor”.
“Não há razão para alarme, mas os pais devem estar atentos”
A varicela é uma doença contagiosa de origem viral que afeta, sobretudo, os miúdos. O sintoma mais típico são as erupções avermelhadas na pele, as famosas pintas — como os miúdos as identificam —, que se surgem todo o corpo. São muito características, porque formam bolhas com líquido, que depois secam e ganham crosta. Causam comichão e, muitas vezes, febre e mal-estar generalizado.
Na maioria dos casos trata-se de uma doença benigna, especialmente quando surge nos primeiros anos de vida. Em regra, só se contrai varicela uma vez na vida, porém o vírus pode voltar a manifestar-se na idade adulta sobre a forma da conhecida Zona.
Para Sara Aguilar “não existe motivo para alarme, mas é uma doença altamente contagiosa. Propaga-se por via respiratória, ou, menos comum, por contacto com as erupções da pele”. Uma das maiores preocupações é o facto de as borbulhas poderem infetar, sobretudo em crianças com peles mais sensíveis. “Em casos mais graves a varicela pode levar uma pneumonia ou ataxia que se identifica pela impossibilidade de coordenar os movimentos voluntários estando conservada a força muscular e a vontade de os executar. Mas são raros”, esclarece a pediatra.
Como se trata?
O tratamento visa essencialmente o alívio dos sintomas e compreende um anti-histamínico (para aliviar a comichão) e paracetamol para a febre. Depois, segundo a pediatra e autora do blogue “Bêábá da Pediatria” as crianças devem ficar em casa durante sete dias e evitando o contacto com a família alargada, para prevenir a infeção de populações mais frágeis — nomeadamente grávidas e pessoas com algum tipo de imunodepressão como doenças oncológicas.
A vacinação também é possível, porém, como é uma doença que afeta normalmente os miúdos em idade pré-escolar, não é aconselhada a sua toma antes dos sete anos. No entanto, no caso de adolescentes e adultas que tencionem engravidar e que nunca tenham tido manifestações da doença, alguns médicos recomendam a inoculação. Este conselho é motivado pelo perigo que o vírus pode significar para os fetos. “Primeiro deve ser feita uma análise para perceber se realmente não existe imunidade ao vírus”, explica a médica, acrescentando: “porque há casos em que as manifestações da doença são muito leves e não se apercebem que tiveram varicela”.
A Organização Mundial da Saúde defende que a vacina contra a varicela só é útil na infância se fizer parte do Programa Nacional de Vacinação e for dada a entre 85 e 90 por cento das crianças. Como em Portugal não está incluída no plano de inoculações, administrá-la só a algumas pessoas tem riscos: pode alterar a epidemiologia da varicela no País e causar surtos da doença, que podem ser mais perigosos para as crianças.