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Afinal, polémica estátua de Camilo Castelo Branco fica onde está. “Foi uma doação”

Petição exigia remoção da figura do escritor com aquela que muitos acreditam ser Ana Plácido. Rui Moreira, autarca do Porto, recusou.
Está no local desde 2012.

Há mais de uma década que a estátua Amores de Camilo está exposta na baixa portuense, junto ao Centro Português de Fotografia. Nela, Camilo surge vestido, abraçado a uma mulher nua — uma figura que recorrentemente tem sido confundida com Ana Plácido, a mulher com quem viveu parte da vida, após ambos estarem presos.

Aquela que é para muitos portuenses uma obra de arte, é para tantos outros um sinal de vergonha no Largo Amor de Perdição. Pelo menos, é isso que revela uma petição assinada por mais de três dezenas de pessoas e entregue ao presidente da autarquia, Rui Moreira.

Apesar de ter inicialmente aceitado a exigência, parece que o autarca — que garantiu agir por “decisão própria” — recuou. A escultura, que classificou como “feia e de mau gosto” vai continuar onde está, por se tratar de uma doação.

“Ao contrário da informação que estava na posse do presidente da câmara do Porto, a doação previa também a colocação da estrutura no Largo Amor de Perdição, doação essa que tinha sido aprovada pelo executivo municipal em 2012”, pode ler-se numa nota citada pelo “Público”.

“Neste contexto, não pode o presidente da Câmara anuir, sem mais, ao que foi solicitado pelo abaixo-assinado, que é do conhecimento do público”, continua. “Naturalmente, isso não impede que, futuramente, e em qualquer momento, o assunto possa a vir ser suscitado no mesmo órgão municipal.”

Entretanto, os portuenses uniram-se e há já um grupo que se move em sentido contrário. Em poucas horas, surgiu na Internet uma petição “pela não remoção da estátua de Camilo” e que, à hora de publicação desta notícia, já somava mais de seis mil signatários.

“O Homem estar vestido e a Mulher estar nua, não tem que parecer, só agora, ao fim de 11 anos, que se trata de uma humilhação da Mulher desnuda em favor de um Homem vestido?. Não pareceu na altura, não parece hoje”, pode ler-se no texto de autor desconhecido, que acompanha a petição.

Feita por Francisco Simões, pretende homenagear as várias figuras femininas que pautam a obra do histórico autor português. Os reacionários acusam a figura feminina à qual Camilo está abraçado de “exemplar mais ou menos pornográfico” e é uma menorização da figura de Ana Plácido.

No entanto, o autor nega e reafirma que sempre fez questão de revelar o sentido da obra. Que a figura não é Ana Plácido, mas uma “mulher simbólica” que “representa a mulher na obra de Camilo”.

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