Aos 16 anos, Salvador Mendes de Almeida teve um acidente de mota. Seguiu-se um longo período em que foi permanentemente sujeito a exames médicos, hospitais e intervenções cirúrgicas. Porém, a lesão medular na C-3 e C-4 fez com que recebesse o pior diagnóstico: ficaria tetraplégico.
“Com o passar do tempo, interrogava-me como é que era possível um jovem de 16 anos, que praticava jet ski quase todos os fins de semana, jogava rugby, futebol e fazia equitação todos os dias, ficar dependente de outros para quase todas as ações do dia a dia. Como conseguiria aceitar a condição de tetraplégico?”, começa por contar à NiP, Salvador, fundador da Associação Salvador, que atua na área de deficiência motora.
Agora, com 42 anos, Salvador admite que só conseguiu manter a esperança graças à sua família e aos seus amigos, que até hoje, continuam a acompanhar todos os momentos da sua vida. À medida que constatava a realidade da sua situação de dependência física absoluta, começou a pensar qual o rumo que iria dar à sua vida. Empenhou-se na fisioterapia, o que lhe permitiu ter o controle de movimentos do pescoço e algum movimento nos braços, o que hoje lhe permite ter total autonomia da utilização do telemóvel.
Decidiu continuar com os seus estudos, tendo-se formado em Marketing e, em 2003, criou a Associação Salvador, com a missão de promover a integração das pessoas com deficiência motora na sociedade e melhorar a sua qualidade de vida. Nesse sentido, cinco amigos vão juntar-se para fazer mais uma viagem de mota mas, desta vez, com o objetivo de angariar donativos a favor da associação.
A primeira viagem acontece já no próximo 1 dia de junho e será a famosa “Expedição Nordkapp”. Ao todo, são 15 países e 13 mil quilómetros, com a missão de angariar, pelo menos 1€, por cada quilómetro percorrido. Fábio, Jorge, Pedro, André e Raphael são amigos de longa data e, de dois em dois anos, juntam-se para fazer uma grande aventura sobre duas rodas. Há dois anos, na viagem do Porto até Guiné-Bissau, decidiram que estava na hora de juntar o útil ao agradável.
“Juntos ou separados, todos os membros do grupo têm feito grandes viagens de mota, seja a volta à Europa, até Moçambique, e outros tantos destinos e aventuras. Como temos tido alguma visibilidade, acabámos por chegar até à Associação Salvador. Quisemos aproveitar a nossa visibilidade para promover esta causa, a verdade é que neste mundo motociclista há muitos acidentes que acabam nesta situação, ou pior. É uma forma de sensibilização para a condução”, explica à NiP, Fábio Queirós, um dos aventureiros.
Com 33 anos, Fábio, engenheiro informático, é apaixonado pelas emoções das viagens de mota e pela liberdade que estas lhe proporcionam. Graças à sua profissão, o jovem tem viajado para vários lugares distantes. No entanto, as aventuras de mota são a sua verdadeira paixão.
“Para mim, as viagens de moto não são apenas sobre chegar a um destino, mas sim sobre a jornada em si. Na última viagem à Guiné-Bissau há dois anos, encontrei-me com um miúdo que ficou impressionado com as nossas motas. Numa queda, tinha partido os meus óculos e estava a tentar comprar uns novos. Quando ele se apercebeu, não me deixou pagá-los, ofereceu-me os óculos porque disse que eu estava a cumprir o grande sonho dele: percorrer o mundo de mota. São estas histórias, ao longo do caminho, que fazem a viagem em si”, admite.
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Foi na viagem à Guiné que Fábio conheceu Jorge Baltazar, osteopata natural de Torres Vedras, que afirma que andar de mota é mais do que uma paixão, mas antes uma forma de viver a liberdade na estrada, onde cada curva é uma nova aventura e cada quilómetro percorrido é uma história para contar.
“Foi na viagem à Guiné que conheci estes quatro amigos que se tornaram parte da minha família de estrada. Entre 15 aventureiros, foram estes quatro que me desafiaram para esta aventura épica: viajar até ao Cabo Norte na Noruega. Poucos se aventuram nesse trajeto mas, para nós, a estrada é um convite irrecusável. Sou apaixonado pela minha profissão, por ajudar alguém a encontrar equilíbrio e bem-estar. No entanto, cada viagem de mota é a minha própria jornada pessoal de descoberta”, comenta Jorge.
Pedro Martins também faz parte do grupo. Natural do Porto e formado em Engenharia de Gestão Industrial, considera-se um aventureiro apaixonado por explorar o mundo sobre rodas, principalmente em duas. Apesar do maior desafio ser conciliar estas aventuras com as suas responsabilidades familiares e profissionais, confessa que andar de mota é uma fonte de prazer e liberdade “incomparáveis”.
“Após algumas viagens de mota pelo continente africano, como o The Offtrack Africa Challenge, em 2019, e o Parlatório Africa Challenge em 2022, o objetivo é encontrar um desafio pelo velho continente, que me proporcione desafios tão memoráveis quanto os anteriores. As descobertas, as paisagens deslumbrantes e os momentos sobre duas rodas, é o que fazem a viagem. Criar memórias. Acho que a expedição a Nordkapp é uma delas”, confessa.
André Matos também se juntou a esta nova aventura. Com 45 anos, admite ser motociclista desde que conseguiu equilibrar-se em duas rodas. Natural de Trás-os-Montes, foi lá onde aprendeu a conduzir a sua primeira moto Zundapp, de quatro velocidades. Com residência permanente no Porto há alguns anos, lembra-se que quando era mais novo não tinha recursos financeiros para ter uma moto.
“Sou palestrante e treinador de bem-estar, o que me permite viajar bastante por vários continentes. A minha presença nas redes sociais e as palestras que faço em Portugal e um pouco por todo o mundo permitiram-me sentir a brisa no rosto e partilhar a perspetiva de viajar de moto. Esta nova viagem é mais uma oportunidade de continuar a descoberta do mundo, levando no coração todos os que me apoiam”, conta.
Raphael Alvim é o último membro do grupo, natural do Brasil, mas a morar no Porto há cerca de sete anos. Foi em Portugal que o jovem de 39 anos viu a base para fazer longas aventuras sobre duas rodas. É filho de um motociclista, por isso, a sua relação com as motos é longa.
“Uma das experiências mais incríveis da minha vida foi acampar no deserto do Saara durante a viagem à Guiné. Agora, a minha jornada como motociclista continua com a Nordkapp. Será uma jornada épica rumo ao extremo norte da Europa, somos cinco amigos que decidiram embarcar nesta aventura com uma duração aproximada de 30 dias. Vamos cruzar fronteiras e passar por 15 países diferentes, explorar as paisagens, culturas, gastronomias e geografias. Vamos criar memórias que durarão para sempre e, no regresso a Portugal, voltaremos com corações cheios de gratidão e mentes repletas de memórias inesquecíveis”, conclui.
Esta é a primeira viagem do grupo de amigos com cariz solidário, sendo que as doações deverão ser efetuadas diretamente para a Associação Salvador, através do telemóvel 927 639 010 (MB Way), pelo IBAN PT50 0007 0000 0003 0526 6772 3 ou online. No site da Associação existirá um separador onde poderá acompanhar as doações que vão sendo feitas, produto desta viagem.
“Nenhuma dificuldade pode ser maior do que a vontade de nos aproximarmos desta causa. E nenhuma dificuldade pode ser mais forte do que a força de todos aqueles que se quiserem juntar a esta iniciativa. Somos apaixonados pelo desafio da estrada, mas acreditamos nos valores verdadeiros da partilha, do respeito, da ética e da cidadania. Acreditamos numa estrada segura. E acreditamos que, através da estrada, podemos ajudar todos aqueles que já não podem circular como nós, apoiando a missão fantástica da Associação Salvador. Lançamos, por isso, o apelo a todos os interessados, amigos, anónimos ou mesmo empresas, que se associem a esta causa e possam ajudar as pessoas com mobilidade reduzida”, reforçam os cinco amigos.
Poderá ainda acompanhar esta aventura até ao Cabo Norte nas redes sociais do grupo. Carregue na galeria para conhecer aos membros e alguns viagens mais marcantes.
