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Estivemos a bordo do Comboio Presidencial (e contamos-lhe tudo)

O projeto turístico desenvolvido pela CP, o Museu Nacional Ferroviário e o chef Chakall volta à Linha do Douro em março de 2024.
Uma experiência única.

Trata-se de um meio de transporte que remonta ao Comboio Real de 1890. Atravessou a monarquia, a primeira República e o Estado Novo. Apesar de ter assumido diferentes configurações ao longo dos anos, a sua função principal era transportar os chefes de estado. Reis, rainhas, papas e presidentes já passaram por este icónico comboio português, que fez o seu último serviço oficial nos anos 70 do século XX, mesmo antes do 25 de Abril.

A passada quarta-feira, 15 de novembro, parecia ser uma manhã normal e chuvosa no Porto. No interior da estação de São Bento, centenas de pessoas deslocavam-se para o trabalho, enquanto grupos de turistas observavam os famosos azulejos que cobrem as paredes interiores do edifício. No meio desse cenário, surgiu uma presença pouco habitual: o Comboio Presidencial.

Perto das 10h40, um grupo de cerca de 60 passageiros estava prestes a entrar naquela que seria a primeira viagem de regresso — e de apresentação — deste novo projeto turístico, da responsabilidade da CP, do Museu Nacional Ferroviário e do chef argentino, Chakall. Esta nova experiência imersiva que junta história, gastronomia, vinhos e a incrível paisagem do Douro, tem um custo de 750€ por pessoa e foi apresentada oficialmente na passada semana.

“É uma junção de diferentes áreas, mas de uma forma mais democratizada, com maior envolvimento da região. O que existia, a experiência anterior, não tinha um envolvimento tão grande. Havia um acordo com uma quinta, nós temos um acordo com dez quintas. Além disso, os melhores restaurantes da zona também vão juntar-se para enriquecerem o projeto. Aliado a isso, temos a paisagem do Douro, que é Património Mundial da UNESCO”, explica à New in Porto, Pedro Moreira, presidente da CP.

O comboio é formado por seis carruagens antigas, cada uma delas num azul imaculado. Antigamente, uma carruagem era dedicada ao chefe de estado, outra aos ministros, outra para a comitiva de segurança, existindo ainda o restaurante e a carruagem dos jornalistas. Atualmente, continua a manter-se a carruagem presidencial, com camarotes com cama e casa de banho incluídas. As outras carruagens foram adaptadas para uma sala de estar e área de restaurante e a última conta com mais camarotes, com um sofá de cada lado, com capacidade para seis pessoas.

A decoração presente no comboio, sobretudo na sala de estar e no restaurante, vem reforçar esse carácter histórico, elegante e luxuoso que o Comboio Presidencial já tem. Com tonalidades da bandeira nacional, misturados com tons dourados, poderá apreciar a vista, enquanto desfruta de uma oferta gastronómica pensada ao pormenor nuns cadeirões elegantes e intemporais. As mesas têm capacidade para quatro passageiros, sendo amplamente generosas e permitindo a fácil circulação entre todos.

Uma vez iniciada a viagem, fomos surpreendidos com uma mini francesinha com assinatura do chef Chakall, acompanhada por um copo de vinho do Porto. Já na mesa, o chef idealizou com a sua equipa um menu que inclui vários momentos à mesa. Entre as entradas poderá degustar sopa de castanhas com pato confitado, croquetes de polvo e lombo de vaca e tártaro de vitela à mirandesa. Já nos pratos principais, os destaques vão para o cabrito à padeiro, alheira com beterraba e vinho do Porto sobre broa e migas de tomate com tempura de polvo. Nas sobremesas, poderá provar cavaca com laranja, cacau com mel, amêndoa e amendoim e gelado de vinho do Porto.

O chef Chakall aceitou o desafio de criar um menu que repressentasse “o bom da região”, considerando ter sido uma tarefa “fácil”. “O menu grande vai ser definido por mim e pela minha equipa, mas o prato principal será sempre de um cozinheiro ou de uma cozinheira que não tem o reconhecimento que merece”, revelou o chef.

Ao longo da viagem, Chakall apresentou diversos exemplos do fornecimento local, como é o caso do pão e do presunto, que foram entregues às mãos do chef, numa rápida paragem que o comboio pretende fazer no Peso da Régua. Desta forma, com o objetivo de incluir as pessoas da região, o chef teve a preocupação de contactar com cozinheiros e cozinheiras que “não têm o destaque e conhecimento que merecem” para recriarem pratos principais típicos da zona. Para acompanhar estes pratos, vão estar presentes dez quintas do Douro, sendo que para cada viagem será escolhida uma quinta com o seu enólogo, onde serão explicadas as harmonizações feitas.

Por se tratar de uma experiência imersiva a bordo de um verdadeiro museu sobre carris, cada viagem será enriquecida com narrativas sobre o comboio e o Douro, tecendo um conjunto de histórias que conectam os passageiros não só com a região, mas com a essência do que é ser do Douro. Esta experiência narrativa garante que cada passageiro leve consigo uma parte do Douro, não apenas nas memórias mas no coração.

Manuel Cabral, presidente da Fundação do Museu Nacional Ferroviário, refere que o comboio deve ser uma espécie de “museu vivo” e de “museu fora do museu”. O objetivo é que o comboio seja “um instrumento não apenas de turismo, mas de território e da economia do território, não servindo apenas para as pessoas olharem, mas sim para as pessoas viverem”. 

Prevê-se que a primeira viagem a bordo do Comboio Presidencial arranque no último fim de semana de março de 2024. No entanto, a CP está a alinhar os pormenores com as agências. Ao todo vão ser dez fins de semana de percurso, num total de 20 viagens com saída às 10h30 do Porto, desde a estação de São Bento com destino a Pocinho, em Vila Nova de Foz Côa, regressando novamente à estação portuense, pelas 20 horas. 

O comboio tem capacidade para 72 lugares, que pode vir a ser ajustada de acordo com as reservas efetuadas e o tipo de ocupantes, como famílias, amigos ou empresas, como explicou Pedro Moreira, presidente da CP. O bilhete para a experiência custa 750€ e poderá ser reservado através do site da CP ou das agências de viagens envolvidas, que podem vir a incluir o produto em pacotes mais abrangentes envolvendo a região.

Recorde-se que este mesmo comboio tinha vindo a ser dinamizado pelo empresário Gonçalo Castel-Branco, com o projeto The Presidencial, tendo feito a última viagem em outubro de 2022. O restauro e a manutenção efetuadas no comboio permitem que anualmente faça até oito mil quilómetros, regressando novamente à sua exposição estática no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento, onde poderá visitá-lo, por 6€. Os miúdos e maiores de 65 anos têm desconto no bilhete.

De seguida, carregue na galeria para conhecer com mais pormenor o Comboio Presidencial e parte da experiência da New in Porto.

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