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Falar do que (ainda) não se fala. Porto recebe a primeira edição do Festival do Luto

O evento inédito acontece a 24 de maio ao longo de todo o dia, com mais de dez atividades. A entrada é gratuita.
Um evento pioneiro na cidade.

Perder um ente querido é um processo difícil. Afeta as nossas emoções, relações, rotinas e até o descanso. É precisamente por isso que o Porto acolhe um evento inédito. O Festival do Luto acontece a 24 de maio, sábado, e pretende falar sobre a perda sem tabus, numa iniciativa aberta à comunidade e com atividades para todas as idades, de miúdos a adultos.

Este evento é organizado pela Associação Compassio — entidade sem fins lucrativos que desde 2019 se dedica a tornar o Porto “uma cidade mais compassiva, com foco nas pessoas em situação de fragilidade seja por doença, envelhecimento, solidão, isolamento social, morte e luto”, segundo os responsáveis. Esta iniciativa pretende transformar a forma como vivemos e acompanhamos as perdas — não só de pessoas, mas também relações, trabalho, saúde ou sonhos.

“Num tempo marcado por uma profunda iliteracia emocional, este evento surge como uma chamada à ação e um ponto de partida para uma mudança cultural necessária — falar sobre a perda e o luto de uma forma aberta, sem embaraço, oferecer presença e escuta, e criar redes de apoio entre a comunidade“, começa por explicar à NiP, Mariana Abranches Pinto, presidente da Compassio.

O festival tem entrada livre e oferece uma programação diversificada para miúdos, jovens e adultos, estendendo-se por três espaços da zona do Marquês: a Praça do Marquês, a Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e a Paróquia da Nossa Senhora da Conceição.

A grande missão é quebrar os tabus que ainda envolvem o tema e convidar à reflexão oferecendo ferramentas para que aprendamos a estar mais presentes — saber o que dizer, como agir e de que forma acompanhar quem vive a dor da perda.

“O Festival do Luto é um evento aberto a todas as pessoas da comunidade, independentemente das suas crenças religiosas ou vivências pessoais. A nossa proposta é criar um espaço seguro e acolhedor, onde seja possível olhar para o luto de forma ampla — não apenas como resposta à morte de alguém querido, mas também à perda de um animal de estimação, de um relacionamento, de um emprego, da saúde, ou de um projeto de vida”, reforça a responsável.

Ao longo do dia o festival propõe conversas, espaços e momentos de expressão artística e ações de sensibilização que convidam à partilha e escuta sem julgamentos. O destaque desta primeira edição é o movimento de sensibilização para a questão do luto, que pretende reforçar a urgência de alterar comportamentos e de abordar este tema de forma coletiva, como comunidade.

“Vivemos numa sociedade em fuga ao sofrimento, onde a dor é muitas vezes silenciada. Mas não é por evitarmos falar dela que ela deixa de acontecer. O silêncio só acrescenta mais dificuldade. Todos, mais cedo ou mais tarde, enfrentamos perdas e, como tal, precisamos de saber como cuidar e ser cuidados”, acrescenta Mariana.

Nesse sentido, as várias atividades propostas pretendem desmistificar a forma como lidamos com a dor e abrir espaço para que cada pessoa possa explorar o luto de forma mais consciente. 

Com esta iniciativa, a Compassio pretende ainda reforçar o seu compromisso de devolver à cidade uma cultura de proximidade e recolocar a compaixão no centro das relações humanas, especialmente junto de pessoas mais vulneráveis.

Apesar de estarmos mais conectados do que nunca, vivemos num tempo de enorme isolamento e solidão, sobretudo nas grandes cidades, onde há uma carência significativa de vínculos reais. As cidades precisam de reaprender a cuidar e este festival quer relembrar que o luto precisa de amigos e que o cuidado é um ato coletivo que nos envolve a todos”, reforça a presidente da Compassio. 

Pode acompanhar todas as informações relacionadas ao evento nas redes sociais da associação. Espreite a programação completa na lista abaixo.

Atividades na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti 

10 horas — Sessão de abertura.

11h30 — Aula de ioga.

12h15 — Testemunhos de esperança com moderação de Sofia Mexia.

14h30 — Conversa “E se vivêssemos o luto de outra forma?” com Aana Costa, Rui Santiago e Nina Manso, e moderação de Filipe Pinto.

14h30 — Aula de chi kung.

15h30 — Sessão de poesia “Expressão do Luto”.

16h15 — Peça de teatro “Geografia do Desassossego” de Rita Alves. Excecionalmente, esta peça tem um custo de 7€ por bilhete.

Atividades na Praça do Marquês

10h45 — Sessão de expressão de luto “Onde moram as ausências”.

11 horas — Atividade infantil “Caixa da avó Maria” com Leonor Mexia na Biblioteca Popular Pedro Ivo.

12h30 — Arte terapia de expressão do luto.

15 horas — Atividade infantil “Caixa da avó Maria” com Leonor Mexia na Biblioteca Popular Pedro Ivo.

16h15 — Concerto dos Death Café Musical.

Em permanência — Pontos de escuta, memorial, mural “Antes de morrer, eu quero…” e percurso “O silêncio dos pássaros”.

Atividades da Paróquia da Nossa Senhora da Conceição

10h45 — Conversa “Porque é tão difícil falar sobre o luto?” com Cristina Felizardo, Rui Ramos e Inês Brêda.

12h35 — Peça de teatro “Tal como foi o silência (de luto e de luzes)” de Ondjaki.

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