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Palacete Severo: o novo hotel do Porto que também é galeria de arte

A antiga casa do arquiteto Ricardo Severo, também edifício histórico, prepara-se para abrir ao público em setembro como alojamento.
Abre em setembro.

Ricardo Severo era um “homem dos sete instrumentos”. Arquiteto, antropólogo, engenheiro, arqueólogo, escritor e político. “Um homem muito à frente do seu tempo” com uma cultura extraordinária. Nascido em 1869, formou-se na Faculdade de Belas Artes, no Porto, cidade onde acabaria por fazer vários casas e trabalhos.

Por se ter envolvido no movimento revolucionário contra a monarquia portuguesa, foi obrigado a exilar-se no Brasil onde conheceu a mulher, Francisca Dumont. Juntos, regressaram posteriormente a Portugal, numa altura em que o arquiteto tentava encontrar o que seria o protótipo da casa portuguesa.

Foi na rua que hoje leva o seu nome, no Porto, que construiu e desenhou, no início do século XX, um exemplar da chamada casa portuguesa, onde acabaria por viver com a mulher. Agora, 120 anos depois, o imóvel, classificado de interesse histórico, prepara-se para abrir como um “hotel intemporal onde a história, arte e luxo se entrelaçam perfeitamente”. No Palacete Severo, com abertura prevista para dia 10 de setembro, “nenhum detalhe foi deixado ao acaso”. 

“Ele e a mulher não tiveram filhos e encontramos no edifício muitos elementos da mitologia grega e hindu ligados à área da fertilidade, como nos vitrais. Acreditamos que tenha colocado aqui um cunho pessoal”, começa por contar à NiT Joana Almeida, diretora-geral da unidade hoteleira. 

Depois de Ricardo Severo e a mulher, a casa passou ainda para outra família e esteve abandonada durante muito tempo. A ideia de recuperar o edifício chegou com os atuais proprietários, um grupo de franceses que investem em património natural e cultural. Não têm nenhuma relação ao País, mas apaixonaram-se pelo Porto e pelo Douro. “Decidiram fazer uma intervenção neste local precisamente por respeitar o passado, sempre com o maior respeito por aquilo que é a sua história”, explica.

O objetivo, diz, nunca foi deitar abaixo para se fazer algo novo, mas sim restaurar. Os detalhes dos tempos passados e da essência do amor de Ricardo Severo e Francisca Dumont continuam presentes nos tetos adornados de ouro e em cada um dos vitrais.

Das paredes de uma época passada, onde a história se entrelaça com o presente, emerge um edifício restaurado ao seu máximo esplendor pelas mãos do designer de interiores Paulo Lobo, “cujo trabalho é um testemunho da beleza de preservar o património”. 

Apesar de estar devoluto, os mosaicos e tantos outros elementos estavam impecáveis. Ao edifício antigo juntou-.se uma construção nova, onde está instalado o spa e quartos. “A personalização, o serviço dedicado à pessoa que vamos acolher, a gastronomia extraordinária que protege o legado passado, são fundamentais para atingirmos aquilo que nos propomos”, sublinha a diretora-geral.

Com um “luxo informal” e com uma decoração moderna, mas sem “chocar com o ambiente” onde está inserido, a unidade hoteleira é composto por 20 quartos, espalhados pelos dois edifícios, o do Palacete e o do Jardim, como lhes chamam. Os do palacete têm um conceito mais antigo, enquanto os que estão no edifício novo destacam-se pelas cores mais quentes. “As casas de banho são todas supermodernas, algumas até têm chapa escura, mas integram-se perfeitamente com os tetos de madeira ou pintados. Não choca”, explica.

Um dos destaques do projeto é o restaurante Éon, do reconhecido chef Tiago Bonito, que “cria memórias baseadas no legado de gerações, onde a arte gastronómica se cruza com os sabores das tradições e um savoir faire inovador”. O palacete terá ainda um bistrô mediterrâneo, com um conceito mais ligeiro, construído num pátio interior que foi fechado em vidro.

Na construção nova ficará o spa, com salas de tratamento, uma delas uma sala de sal, onde se faz uma “espécie de sauna de sal de baixa temperatura”, e uma piscina exterior salgada e aquecida. A unidade hoteleira contará ainda com duas salas de reunião, uma biblioteca e um jardim enorme para eventos exteriores.

Os investidores são também muito ligados à arte — têm duas grandes galerias em Paris — e o objetivo sempre foi trazer muita arte para dentro do hotel. Não apenas com quadros espalhados pelas paredes, mas com um lugar exclusivamente dedicado a ela. Assim, mais do que um hotel, o Palacete Severo abriga uma galeria de arte. A Perspective Galeria, que abriu ao público no mês de julho, com entrada gratuita, terá várias exposições temporárias.

Atualmente está patente a mostra “Na Natureza, com a Natureza”, com obras de sete artistas (Éléna Salah, Juan Manuel Rodriguez, Lucile Martinez, Luís Troufa, Maria Lino, Martinho Costa e Osias André). Com curadoria de Raquel Guerra, a coleção exalta poeticamente a evolução da nossa relação com o mundo natural e “mistura a beleza da natureza com uma reflexão humana profunda”, envolvida pelo cenário deslumbrante de um edifício histórico. A exposição vai estar disponível até 9 de novembro.

Apesar de estar situado na Avenida da Boavista, no coração do Porto, ali “não se houve nada”, sem ser os pássaros. Parece que se está num sítio completamente isolado da cidade, mas onde é possível ir a pé para qualquer lado. “Quando os proprietários viram o edifício pela primeira vez, o que mais os fascinou foi ser uma casa escondida, rodeada de árvores. Da rua não se vê o hotel”, adianta.

Quanto aos preços da estadia, os valores rondam os 350€ por noite. Todas as informações estão disponíveis online.

Carregue na galeria para ver as primeiras imagens do projeto.

 

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