O Centro de Estudos da Federação Académica do Porto (CEFAP) analisou o impacto da emigração de jovens portugueses qualificados. A NiP teve acesso aos resultados, que revelam que uma alargada maioria dos jovens, pelo menos, 73 por cento dos inscritos no ano letivo 2023/2024 apontava para a certeza ou muito elevada probabilidade de emigrar quando terminasse o curso. Cerca de 25 por cento tinham a decisão tomada e só dez por cento garantem a permanência em Portugal.
O documento ainda reforça que os resultados obtidos não diferem significativamente entre o ciclo de estudos, embora seja mais notória nos estudantes de mestrado. “Esta é uma tendência que se tem verificado ao longo dos anos, por isso o Centro de Estudos da FAP fez este estudo, para termos dados concretos para encarar o problema e encontrar soluções. Estes dados, que confirmam a tendência, foram partilhados com o Governo e partidos políticos de forma a que, juntos, se chegue a um pacto de regime e se comece a pensar na mudança e em como reter o talento no nosso País”, começa por explicar à NiP, Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP.
O mesmo sublinha que esta tendência de saída terá um impacto “muito negativo” em Portugal e na economia, seja pela quantidade total de potenciais saídas, quer pela duração da ausência do País. De acordo com o mesmo estudo, 36 por cento dos estudantes aponta para uma saída de médio prazo, isto é, entre cinco a dez anos. Já 33 por cento pretende sair por um curto período de tempo, inferior a cinco anos. Por fim, 30 por cento espera emigrar por um longo período de tempo, superior a dez anos.
As principais razões são de natureza económica, associadas ao funcionamento do mercado de trabalho e da economia do País em geral. Assim, a melhoria das condições salariais, de vida e a possibilidade de encontrar melhores oportunidades profissionais e de carreira, lideram os principais motivos para uma saída. Entre os principais destinos destacam-se países já com uma tendência (e tradição) em receber emigrantes portugueses, como o Reino Unido, a Suíça, os Países Baixos, Alemanha e Luxemburgo.
Com base neste estudo, Portugal pode ter uma perda orçamental líquida de quase 2,1 mil milhões de euros, por ano, com a emigração de jovens qualificados. “A elevada saída de jovens qualificados implica uma redução da capacidade produtiva e de geração de rendimento, o que acarreta consequências negativas para o crescimento económico. O facto de mais de metade dos estudantes querer emigrar vai gerar um País mais pobre, menos inovador, mais envelhecido e com grandes dificuldades ao nível das contas públicas”, defende o presidente da FAP, que acrescenta: “O impacto irá notar-se a nível demográfico com o envelhecimento da população que acentuará o impacto negativo nos domínios da inovação e do empreendedorismo e poderá levantar problemas adicionais à sustentabilidade da Segurança Social”.

O mesmo estudo explica que, caso todos os estudantes inscritos no Ensino Superior em 2023/2024, perto de 400 mil, permanecessem em Portugal ao longo da sua vida ativa, produziriam cerca de 411 mil milhões de euros em receitas fiscais e custariam ao Estado cerca de 64 mil milhões de euros em despesa pública. Pelo contrário, a emigração de cerca de 320 mil jovens (os tais 73 por cento que consideram provável emigrar) poderá resultar em perdas líquidas de mais de 95 mil milhões de euros para a economia portuguesa ao longo de 45 anos, isto é, 2,1 mil milhões por ano. Este valor inclui 45 mil milhões em receitas de IRS, sete mil milhões em impostos indiretos e 61 mil milhões em contribuições líquidas para a Segurança Social.
A estimativa conservadora, tendo por base os 25 por cento dos estudantes que afirmaram “(com certeza)” que vão emigrar (perto de 100 mil da atual geração), aponta para um custo orçamental líquido de cerca de 44 milhões de euros, no mesmo período de 45 anos (cerca de mil milhões de euros por ano). “A esta perda haverá que acrescentar outras, não quantificadas, relacionadas com aspetos como a menor capacidade de inovação e empreendedorismo ou as consequências demográficas”, sublinha o estudo.
O estudo foi realizado pelo Centro de Estudos da FAP e coordenado por Paulo Tavares Mota e Rui Henrique Alves, investigadores especialistas da Universidade do Porto. Foi realizado através de um inquérito entre 375 estudantes, inscritos em instituições de Ensino Superior da Academia do Porto, distribuídos em 47 por cento do Ensino Universitário Público, 30 por cento do Ensino Politécnico Público, 16 por cento da Escola Superior de Enfermagem e seis por cento do Ensino Superior Privado.
Entre o total de inquiridos, 72 por cento são do sexo feminino e 26 por cento do sexo masculino. Relativamente à classe social, a maioria dos estudantes provém da chamada classe média. 77 por cento são estudantes, 18 por cento trabalhadores-estudantes, quatro por cento trabalhador e um por cento desempregado. À data da realização do inquérito, já depois do encerramento dos anos letivos em que os estudantes se encontravam inscritos, alguns dos inquiridos já teriam terminado o curso e ingressado no mercado de trabalho. A maioria encontra-se a frequentar cursos de licenciatura (76 por cento). Já 22 por cento frequentam mestrado e dois por cento, doutoramento.