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Saboaria: o novo hotel do Porto vive entre o charme, a paz e os bons aromas

O cinco estrelas é o segundo na cidade com assinatura da Tamal, um projeto de três israelitas que se apaixonaram por Portugal.
Um dos quartos.

São mais de cinco mil anos de história registadas pelas velhas paredes e edifícios de Jerusalém, a terra de origem de Uri Maeir, Hillel Gassenbauer e Amir Madeson. Um passado que, garantem, os faz “valorizar imenso a arquitetura histórica e todas as histórias que ela esconde”.

Mal acabaram o liceu, os três jovens israelitas agarraram nas mochilas e foram conhecer o mundo. Deram por si entre o Algarve e o Alentejo, onde mais do que o calor do tempo, sentiram “o abraço caloroso” dos locais. “Portugal é um país pequeno, como Israel. Sentimos que nos era muito familiar”, conta Maeir à NiT.

O israelita voltou um ano depois, em 2016, para criar raízes naquela que sente ser já a sua cidade, onde encontrou a mulher e onde já cria uma filha. Na companhia dos dois amigos, decidiu que haveria de encontrar aqui um projeto de paixão. E encontrou.

Maeir, Gassenbauer e Madeson são os fundadores da Tamar Hotels, orgulhosos donos de dois espaços na cidade — e com mais a caminho. O mais recente, o Saboaria, mantém a linha que os inspira: é um edifício com história, com personalidade. Um boutique hotel que enfrentou um longo ano de soft opening, mas que desde o início do verão está a trabalhar em pleno.

Ao fim de uma longa busca entre quase uma centena de potenciais locais, esbarraram com as antigas instalações da Saboaria do Bulhão, fundada em 1881. A pequena fábrica nas traseiras unia os dois edifícios virados para a rua do Bonjardim e é este complexo que agora acolhe os 28 quartos do projeto. Uma história visível nos traços decorativos, num cuidado que Maeir pretende garantir em todos os projetos do grupo, ainda que assegure que cada um terá “uma identidade visual única”.

A localização não podia ser mais central, a cinco minutos a pé dos Aliados e a dois da principal estação de metro da cidade, na Trindade. No interior, as quase trinta habitações — todas elas completamente equipadas e independentes — dividem-se pelos três pisos dos dois edifícios.

No interior de cada uma delas, uma área espaçosa e uma decoração que combina traços clássicos com linhas modernas, ainda que repletas de texturas reconfortantes do linho e da terracota, da madeira e da palete de cores entre os sóbrios verdes e os claros beges.

Há poucos quartos iguais, sendo que os 28 dividem-se em sete tipologias e áreas que variam entre os 30 e os 75 metros quadrados. Há uma suite com jacuzzi, outras com terraço, algumas com vista sobre o jardim interior nas traseiras. E é nas traseiras que se esconde o spa — que inclui banho turco e jacuzzi — onde é possível fazer diversos tratamentos.

Quando o tempo não está intratável, nem as baixas temperaturas são impeditivas de dar um salto até à piscina. Nota: está sempre aquecida a uns confortáveis 28 graus.

“Terminámos o liceu por pouco e fomos viajar pelo mundo. Acho que o que nos motivou foi tentar encontrar algo que nos apaixonasse e que nos permitisse ser financeiramente independentes”, conta Maeir sobre a vontade de se lançarem num projeto de hotelaria, mesmo sem qualquer experiência prévia. Como guia de princípios, tinham no topo da lista a preferência por tudo o que é local.

“Queremos que os nossos projetos tenham tudo a ver com o que os rodeia. Com quem colaboramos, sejam as pessoas que fazem os sabões, que decoram o espaço, que trabalham lá diariamente.” Isso é particularmente visível no Saboaria.

É, desde logo, um projeto de recuperação da NN Arquitectura e da NANO que investe na própria história do espaço. E logo numa das áreas da entrada, multiplicam-se os objetos — todos para venda — praticamente todos de fabrico nacional, entre peças vintages, joalharia ou cerâmica.

Houve apenas um único percalço que ainda não está solucionado: o restaurante. Embora o hotel esteja a funcionar em pleno com os pequenos-almoços — um serviço buffet complementado com opções à carta com os mais diversos pratos clássicos de ovos —, o restaurante está, por enquanto, à espera da reabertura.

“Começámos a operar com um parceiro que, por razões pessoais, teve que abandonar. Agora estamos a trabalhar para reabrir, esperamos nós, até ao final do ano”, garante sobre o espaço que se quer que sirva hóspedes e não hóspedes. Com a fase de soft opening definitivamente para trás, o Saboaria está desde o início do verão a receber visitantes, estrangeiros e locais — o preço da estadia começa nos 140€.

Apenas um de muitos projetos

Este não é o primeiro projeto do grupo na cidade. Essa honra coube ao Laranjais que, sem surpresa, é também um espaço com história. “O espaço tem uma história louca, foi tribunal, depois foi local de produção de um jornal cristão, foi casa de uma família nobre. Chegou a ser casa de um ator conhecido”, nota Maeir. Em desenvolvimento está também um livro onde a história é contada. O Laranjais e o Saboaria são apenas as duas primeiras peças.

“Esta nossa paixão pela história e pelas estórias faz com que sintamos que temos que entender o que veio antes. Tentar não chegar a um sítio e a apagar tudo. Sinto que é essa pesquisa que nos permite ter muita da inspiração para o design e para os conceitos. Não há nada mais autêntico do que a história, do que o que aconteceu. Isso não pode ser recriado.”

É com esse espírito que se preparam também para recuperar um velho palacete que pertenceu à realeza em Tentúgal, em Montemor-o-Velho, e que será um projeto mais virado para as artes e cultura. Mas vem também aí uma incursão em Lisboa, com a reabilitação de uma antiga fábrica na zona de Alcântara.

O futuro, contudo, passa sobretudo pelo Porto. Em andamento está a criação de dois hotéis, um na rua da Fábrica, a poucos metros dos Aliados e que terá como ponto alto um rooftop. Nos Guindais, o grupo está também a preparar a abertura de um boutique hotel com 50 quartos no antigo espaço que até à pandemia foi casa do mais famoso clube de jazz da cidade, o Hot Five.

“Vai ser uma homenagem ao autor Arnaldo Gama. Queremos manter também esse conceito da música. Certamente ter, por exemplo, um palco para artistas locais.” Dois projetos que, correndo tudo bem, estarão a funcionar até ao próximo verão.

E o Porto continuará também a ser o coração do grupo e dos seus fundadores. “O potencial aqui é fantástico, mas é também um sítio ao qual já chamamos casa”, confessa Maeir, que assume ver-se a ficar na cidade “a longo prazo”.

A seguir, carregue na galeria para ver mais imagens do Saboaria, o novo boutique hotel do Porto.

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